São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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comportamento

Coleções bizarras

Juntar ingressos de shows inesquecíveis já era; os objetos colecionáveis da vida pessoal agora vão de palitos de sorvetes chupados a etiquetas de roupas novas

Patricia Stavis/Folha Imagem
Laura Christov Sancho, que coleciona coleções de bolachas de chope, vidrinhos de xampu, ímãs de geladeira, cartões telefônicos, moedas etc.


GUILHERME BRYAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Boa parte das pessoas já colecionou ou coleciona CDs, revistas, cartões postais, selos, moedas, álbuns de figurinha etc. Mas o que agora está virando moda entre os adolescentes é colecionar objetos antes desprezados pelos colecionadores sérios, como extratos bancários, vidrinhos de xampu, bolachas de chope, passagens de ônibus e etiquetas de roupa.
São colecionadores que parecem preocupados em preservar sua própria história. Esse é o caso de Juliet Castaldello, 16, que coleciona passagens de ônibus rodoviários com destinos às cidades onde moram seus familiares, guarda palitinhos de picolés que ela mesma chupou e até mesmo seus próprios extratos bancários, dos quais orgulhosamente já possui cerca de 60.
"Colecionar virou uma necessidade para mim. Geralmente, eu guardo as coleções por um tempo, mas acabo começando novas e me desfazendo das velhas", conta a menina, que mora em Cascavel, no Estado do Paraná.
Ela acredita que, futuramente, quando as pessoas quiserem lembrar das coisas antigas, provavelmente os colecionadores malucos são quem as terão guardadas.
Também faz parte desse grupo diferente a garota Laurita de Oliveira Blasius, 13, que resolveu reunir etiquetas de roupas. Ela começou a coleção porque nunca tinha ouvido falar de nada parecido.

Futilidade?
"De repente, decidi que iria começar a colecionar e, desde então, percebi que existia uma grande variedade de bolachas de chope", explica Laura Christov Sancho, 19, que tem uma coleção de 49 desses objetos circulares, feitos geralmente de papelão, cuja utilidade é não deixar a água que fica na parte externa do copo escorrer pela mesa dos bares.
Laura adora fazer coleções, desde as mais comuns, como de ímãs de geladeira, moedas e cartões telefônicos, até amostras grátis de xampu, geralmente encontradas em quartos de hotéis onde ficou hospedada com a mãe. Quanto às bolachas de chope, ela já recebeu de amigos também. "Na verdade, muitos acham uma futilidade colecionar esse tipo de coisa, mas, para mim, é extremamente prazeroso", diz.
Na opinião de Vanessa Nogueira Gonçalves, 21, que coleciona sapos, principalmente os de pelúcia, esse tipo de atividade pode fazer com que os adolescentes aprendam uma série de capacidades que serão úteis ao longo de sua vida.
"Ao fazer uma coleção, você se preocupa com coisas como onde ela ficará, de que maneira será organizada, se por tamanho ou por tipo etc. Afinal, o bacana é você ter uma variedade de uma mesma coisa que admira, tornando-a algo precioso", esclarece.
É o caso de Camila Alli Chair, que tinha apenas 4 anos quando "O Parque dos Dinossauros" estreou, em 1993. Mas são justamente os bonecos inspirados nesse filme os seus prediletos entre os cerca de 800 dinossauros de brinquedo que possui.
Hoje, fazem parte da sua coleção também miniaturas de répteis, como tartarugas, lagartixas, crocodilos, cobras e lagartos, como dragões-de-komodo e camaleões.

Neurose
A psicóloga Márcia Lupozelli concorda com a utilidade das coleções: "Um colecionador pode ter uma série de ganhos, como a organização, o empenho, a força de vontade e o prazer de conseguir algo diferente, entre outros benefícios".
Ela, porém, orienta as pessoas a não transferirem problemas emocionais para as suas coleções, sob o risco de tornar a busca pelos objetos uma neurose obsessiva.
Jéssica Balbino, 21, possui 187 marcadores de páginas e 218 cartões publicitários diferentes. "Os itens mais raros, geralmente, são os que estão relacionados a um determinado evento. Afinal, quando o evento acaba, ninguém mais se lembra deles, a não ser os colecionadores. Assim, quanto mais o tempo passa, mais raro eles se tornam", ensina a colecionadora.
Para ela, essas coleções estranhas podem trazer benefícios para a sociedade: "O colecionador organiza os itens registrando traços históricos por assunto. Dessa forma, está ajudando na preservação de objetos que constituem uma cultura".
Um ponto a favor de Jéssica é que muitos museus espalhados pelo mundo foram originados a partir de uma série de coleções particulares. "Um colecionador tem uma importância cultural", finaliza.


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