|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VESTIBULAR
A menos de um mês das provas dos principais vestibulares,
teens contam como é a "doença" que apelidaram de novembrite e que deixa todos à beira de um ataque de nervos
Quadro crítico
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não agüento mais estudar. A experiência do cursinho me deixa
mais tranqüila, mas o excesso
de informação me enlouquece!", diz Daiane Raquel Correia Alioto, 18.
Enquanto não entra no curso de jornalismo, no de relações públicas ou no de dança, estuda pelos cotovelos, tem crises de
choro, insônia e, se dorme, sonha com números. Como conseqüência, tem ainda o
cansaço físico e a queda de resistência.
No mês do "tudo ou nada", ela não se
perdoa e arrisca até promessa. "Passei o
ano passado inteiro sem comer chocolate.
Agora eu vou fazer promessas mais curtas e
intensivas", diz Daiane.
A estudante, que está desde agosto no
cursinho, já experimentou cortar até lanchinhos em troca de alguma ajuda divina,
mas não abre mão de bala e chiclete durante todos os intervalos de aula, para "diminuir a ansiedade".
Em tempos de novembrite, termo usado
pelos jovens para designar as alterações de
humor por que passam durante o período
pré-vestibular, o que mais acaba pesando é
a consciência. "Durante a semana tenho
que estudar, senão eu fico com a consciência pesada. No fim de semana, não sei mais
o que faço, se estudo ou se saio. Não tenho
mais hora para jantar, durmo fora de hora
porque fico lendo os livros da lista da Fuvest", diz Manuela.
De folheada em folheada, Manuela conta
que está lendo o último da pilha, "Sagarana", de Guimarães Rosa. Mas quando terminar, ela planeja relê-los. Entre jagunços e
vaqueiros cíclicos, Manuela afirma que a
consciência só vai ficar mais leve quando
chegar a hora da revisão. "Aí vou poder ver
o que realmente já sei."
Com sono acumulado, a estudante conta
que abandonou até o hábito de ir à cozinha
beliscar algum bom-bocado feito pela avó,
com quem mora. Não pela comida, que engorda, mas pela perda de tempo que é chegar até lá.
Manuela vai tentar o curso de direito em
cinco faculdades e diz que uma de suas extravagâncias de vestibulanda é resumir tudo. Montes de cadernos e livros. "Sei que,
às vezes, perco meu tempo, mas não consigo deixar de fazer isso, já virou mania", diz
Manuela, que resumiu até o pulo que dava
até a cozinha. Daiane diz que, às vezes, tem
a impressão que ir ao banheiro também é
perda de tempo.
Além da falta de tempo, outro "sintoma"
de quem sofre de novembrite é a confusão
generalizada. Fernanda Jordão, 18, culpa o
relógio: "Faço cursinho desde fevereiro. Estou cansada, estudo o dia inteiro, entro às
7h10 na aula e só volto para casa depois das
20h, porque fico estudando", diz Fernanda,
que quer estudar medicina veterinária em
uma universidade pública.
"Não consigo mais estudar, me dá sono,
choro muito uma vez por semana, normalmente quando estou estudando e me lembro de alguma matéria atrasada. O que me
dá mais desespero é química. E dia 13 já é a
primeira fase, vou prestar vestibular para a
Universidade Estadual de Londrina."
Em novembro, não é apenas a consciência que pesa para Fernanda. "Eu como
muito, nunca fiquei tão gorda na minha vida, aumentei uns cinco ou seis quilos. Além
de ficar muito irritada com todo mundo,
minha irmã, que tem 14 anos, é quem mais
sofre", diz Fernanda, que chegou a ficar em
lista de espera no ano passado em uma faculdade, mas não foi chamada.
Mais que irritada, Beatriz Deorsola, 18,
diz estar confusa. "Estou tensa. Mas ando
mais calma, apesar de tensa. A pressão vem
mais de mim do que dos outros", desabafa
a adolescente, que vai tentar uma vaga em
um curso de psicologia.
Para tantos males, segundo Daiane, não
há xarope que resolva. "Para se prevenir de
uma situação parecida, só mesmo estudando mais ainda. Matéria dada é matéria estudada", sentencia, e continua: "Eu não
quero fazer cursinho de novo, não lido
muito bem com isso. É muita pressão, é
muito teste", diz Daiane.
Texto Anterior: Cinema: Pet Shop Boys embarcam no potemkin Próximo Texto: Novembrite: Elas choram, eles calam Índice
|