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Álvaro Pereira Júnior
Estranho entre estranhos
Nada mais perturbador
para ouvidos estrangeiros do que tentar
entender que, nos
anos 80/90, havia uma
cena forte de pós-punk... no Brasil.
Nada mais bizarro do que essas bandas virem quase todas de uma cidade, São Paulo, que, apesar de suas
proporções gigantescas, é praticamente desconhecida no exterior.
Não é à toa que a coletânea de pós-punk paulista "The Sexual Life of
the Savages", lançada na Inglaterra
no ano passado, traz um encarte
com explicações detalhadas sobre o
contexto sóciopolítico-cultural brasileiro da época. É preciso ler aquelas linhas com atenção para, pelo
menos, começar a entender a música de forte ironia, ultra-influenciada
pelo rock inglês, produzida por bandas como Akira S e as Garotas que
Erraram e Fellini.
Agora, imagine que, dentro desse
contexto tão difícil para um estrangeiro apreender, haja um ponto ainda mais fora do gráfico. Uma banda
não paulistana, mas de Santos, na
costa do Atlântico, a 60 km da capital, que canta em inglês e não tem
nada a ver com cena de rock uspiano que originou contemporâneos
como Voluntários da Pátria e Mercenárias. Essa banda é o Harry, estranho entre estranhos. É do Harry a
última faixa de "The Sexual Life of the Savages". E é do Harry a caixa recém-lançada "Taxidermy", três CDs remasterizados digitalmente que traçam um profundo raio-X dessa banda santista tão pouco brasileira.
O quarteto Harry (Hansen, Johnsson, César e Verta) fazia rock eletrônico. É
deles meu verso preferido do rock brasileiro: "Radio waves are driving me insane" (as ondas de rádio estão me enlouquecendo), de "Lycanthropia" (1988).
Imagino o curto-circuito neuronal de um ouvinte estrangeiro tentando entender como uma banda do Brasil litorâneo podia fazer rock influenciado pela eletrônica proto-industrial de Chrome e Kraftwerk. Falar nas letras de morte, desesperança e depressão. E de compor num inglês correto.
Pesquisando na internet, encontrei um texto de um DJ australiano que tocou
Harry em seu programa para provar a tese de que, muitas vezes, a localização
geográfica de uma banda pouco ou nada influencia seu som.
Escrevo esta coluna escutando o já mencionado "Fairy Tales". Fico surpreso
como essas canções envelheceram bem. Surpreenda-se você também:
www.harrynet.com.br.
CD PLAYER
PLAY - "Taxidermy", Harry
Difícil imaginar que um som eletrônico feito há quase 20 anos ainda
soe tão contemporâneo. A fonte: www.fiberrecords.com.br
PAUSE - Arctic Monkeys
na KCRW
Veja e ouça a banda mais hypada
da história da civilização cristã. Aí
me conte se gostou: http://kcrw.com/smil/mb051118Arctic-Monkeys.ram.
EJECT - Seu Jorge no
festival de Coachella
Quer dizer... esse "eject" deveria ser
"play". "Play" para a esperteza desse cara, cujo único talento é saber
se descolar.
@ - cby2k@uol.com.br
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