São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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02 NEURÔNIO

Lúcia Laura perde a eleição

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAG AFFONSO

COLUNISTAS DA FOLHA

Não vai ser agora, meninas. A candidata Lucia Laura não conseguiu ser eleita ontem. Pior: pela pesquisa de boca-de-urna, ela teve apenas dois votos (de quem serão?). Nesta entrevista exclusiva, ela faz denúncias. E diz que sua candidatura foi sabotada. Entenda o porquê.
- Candidata... quer dizer, ex-candidata, como a senhora recebeu esse resultado?
- Eu acho que é um começo...
- Mas a senhora recebeu só dois votos...
- Claro, porque até mesmo gente formadora de opinião, pessoas de colunas de certos jornais (lança olhar malicioso sobre as entrevistadoras) me apoiaram publicamente e, na hora H, votaram em outro candidato, sabe... E, no mais, dois é um número ótimo, segundo a numerologia. Vocês também não têm apenas dois neurônios?
- Dá para o gasto, candidata... A senhora sabe quem votou na senhora?
- Imagino.
- Quem?
- Eu e... acho que... minha mãe.
- Fazendo uma análise da sua candidatura, a que a senhora credita o seu mau desempenho nas urnas?
- Primeiro, eu não acho que foi um mau desempenho. Vocês sabem o quanto é difícil uma mãe apoiar a gente. As mães nunca aprovam o nosso cabelo, os nossos namorados, a nossa opção por não casar. Então, uma mãe apoiar toda uma plataforma é uma vitória e tanto. Depois, eu acho que o Brasil ainda não está preparado para o meu projeto "pretê para todos". Eu sou uma espécie de socialista do amor, sabe. E tem muita gente que não quer, gente que tem outros interesses...
- Como assim?
- Ora, as mulheres solitárias são muito manipuláveis, você sabe... Ficamos, quer dizer, elas ficam em casa sábado à noite deprimidas e isso interessa a muita gente. Gente que lucra com a infelicidade alheia.
- Quem, por exemplo?
- A indústria do chocolate, as fábricas de lencinhos de papel e as redes de TV a cabo. Fora pessoas que escrevem livros falando sobre isso, fazem sites, sabe? E escrevem colunas em jornal (lança outro olhar malicioso). Pessoas que poderiam perder o emprego se eu viesse a ocupar a cadeira presidencial.
- Quem? A senhora pode citar um nome?
- A Meg Ryan, por exemplo.
- A Meg?
- É. Se todo mundo tivesse pretê, quem é que iria assistir aos filmes dessa senhorita? Entenda, não é nada pessoal... Se bem que aquele corte de cabelo é o fim. É praticamente um "mullet".
- Mas, Lúcia Laura, como você acha que a Meg Ryan -que é americana, trabalha em Hollywood e nunca veio ao Brasil- pode ter influenciado no resultado eleitoral?
- Muita coisa acontece debaixo dos panos. E vocês sabem quem está por trás da Meg Ryan...
- O Tom Hanks?
- Ora, queridas, não é de estranhar que vocês só tenham dois neurônios... Hanks também é só fachada.
- E agora, já que a senhora saiu derrotada... o que pretende fazer da sua carreira? Desistiu da política?!
- Por enquanto. Agora eu quero dedicar mais tempo à minha pessoa, sabe... Estou precisando ficar comigo mesma. Talvez vá para a Índia para fazer meditação com um guru e comprar muamba étnica. E tenho propostas para abrir um salão de beleza...
- E se a senhora pudesse colocar em ação uma -e apenas uma- de suas medidas... Qual seria?
- Uma reforma no gabinete presidencial. Mudar aquele estofado, pontilhar com uns tons mais quentes... Uma coisa mais (com voz embargada) florida...



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