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JOGO MORTAL
Documentário reacende debate sobre o acesso a armas, também preocupante no Brasil
Medo do gatilho
FERNANDA MENA
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 20 de abril de 1999, dois estudantes saíram de casa às 6h da manhã para jogar uma partida de boliche antes de
ir à escola, na cidade de Littleton, no Colorado (EUA). Depois da aula, a dupla
sacou dois rifles e duas armas semi-automáticas e saiu atirando indiscriminadamente pela lanchonete da escola, por
seus corredores e dentro da biblioteca.
Foram mais de 900 disparos que mataram 12 colegas e um professor. Ao final
do massacre, Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, 17, cometeram suicídio.
Este é o ponto de partida do documentário vencedor do Oscar, "Tiros em Columbine" ("Bowling for Columbine"),
do diretor Michael Moore, que entra em
cartaz no próximo dia 16.
O filme escancara a obsessão norte-americana por armamentos e a facilidade com que armas de fogo e munição podem ser adquiridos legalmente nos Estados Unidos. A partir daí, Moore analisa
como uma sociedade armada e acuada
pela cultura do medo (da violência urbana, dos negros, dos terroristas, dos agentes químicos etc.) reage à combinação
explosiva de imperialismo, consumismo
e exploração da violência na mídia. Os
resultados são, muitas vezes, catastróficos, especialmente quando quem está
por trás da mira é um jovem.
Só em 2001, os EUA computaram
11.127 mortes por armas de fogo.
O número é alto para o chamado primeiro mundo, já que, em países como o
Canadá, a Inglaterra e o Japão, a mesma
soma tem resultado menor que cem.
No Brasil, no entanto, o mesmo número é mais de três vezes maior: só em 2000,
segundo o Ministério da Saúde, 34.755
pessoas morreram em homicídios cometidos com armas de fogo.
Pelo histórico de crimes recentes do
país, um jovem brasileiro não teme apenas os impulsos paranóicos que um colega de classe pode ter. Há outros protagonistas de barbáries cometidas por aqui:
policiais, assaltantes e desequilibrados
que têm acesso a armas.
Casos famosos ilustram essa triste realidade e alimentam o medo. Em 1993,
policiais cariocas chacinaram oito meninos de rua no famoso massacre da Candelária. No final do ano passado, um segurança do show dos Titãs, em Campinas, matou um estudante de 17 anos na
porta do ginásio da Unicamp.
Em 99, o estudante de medicina Mateus Costa Meira, então com 24 anos,
abriu fogo contra a platéia que assistia à
última sessão do filme "Clube da Luta",
matando três pessoas e deixando outras
cinco feridas com uma submetralhadora, arma de uso exclusivo das Forças Armadas ou da polícia. Em janeiro deste
ano, Edmar Aparecido Freitas, 18, morador da cidade de Taiúva, interior de São
Paulo, comprou, ilegalmente, um revólver calibre 38 por R$ 250 e entrou na escola atirando. Ele feriu seis colegas, uma
professora e o zelador. Depois, apontou
a arma para si e não errou o alvo.
Exemplos como esses, que mostram o
que uma arma de fogo na mão da pessoa
errada ou despreparada (no caso de policiais e seguranças) pode provocar, levantaram a questão do desarmamento da
população no Brasil.
Mas o debate público sobre a questão
das armas ainda engatinha, polarizado
entre ONGs e iniciativas governamentais, de um lado, e a indústria de armas e
organizações como a ANPCA (Associação Nacional dos Proprietários e Comerciantes de Armas), de outro.
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