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QUADRINHOS
Jovens passam oito meses
no interior paulista para produzir uma das aventuras dos invencíveis gauleses
Asterix em Águas de Lindóia?
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em Águas de Lindóia não se fala celta
nem se promovem banquetes de javali. Mas, por Tutatis, na cidade a
163 km de São Paulo há um estúdio de animação que é uma fortaleza gaulesa!
Recrutados pelo diretor de animação
Marcelo de Moura -que já trabalhou para
a Disney e para a Pixar-, 20 alunos de sua
Academia de Animação e Artes Digitais,
em São Paulo, participaram da animação
franco-dinamarquesa "Asterix e os Vikings", de fevereiro a outubro deste ano.
Alguns estagiários nunca tinham trabalhado, como o mais jovem deles, Renato
Sena, 17. "Adorei sentir o clima de laboratório entre os "bons" do desenho animado.
Foi emocionante estar lá. E, depois de fazer
tantos desenhos, adorei ver Asterix se mexendo."
Para dar o sopro da vida de apenas um segundo aos personagens, Renato conta que
teve que fazer 30 desenhos: "Fazia no máximo dez frames por dia. Ou seja, para um
personagem se mexer por um segundo, eu
tinha que desenhar durante três dias!".
Ele conta que trabalhava durante oito horas e, à noite, o curso de animação de São
Paulo continuava ali mesmo, no estúdio,
por mais três horas. "E ainda sobrava tempo para ver X-Man na TV na hora do almoço e para fazer caricaturas", diz Renato.
"Asterix e os Vikings" é o nono longa-metragem inspirado nas histórias do belga
Albert Uderzo, é a animação européia mais
cara de todos os tempos -custou US$ 26
milhões- e tem estréia mundial prevista
para abril de 2006.
Dos 78 minutos de animação, Marcelo
diz que, no Brasil, foram feitos cerca de 15
minutos. "Entraram na produção de desenho estúdios da Dinamarca e da Espanha.
Mas toda a cor está sendo feita pelos chineses agora", diz Marcelo.
O animador santista conta que a animação tem alma nórdica, por ser dirigida por
dois dinamarqueses, Stefan Fjeldmark e
Jesper Muller, e por isso ficou decidido que
a história seria baseada em "Asterix e os
Normandos".
"Desenhar Asterix foi mais demorado
que outras produções. Ao contrário dos
grandes estúdios, que só fazem animações
em 3D, nosso desafio foi desenhar em 2D
para ficar mais próximo do traço do gibi",
conta Tatiane de Castro Araújo, 20, que, assim como Renato, nunca tinha feito um trabalho profissional de animação.
"Se você reparar, Uderzo muda a espessura do traço o tempo todo. Começa fino, aí
engrossa, depois volta a ser fino. Nos desenhos da Disney, por exemplo, o traço de fora é sempre grosso e as linhas internas são
finas, coisa que é muito mais fácil de fazer",
diz Tatiane, que, assim como seus colegas,
disse que desenhava mais personagens
com os quais tinha "mais afinidade".
Personalidade
Fã declarada de Asterix, Ana Rocha,19, se
apropriou dele durante a produção. "Eu
acho que tem que conhecer a personalidade do personagem e saber o que ele está
sentindo para desenhar bem", diz Ana, que
diz ter feito dez cenas inteiras com o super-heróizinho gaulês e que gosta de desenhar
ouvindo a trilha sonora de "Mad Max".
"O mais legal é que a gente é a primeira
turma que se forma da academia, daqui a
duas semanas. O Marcelo sempre disse que
tinha vontade de encaixar a gente em algum projeto profissional, só que a gente
nunca imaginou que iria ser algo tão grande", diz Tatiane. Sobre projetos futuros, Tatiane diz que vai para a faculdade fazer desenho industrial.
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