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ALIMENTAÇÃO
Fast food faz bem ou mal? O McDonald's está no centro da discussão há 25 anos como mostra "Super Size Me", que estréia aqui em agosto
O homem que comeu 90 hambúrgueres
Associated Press
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O diretor Morgan Spurlock em frente a cartaz do filme |
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Odeio muito tudo isso." A frase
que enfeita a comunidade "Eu
Odeio o McDonald's!" no Orkut
e inverte o slogan brasileiro da rede de fast
food norte-americana pode ser rábida, mas
dá uma idéia do estado de espírito de parte
dos jovens internautas em relação à marca
de hambúrgueres e à fast food em geral.
Há 14 comunidades criadas exclusivamente para discutir a rede no ambiente de
relações sócio-virtuais. Dessas, oito são
francamente críticas e, entre essas, seis são
majoritariamente brasileiras. O que se depreende dos depoimentos é que as restrições mais comuns são de naturezas distintas: nutricional e ideológica.
São os "verdes" e os "vermelhos".
No primeiro caso se encaixa o niteroiense
Felipe Muller, 23, que trabalha numa agência de publicidade e mantém o blog Blog's
Burger -que ele assim batizou por defender que os textos colocados nos diários virtuais, os "web logs", ou blogs, são a fast
food da literatura, e não por apreciar a
iguaria. "Não tenho nada ideologicamente
contra eles, mas já fui gordo e sei que preciso comer alimentos saudáveis, que não encontro nos fast foods", disse ao Folhateen.
Eles não são necessariamente contra uma
marca específica, e sim contra o tipo de comida oferecida. O estudante Rodolfo Freitas Ribeiro, 18, é vegetariano há um ano e
meio. "Depois que comecei a praticar
swasthya yôga, parei totalmente com esse
tipo de alimentação, pois a carne deixa resíduo nos órgãos e atrapalha a técnica."
O produtor de moda Fernando Luís Cardoso, 20, só entra para comer em um restaurante de fast food "se for no desespero".
Frituras, "só de ver" já passa mal. "A última
vez que comi fast food, um misto-quente,
foi há dois anos, quando visitava parentes
em Avaré [interior de São Paulo]", contabiliza. "Hoje, tenho dificuldade na hora de escolher um restaurante para o almoço."
No escaninho da ideologia, está a estudante paulistana Clara Martins, 14: "Na
época da Guerra do Iraque, eu não comia
no McDonald's por ser contra a invasão
norte-americana. Hoje, eu continuo não
comendo por ser um símbolo do imperialismo dos Estados Unidos", disse.
A relação de amor e ódio com a rede de
hambúrgueres no Brasil é quase tão velha
quanto a primeira loja tupiniquim, inaugurada em Copacabana em 1979, seguida pelo
primeiro posto na avenida Paulista, em São
Paulo, mas foi reavivada recentemente pela
Doutrina Bush, no campo ideológico, e por
uma obra polêmica, o documentário "Super Size Me", na área de nutrição.
O filme ganhou o prêmio de melhor direção no último Festival de Sundance e estréia no Brasil em agosto, depois de ser exibido no Festival Internacional de Cinema
de Brasília (FIC), com a presença do diretor, Morgan Spurlock. O norte-americano
passou 30 dias se alimentando exclusivamente de alimentos vendidos pelo McDonald's, aceitando todas as vezes que lhe era
oferecido o tamanho super (o "super size"
do título, que por sua vez quer dizer "me
aumente", não "eu gigante").
É um cacoete dos funcionários de lá, parecido com o "fritas acompanham o pedido?" do Brasil. Em quase todas as compras,
alguém oferece: "Do you want to super size
it"? (você quer aumentar o tamanho?).
Nessa categoria, um Quarterão com Queijo
duplo tem 280 g e responde por 56% de todo o colesterol, 75% do total de gordura geral e 100% do total de gordura saturada a
ser consumida por uma pessoa num dia inteiro segundo os parâmetros de dieta saudável sugeridos pelo FDA, o órgão que controla alimentos e medicamentos nos EUA.
Pois o documentarista engordou, teve
problemas no fígado, depressão e disfunção sexual, entre outros efeitos. Seu filme
virou bandeira num país que sofre uma
epidemia de obesidade, segundo o mesmo
FDA, causada principalmente pela explosão do consumo de fast food entre jovens.
"Curto e grosso: comer nesse tipo de fast
food todo dia ou freqüentemente faz mal",
disse à Folha o médico Carlos Augusto
Monteiro, professor titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde
Pública da USP. "Equivale a comer uma feijoada: uma vez por mês, OK, mais que isso
se torna prejudicial." (leia mais à pág. 8)
Já o caso ideológico é anterior e não diz
respeito à qualidade do que oferecem as redes, mas ao que representam no imaginário coletivo, algo como se fosse a versão sólida da Coca-Cola ou a cozinha do Tio Sam.
Vem da reação que o governo do presidente George W. Bush teve ao ataque terrorista
de 11 de Setembro, explicitada na chamada
Doutrina Bush, que defende ataques preventivos contra países potencialmente
ameaçadores aos EUA ou que apóiem grupos terroristas e que resultou na Guerra do
Afeganistão e na invasão do Iraque.
"Nós ainda não temos a real dimensão da
perda de solidariedade, de simpatia que o
"american way of life" tem sofrido desde o
ataque terrorista de 11 de Setembro", disse
Maria Aparecida de Aquino, professora de
história contemporânea da Universidade
de São Paulo (USP). "É avassaladora e muito rápida, principalmente no Brasil."
Para a acadêmica, o jovem repete chavões
como "abaixo o imperialismo norte-americano" ou "fora com os ianques" um pouco
por cópia, mas no fundo percebe que "um
boicotezinho, por menor que seja", pode
ser bem-vindo e fazer diferença no estado
das coisas. "É até saudável", acredita.
No meio do caminho, estão os contemporizadores. Aí se encaixa o webmaster
paulistano Roberto Nogueira, 21. "Adoro o
Bob's, seus lanches com peru e frango",
disse. "E vou ao McDonald's quando estou
com amigos e todos resolvem comer lá, pela praticidade."
O fato é que, saudável ou não-saudável,
símbolo do imperialismo ou não, no Brasil,
só no ano passado, a rede teve 500 milhões
de consumidores. Além disso, o McDonald's gera 66 mil empregos diretos e indiretos e, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas divulgado no mês passado, é a
empresa que mais oferece a oportunidade
do primeiro emprego -70% de seu quadro é formado por jovens em seu primeiro
trabalho com carteira assinada.
Colaborou Leandro Fortino, da Reportagem Local
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