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ESCUTA AQUI
Vida de colunista nos EUA é a coisa mais sem-graça do mundo
"Você não está precisando de um estagiário aí? Será que não tem
uma vaguinha na sua casa
para eu morar? Brincadeira..."
Toda semana recebo pelo menos um e-mail desse
tipo. Em geral, jornalistas,
ou aspirantes a, que me
escrevem para saber como consegui ser "transferido" para a região de San
Francisco, e pedem dicas
para seguir o mesmo caminho.
Essa consultas, além de
revelarem mais ingenuidade do que cara de pau,
pressupõem que correspondentes brasileiros no
exterior levem uma vida
nababesca, de festa em
festa, de show em show.
Sem pagar nada, claro.
Lamento estragar o sonho, mas, pelo menos no
caso deste colunista, não é
nada disso. Primeiro, porque não sou convidado
para coisa nenhuma.
Segundo, porque os leitores ficariam impressionados se soubessem
quanto gasto por mês em
shows e CDs, para manter
a atualidade de "Escuta
Aqui". Também torro
uma fortuna em revistas,
em busca de assuntos que
possam se transformar
em reportagens de interesse para o leitor brasileiro.
É a única maneira que
tenho de saber o que se
passa no mundo bacana
americano: viajando em
páginas inertes que retratam uma vida absolutamente inatingível para
mim.
Meu editor no Folhateen acompanha o drama
das negociações com algumas gravadoras independentes dos EUA, para
que mandem seus lançamentos a "Escuta Aqui", e
os leitores brasileiros fiquem sabendo antes sobre as bandas que realmente valem a pena.
Talvez "negociação"
não seja a palavra mais
adequada, porque implica troca de correspondência e, no caso de alguns selos, como o americano
Matador, sou eu falando
sozinho -eles nem se
dignam a responder minhas mensagens.
Na hora dos shows, a
mesma coisa. Os mais legais esgotam em poucos
dias (às vezes poucas horas), e depois é aquele desespero para conseguir
ingresso.
Pedir às gravadoras daqui, nem pensar. Não estão nem aí para o mercado brasileiro. Teoricamente, ficaria mais fácil
recorrer às filiais no Brasil, mas estas, em 99% dos
casos, simplesmente desconhecem os artistas que
aparecem em "Escuta
Aqui".
Como se vê, a resposta
para as duas perguntas da
primeira frase deste texto
é "não" e "não". Mas continuem a escrever, por favor. Ajuda a espantar o tédio, porque morar no país
dos outros não é fácil.
Álvaro Pereira Júnior,
37, é jornalista e mora em
San Francisco. E-mail:
cby2k@uol.com.br.
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