São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCUTA AQUI

Quando o som é bom demais, apele ao mau gosto

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Às vezes o bom e velho mau gosto faz uma falta dos diabos. É ele quem deixa a vida muito mais engraçada.
A tese nem é minha. Li algo parecido há uns dois anos, em uma revista daquelas em que a frescura transborda pelas páginas. Se não me engano, foi na "Detour" ou na "Surface". Que, com o dólar acima de R$ 3, devem estar custando R$ 5.420,58 na banca mais próxima.
Mas o assunto não é câmbio: é bom/mau gosto.
A tal revista fresca trazia uma reportagem sobre um vitrinista de uma das lojas de departamentos mais importantes dos EUA. Antes que você dê risada, a profissão de vitrinista não é fraca, não. É ele quem bola o jeito de as coisas ficarem expostas, para que manés como eu e você torremos nossos pobres reais em um monte de tranqueiras.
O ex-vitrinista mais famoso de todos os tempos, só para você se ligar, é o Joel Schumacher, "espadão" que dirigiu, entre outras coisas, "Batman & Robin" e "Batman Eternamente". Tudo bem, os filmes são umas drogas, mas pelo menos o cara é importante.
Mas o assunto não é cinema. É bom/mau gosto.
Então. O tal vitrinista ouvido pela revista fresca falava de uma certa onda de bom gosto exagerado. Ele dava o exemplo da chiquérrima (e trambiqueira, agora se sabe) Martha Stewart, que apresenta um programa feminino, na TV dos EUA, cheio de dicas finas para a plebe. E lembrava o caso de lojas de roupas e utensílios ultrapopulares (como a cadeia Target, também nos EUA) que estavam lançando coleções de vestuário bem bacanas.
O cara dizia que estava ficando difícil definir o que era brega e o que era chique, simplesmente porque uma das principais caraterísticas do chique, a saber, ser conhecido por muito pouca gente, estava indo para a cucuia.
Mas esta coluna não é sobre essas frescurites. É sobre música.
Como eu estava pensando em dizer, sempre lembro dessa reportagem com o vitrinista quando ouço bandas chiques (a palavra em inglês soa melhor: "hip") tocando em rádios normais. Outro dia, um amigo me contou que o grupo "hip" Hives, da Suécia, rola direto no rádio paulistano! E o mesmo acontece com os nova-iorquinos Strokes.
Por causa disso, acho, outro fenômeno interessante acontece. Quem é metido a "hip" se desespera e, diante do sucesso de bandas que não eram para ser tão famosas assim, acaba, para se diferenciar, correndo atrás de coisas cada vez mais obscuras, fechadas em guetos. E isso é brega.
Veja só, as referências andam nebulosas. Mau gosto, o mundo precisa de você.



Texto Anterior: Hip Hop: Mano chega aí
Próximo Texto: Brasas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.