|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCUTA AQUI
Hoje é Carnaval!
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Se você está lendo esta coluna, então já perdeu
pontos comigo.
É segunda-feira de Carnaval, corra para a rua,
para a praia, para o salão, fique na
porta de casa esperando algum maluco passar, esqueça o rock inglês, as
bandas novas de Montreal, mande o
Morrissey chorar as pitangas lá no
gelo de Manchester, tranque bem
trancados aqueles CDs de grupos
indie melancólicos que emocionam
você nos outros 360 dias do ano.
Hoje é Carnaval!
Viver no Brasil tem um preço
-que é alto, a gente sabe. Mas é a
hora do "payback", sábado, domingo, segunda e terça (e alguns outros
dias a mais, dependendo da região
do Brasil onde você vive), dias em
que este nosso país maluco, magicamente, no ritmo ondulado do samba carioca ou no das acrobacias de
rua do frevo de Recife, faz sentido.
Góticos, pulem, não tem problema, desta vez vocês podem ser felizes. "Indies", tirem a gosma do cabelinho, botem uma peruca de Elke
Maravilha e saiam jogando água nos
outros -está liberado. Metaleiros,
vocês que gostam de pancada, viajem nas batidas daquele treme-Terra arrasador que abala a avenida.
Rapaziada da cena "emo", vocês
que são sensíveis, entreguem o coração ao menino ou menina esperto(a) que sabe de cor todas as letras do Chiclete
com Banana.
No Carnaval, é zero o teor de hipocrisia para quem, durante esses dias, não
precisa fingir, como no restante do ano, que no Brasil se respeitam leis e regras.
Vale tudo: Sandra de Sá, Tim Maia, trio elétrico, branquelos que não sabem batucar, quermesse na praça, pirâmides de latinhas na porta da casa alugada na
praia, acordar no meio da tarde, enlouquecer no mela-mela, dormir em São Paulo e acordar em Aracati (CE).
Os pecados carnavalescos têm um "deadline" implacável, a Quarta-Feira de
Cinzas (de novo, dependendo da região). A vantagem é que a alegria acaba, mas
o perdão pode ser eterno -ou durar, pelo menos, até o próximo Carnaval.
Uma vez, um velho professor deu uma lição de filosofia de rua a um amigo que
não posso reproduzir aqui, nas páginas deste suplemento tão família. A lição não
tinha exatamente a ver com o Carnaval, mas, adaptando, ficaria mais ou menos
assim: "Filho, sempre que um Carnaval passar na sua frente, te chamando, pegue. Pegue mesmo, porque um dia você pode ser velho e caído como eu".
PLAY - Foliões de rua
Por todas as razões expostas ao lado, "Escuta Aqui" dá a maior força a
quem se concentra, com força total
e empenho absoluto, em aproveitar o Carnaval 1.000%.
PAUSE - Foliões de TV
Tudo bem, faltou grana para viajar,
não deu para colar ao vivo na folia.
Mas, pelo menos, não vá fingir que
não é Carnaval! Uma tevezinha ajuda a esquecer a frustração.
EJECT - Não-foliões
Repertório "indie" para abafar o
samba? Metal na cabeça nos dias
em que Momo é rei? Festa gótica
em plena folia? Vá morar em Seattle, então, para ficar no clima!
@ - cby2k@uol.com.br
Texto Anterior: Curso: USP oferece aulas grátis de redação Próximo Texto: Música: O rock que ajuda Índice
|