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Quando o som é bom demais, apele ao mau gosto
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Às vezes o bom e velho mau gosto
faz uma falta dos diabos. É ele
quem deixa a vida muito mais engraçada.
A tese nem é minha. Li algo parecido há uns dois anos, em uma revista daquelas em que a frescura
transborda pelas páginas. Se não
me engano, foi na "Detour" ou na
"Surface". Que, com o dólar acima
de R$ 3, devem estar custando R$
5.420,58 na banca mais próxima.
Mas o assunto não é câmbio: é
bom/mau gosto.
A tal revista fresca trazia uma reportagem sobre um vitrinista de
uma das lojas de departamentos
mais importantes dos EUA. Antes
que você dê risada, a profissão de
vitrinista não é fraca, não. É ele
quem bola o jeito de as coisas ficarem expostas, para que manés como eu e você torremos nossos pobres reais em um monte de tranqueiras.
O ex-vitrinista mais famoso de todos os tempos, só para você se ligar,
é o Joel Schumacher, "espadão" que
dirigiu, entre outras coisas, "Batman & Robin" e "Batman Eternamente". Tudo bem, os filmes são
umas drogas, mas pelo menos o cara é importante.
Mas o assunto não é cinema. É
bom/mau gosto.
Então. O tal vitrinista ouvido pela
revista fresca falava de uma certa
onda de bom gosto exagerado. Ele
dava o exemplo da chiquérrima (e
trambiqueira, agora se sabe) Martha Stewart, que apresenta um programa feminino, na TV dos EUA,
cheio de dicas finas para a plebe. E
lembrava o caso de lojas de roupas e
utensílios ultrapopulares (como a
cadeia Target, também nos EUA)
que estavam lançando coleções de
vestuário bem bacanas.
O cara dizia que estava ficando difícil definir o que era brega e o que
era chique, simplesmente porque
uma das principais caraterísticas do
chique, a saber, ser conhecido por
muito pouca gente, estava indo para a cucuia.
Mas esta coluna não é sobre essas
frescurites. É sobre música.
Como eu estava pensando em dizer, sempre lembro dessa reportagem com o vitrinista quando ouço
bandas chiques (a palavra em inglês
soa melhor: "hip") tocando em rádios normais. Outro dia, um amigo
me contou que o grupo "hip" Hives,
da Suécia, rola direto no rádio paulistano! E o mesmo acontece com os
nova-iorquinos Strokes.
Por causa disso, acho, outro fenômeno interessante acontece. Quem é
metido a "hip" se desespera e, diante
do sucesso de bandas que não eram
para ser tão famosas assim, acaba,
para se diferenciar, correndo atrás de
coisas cada vez mais obscuras, fechadas em guetos. E isso é brega.
Veja só, as referências andam nebulosas.
Mau gosto, o
mundo precisa de você.
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