São Paulo, segunda-feira, 05 de junho de 2000


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FREE WAY
O país talvez tenha rumo; o presidente, não

É sintomática a frase que o presidente Fernando Henrique insiste em repetir sempre que se pergunta sobre os descaminhos de seu governo: "Este país tem rumo". Nunca se sabe se ele está falando do Brasil ou do país em que ele, FHC, vive, mas, presumindo-se que seja do Brasil real, a frase é emblemática por parecer uma tentativa de FHC de convencer mais a si mesmo do que a população em geral de que o programa de (des)governo implantado por ele e seus tecnocratas sanguinolentos terá algum resultado outro que a deterioração da vida do brasileiro.
Acho que ele está tentando convencer a si mesmo. Até porque começo a chegar à conclusão de que FHC, encastelado na distante Brasília por mais de cinco anos (sem contar seus anos de senador), perdeu completamente o sentido do real e passou a viver em seu próprio mundo, tendo como interlocutores os espelhos e puxa-sacos do Planalto. A equipe de FHC, composta inicialmente de tucanos de alta plumagem que nunca esconderam seu complexo de superioridade e a impaciência para explicar à choldra a genialidade de seus desatinos (e, mais recentemente, por outros fisiologistas sem bandeira que, esses sim, nunca pretenderam esconder seu desprezo pelo povo e a coisa pública), perdeu há muito o interesse pelo debate (se é que alguma vez o teve) e só consegue analisar críticas tentando encontrar o interesse pessoal de quem as faz, nunca considerando a remota possibilidade de que haja mérito na crítica ou -cruzes!- que tenha havido erro.
Não sei se FHC foi vítima dessa trupe ou se esta foi contaminada por ele, mas o fato é que vivem no seu mundo de maravilha. O homem inteligente que era esse presidente transformou-se agora numa versão pobre de politiqueiro de esquina, que não consegue olhar pra nada além do próprio umbigo.
A lista de sandices é longa demais para este espaço. O auto-engano começou a funcionar já no tempo em que o presidente se refestelava com uma população que, segundo sua ótica, comia iogurte e comprava eletrodomésticos importados. Depois veio a empregada que passava férias na Europa. Até aí, podia-se dizer que eram enganos econômicos, coisa que o sociólogo Fernando não domina. Hoje, é difícil negar que essa cartilha neoliberal fajuta tenha custado caro ao país, com seus anos de câmbio sobrevalorizado, juros destruidores e uma sanha privatista que acabou com um patrimônio público para escoá-lo no ralo da dívida interna que o juro fernandista criou.
O desastre econômico, porém, já dá mostras que extravasou para o campo social, área de estudo do sociólogo que FHC um dia foi. Primeiro foram os sem-terra, agora servidores públicos, alunos e professores tomam as ruas para exigir seu país de volta. E FHC? Diz que é coisa de ano eleitoral, que os protestos são políticos, que é por causa da melhora econômica (?!). Não dá pra acreditar no que se lê. Se nem na sociologia esse presidente se acha mais, só resta esperar que os próximos dois anos e meio passem rápido e que os desastres fiquem dentro do nível do suportável.



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