São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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VESTIBULAR

A menos de um mês das provas dos principais vestibulares, teens contam como é a "doença" que apelidaram de novembrite e que deixa todos à beira de um ataque de nervos

Quadro crítico

LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não agüento mais estudar. A experiência do cursinho me deixa mais tranqüila, mas o excesso de informação me enlouquece!", diz Daiane Raquel Correia Alioto, 18.
Enquanto não entra no curso de jornalismo, no de relações públicas ou no de dança, estuda pelos cotovelos, tem crises de choro, insônia e, se dorme, sonha com números. Como conseqüência, tem ainda o cansaço físico e a queda de resistência.
No mês do "tudo ou nada", ela não se perdoa e arrisca até promessa. "Passei o ano passado inteiro sem comer chocolate. Agora eu vou fazer promessas mais curtas e intensivas", diz Daiane.
A estudante, que está desde agosto no cursinho, já experimentou cortar até lanchinhos em troca de alguma ajuda divina, mas não abre mão de bala e chiclete durante todos os intervalos de aula, para "diminuir a ansiedade".
Em tempos de novembrite, termo usado pelos jovens para designar as alterações de humor por que passam durante o período pré-vestibular, o que mais acaba pesando é a consciência. "Durante a semana tenho que estudar, senão eu fico com a consciência pesada. No fim de semana, não sei mais o que faço, se estudo ou se saio. Não tenho mais hora para jantar, durmo fora de hora porque fico lendo os livros da lista da Fuvest", diz Manuela.
De folheada em folheada, Manuela conta que está lendo o último da pilha, "Sagarana", de Guimarães Rosa. Mas quando terminar, ela planeja relê-los. Entre jagunços e vaqueiros cíclicos, Manuela afirma que a consciência só vai ficar mais leve quando chegar a hora da revisão. "Aí vou poder ver o que realmente já sei."
Com sono acumulado, a estudante conta que abandonou até o hábito de ir à cozinha beliscar algum bom-bocado feito pela avó, com quem mora. Não pela comida, que engorda, mas pela perda de tempo que é chegar até lá.
Manuela vai tentar o curso de direito em cinco faculdades e diz que uma de suas extravagâncias de vestibulanda é resumir tudo. Montes de cadernos e livros. "Sei que, às vezes, perco meu tempo, mas não consigo deixar de fazer isso, já virou mania", diz Manuela, que resumiu até o pulo que dava até a cozinha. Daiane diz que, às vezes, tem a impressão que ir ao banheiro também é perda de tempo.
Além da falta de tempo, outro "sintoma" de quem sofre de novembrite é a confusão generalizada. Fernanda Jordão, 18, culpa o relógio: "Faço cursinho desde fevereiro. Estou cansada, estudo o dia inteiro, entro às 7h10 na aula e só volto para casa depois das 20h, porque fico estudando", diz Fernanda, que quer estudar medicina veterinária em uma universidade pública.
"Não consigo mais estudar, me dá sono, choro muito uma vez por semana, normalmente quando estou estudando e me lembro de alguma matéria atrasada. O que me dá mais desespero é química. E dia 13 já é a primeira fase, vou prestar vestibular para a Universidade Estadual de Londrina."
Em novembro, não é apenas a consciência que pesa para Fernanda. "Eu como muito, nunca fiquei tão gorda na minha vida, aumentei uns cinco ou seis quilos. Além de ficar muito irritada com todo mundo, minha irmã, que tem 14 anos, é quem mais sofre", diz Fernanda, que chegou a ficar em lista de espera no ano passado em uma faculdade, mas não foi chamada.
Mais que irritada, Beatriz Deorsola, 18, diz estar confusa. "Estou tensa. Mas ando mais calma, apesar de tensa. A pressão vem mais de mim do que dos outros", desabafa a adolescente, que vai tentar uma vaga em um curso de psicologia.
Para tantos males, segundo Daiane, não há xarope que resolva. "Para se prevenir de uma situação parecida, só mesmo estudando mais ainda. Matéria dada é matéria estudada", sentencia, e continua: "Eu não quero fazer cursinho de novo, não lido muito bem com isso. É muita pressão, é muito teste", diz Daiane.

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