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FREE WAY
O país talvez tenha rumo; o presidente, não
É sintomática a frase que o presidente Fernando
Henrique insiste em repetir sempre que se pergunta sobre os descaminhos de seu governo: "Este
país tem rumo". Nunca se sabe se ele está falando do
Brasil ou do país em que ele, FHC, vive, mas, presumindo-se que seja do Brasil real, a frase é emblemática por parecer uma tentativa de FHC de convencer
mais a si mesmo do que a população em geral de que o programa de
(des)governo implantado por ele e seus tecnocratas sanguinolentos terá algum resultado outro que a deterioração da vida do brasileiro.
Acho que ele está tentando convencer a si mesmo. Até porque começo a chegar à conclusão de que FHC, encastelado na distante Brasília
por mais de cinco anos (sem contar seus anos de senador), perdeu
completamente o sentido do real e passou a viver em seu próprio
mundo, tendo como interlocutores os espelhos e puxa-sacos do Planalto. A equipe de FHC, composta inicialmente de tucanos de alta plumagem que nunca esconderam seu complexo de superioridade e a impaciência para explicar à choldra a genialidade de seus desatinos (e,
mais recentemente, por outros fisiologistas sem bandeira que, esses
sim, nunca pretenderam esconder seu desprezo pelo povo e a coisa
pública), perdeu há muito o interesse pelo debate (se é que alguma vez
o teve) e só consegue analisar críticas tentando encontrar o interesse
pessoal de quem as faz, nunca considerando a remota possibilidade de
que haja mérito na crítica ou -cruzes!- que tenha havido erro.
Não sei se FHC foi vítima dessa trupe ou se esta foi contaminada por
ele, mas o fato é que vivem no seu mundo de maravilha. O homem inteligente que era esse presidente transformou-se agora numa versão
pobre de politiqueiro de esquina, que não consegue olhar pra nada
além do próprio umbigo.
A lista de sandices é longa demais para este espaço. O auto-engano
começou a funcionar já no tempo em que o presidente se refestelava
com uma população que, segundo sua ótica, comia iogurte e comprava eletrodomésticos importados. Depois veio a empregada que passava férias na Europa. Até aí, podia-se dizer que eram enganos econômicos, coisa que o sociólogo Fernando não domina. Hoje, é difícil negar
que essa cartilha neoliberal fajuta tenha custado caro ao país, com seus
anos de câmbio sobrevalorizado, juros destruidores e uma sanha privatista que acabou com um patrimônio público para escoá-lo no ralo
da dívida interna que o juro fernandista criou.
O desastre econômico, porém, já dá mostras que extravasou para o
campo social, área de estudo do sociólogo que FHC um dia foi. Primeiro foram os sem-terra, agora servidores públicos, alunos e professores
tomam as ruas para exigir seu país de volta. E FHC? Diz que é coisa de
ano eleitoral, que os protestos são políticos, que é por causa da melhora econômica (?!). Não dá pra acreditar no que se lê. Se nem na sociologia esse presidente se acha mais, só resta esperar que os próximos dois
anos e meio passem rápido e que os desastres fiquem dentro do nível
do suportável.
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