São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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SEXO E SAÚDE

"Tenho 21 anos e estou apaixonado por uma garota evangélica. Não acredito em Deus e só vou à igreja para ver essa garota. Ela é fervorosa em sua fé e eu estou sendo falso. Não sei se devo renunciar a essa paixão ou continuar bancando o cretino."

Não dá para forçar uma mudança falsa para ficar com alguém

JAIRO BOUER
COLUNISTA DA FOLHA

Talvez você esteja sendo um pouco radical em suas hipóteses para tentar encaminhar sua vida afetiva. Já pensou que as duas situações que você conta (não acreditar em Deus e estar apaixonado por uma garota evangélica) não são necessariamente excludentes?
Explico melhor: você se diz ateu e, portanto, não crê na existência de Deus. Essa é uma convicção sua, que deve ser tão respeitada quanto a convicção religiosa da garota por quem você se apaixonou. Ela é evangélica e fervorosa em sua fé.
Aparentemente, esses universos não se cruzam, e você decide frequentar o local em que sabe que ela vai estar: a igreja. A partir daí, passa a se sentir falso. OK, até aí você está certo! Mas já parou para pensar que, algumas vezes na vida, temporariamente, a gente tem de fazer coisas de que não gosta ou em que não acredita para alcançar alguns objetivos? Dentro de alguns limites morais e éticos, esse método é aceitável.
Mas chega a hora em que o método passa a incomodar muito. E talvez essa seja a hora de mudar. Na sua história, talvez seja o momento de deixar a igreja. Mas e sua garota? Provavelmente, ela faz outras atividades além de frequentar a igreja. Ela deve estudar, trabalhar, ir a festas, visitar amigas etc. Que tal você procurar encontrá-la nesses locais? Um papo na saída da escola pode acontecer com mais espaço e liberdade do que no culto.
E o papo entre vocês, como funciona? Às vezes duas pessoas com uma fé completamente distinta podem ter um monte de pontos em comum. Outras vezes, a distância é tão grande, que não há milagre que as aproxime. E papo e afinidade são dois itens fundamentais quando a gente quer ter uma relação.
Aí resta saber se essa paixão que você sente é correspondida pela garota. Porque, meu amigo, se rolar paixão e amor entre os dois, é muito mais fácil vencer barreiras e limites. Do mesmo modo que a paixão pode render suas convicções racionais, ela também pode ajudar a garota a lidar com sua fé e com sua crença.
A paixão e o amor permitem que a gente consiga lidar melhor com as diferenças. Assim, você talvez possa namorar uma garota evangélica e não frequentar uma igreja.
P.S.: Ontem o Brasil deu o primeiro passo para escolher seu novo presidente. Escrevo esta coluna sem saber o resultado do primeiro turno. Não podemos esquecer que vivemos em uma democracia (conquistada a duras penas) e que é nosso dever mantê-la. Como no caso do garoto acima, que não precisa começar a acreditar em Deus para viver sua paixão, você não precisa necessariamente concordar com o presidente eleito para lutar por um futuro mais justo e melhor para o nosso país.



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