São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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250 anos de delinquência

free lance para a Folha

"A adolescência tem apenas 250 anos na história da humanidade." Essa é uma razão que contribui para torná-la uma fase ainda mais contraditória, diz o psicoterapeuta Miguel Perosa.
Antes disso, o filho fazia 12 anos e ganhava um canivete para defender a honra da família, e a menina tinha a primeira menstruação e já era considerada uma mulher, diz Perosa. "Mas a partir de 1750, com a Revolução Industrial, ela precisou ser inventada", acrescenta.
Pais e filhos foram chamados pelas fábricas para trabalhar 18 horas, mas os adolescentes não deram certo na produção. Eram dispersivos, não conseguiam manter a atenção e dormiam. Até criaram cadeiras especiais para eles, com os pés inclinados, que se tocavam e exigiam que o jovem se equilibrasse o tempo todo e não dormisse.
Mas não funcionou, diz Perosa, e as mães foram convocadas para substituí-los, deixando-os sozinhos nas ruas. "Foi assim que nasceu, na Inglaterra, a palavra adolescência como sinônimo de delinquência juvenil, e até hoje a nossa cultura procura um lugar para ela", diz o psicoterapeuta.
Para ele, ainda hoje não há um lugar físico para essa faixa etária, um lugar profissional ou afetivo definidos. "Quem mais entende de jovem é a agência de pesquisa de mercado, porque reservou um lugarzinho para os jovens no shopping e os transformarou em consumidores." (FG)



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