São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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País

DA REPORTAGEM LOCAL

Os pais da estudante Greiciane Lourenço, 16, passaram a adolescência na roça, não aprenderam a ler e vieram para São Paulo trabalhar. Quando ela compara o futuro que prevê para si com o presente de seus pais, não tem dúvidas: "Terei uma vida melhor com certeza. Pude estudar e quero fazer faculdade. Não tem jeito de ser diferente", diz a garota.
Mas, quando compara o Brasil de hoje com o do tempo de seus pais, ela tem outras certezas. "Acho que o país está bem pior, principalmente por causa da violência. Tenho medo. Ando nas ruas segurando a bolsa, apavorada, porque nossos pais vivem nos alertando para o perigo das ruas", completa.
Greiciane não pensa que o Brasil será um país melhor no futuro. Mesmo assim, dá a sua receita para que as coisas mudem: "É preciso pensar nos pobres, principalmente porque ninguém liga para eles. Tem muita gente passando fome, sofrendo com o frio".
Suas observações em relação ao país poderiam muito bem ter sido ouvidas na pesquisa do Unicef. "De um modo geral, os jovens mostram uma postura individualista, pois acreditam que terão uma vida melhor que a de seus pais, mesmo pensando que o Brasil não se tornará um país melhor", diz o coordenador da pesquisa, Mário Volpi.
Essa mesma constatação foi observada em um levantamento semelhante, realizado pelo Unicef em países da América Latina: 76% dos adolescentes disseram acreditar que o seu futuro seria melhor do que o de seus pais, e 33% declararam que a tendência é a situação de seus países piorar.
No Brasil, é interessante notar que o número de pessimistas praticamente é o mesmo dos otimistas e pouco superior ao dos que pensam que tudo ficará na mesma, nem melhor nem pior.
Os mais pessimistas são os jovens da classe A: 34,3% deles afirmaram que o Brasil será pior no futuro.
Gisela Mation, 15, estudante de uma escola particular em São Paulo, sintetiza bem essa visão adolescente. "Acho difícil o Brasil melhorar. Individualmente, penso que o meu futuro será melhor. Coletivamente, não sei, acho que não. Faço parte de uma elite, o resto do Brasil não", conclui. (GW)


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