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CIÊNCIA
O caminho do fim
O apocalipse não virá em 2012, dizem cientistas, mas há ameaças para um futuro mais distante
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
O mundo pode acabar.
Mas não entre em pânico, não vai ser agora, nem tão cedo
quanto os filmes andam prometendo. E, na verdade, não vai
ser bem a Terra que vai acabar.
Nós, seres humanos, é que corremos o risco de desaparecer.
Mas qual vai ser a graça disso
tudo sem bebês chorando, casais se encontrando e gente
dançando a "Macarena"? Esse
planeta vai ficar bem mais monótono sem nós.
São várias as maneiras pelas
quais o fim pode chegar: ele poderá vir de cima (se um asteroide se chocar conosco), de baixo
(se algum supervulcão entrar
em erupção) ou de nossas próprias mãos (no caso de uma
guerra nuclear, por exemplo).
O perigo vem de fora
Imagine que você está dirigindo em alta velocidade numa
estrada, com vários tipos de
coisas atravessando a pista bem
à sua frente: cachorros, pedestres, motos. Eventualmente,
até alguns caminhões. Uma hora isso vai dar errado, não?
Vai. E essa é mais ou menos a
situação da Terra. A estrada, no
caso, é a órbita do planeta -e
estamos viajando a 100 mil quilômetros por hora. É uma velocidade um pouco imprudente,
porque um choque pode causar
um estrago imenso.
Pequenos objetos vivem colidindo com a Terra sem que a
gente perceba. "Durante um
dia acontecem centenas, até
milhares de colisões", diz Ernesto Vieira Neto, astrônomo
da Unesp.
Há mais de 60 milhões de
anos, um meteoro com mais de
10 km de diâmetro apareceu no
nosso caminho. O que acontece
depois de um choque desses?
Vulcões acordam e entram
em erupção, tsunamis varrem o
planeta e uma nuvem de poeira
cobre a Terra por ao menos alguns meses.
Sem a luz do Sol, muitas
plantas morrem, e quem precisa comer bastante para sobreviver (como os dinossauros, naquela época) acaba extinto. Não
bastasse isso, respirar as cinzas
também não é muito saudável.
Choque no mar = tsunami
As consequências de uma colisão dependem do lugar onde o
impacto ocorrer. "Como mais
de metade da superfície da Terra é água, então é grande a
chance de [um objeto] cair no
oceano", diz Vieira. "Aí, teríamos alguns tsunamis."
O que poderíamos fazer se
um negócio desses estivesse
vindo em nossa direção?
"Até o momento, não temos
tecnologia suficiente para mudar a trajetória de um objeto
[que esteja a caminho]", diz
Vieira. "Mas, se ele for grande, é
alta a chance de que se saiba
previamente que está vindo."
E não vá achando que os pequenos objetos não oferecem
perigo. Eles são muito mais difíceis de rastrear e existem aos
montes. Objetos do tamanho
de um supermercado, por
exemplo, nos acertam, em média, a cada mil anos.
O último caiu no meio do nada, em 1908, na Rússia. Você
não iria querer estar lá: foi uma
explosão mil vez mais forte do
que a da bomba de Hiroshima.
Acabou com milhões de árvores e causou terremoto.
Se um desses caísse na praça
da Sé, destruiria toda a região
metropolitana de São Paulo. E,
por ele não ser tão grande, provavelmente só o perceberíamos
tarde demais para fugir.
O perigo vem de dentro
É difícil saber quando um
vulcão vai entrar em erupção.
Simplesmente, acontece. Pode
ser amanhã, pode ser daqui a
milhões de anos, pode não
acontecer nunca mais.
A má notícia é que existem
alguns vulcões realmente grandes por aí. Um desses entrou
em erupção há 70 mil anos, em
Toba, na Indonésia. Nossa espécie já existia.
Uma poeira gigantesca foi levantada, espalhou-se pelo
mundo e, assim como quando
os dinossauros foram extintos,
barrou boa parte da luz solar.
O planeta esfriou, começou
um período parecido com uma
pequena Era do Gelo e se alimentar tornou-se um desafio.
Sobrevivemos por muito
pouco. Acredita-se que a humanidade tenha sido reduzida a
poucos milhares de indivíduos.
Pode acontecer novamente?
Pode. Nos EUA, existe um parque conhecido como Yellowstone, situado sobre um vulcão
imenso que já entrou em erupção antes. Ocorre mais ou menos a cada 600 mil anos. A última vez foi há 630 mil.
Ocorreram erupções nas últimas décadas. São as imagens
que costumamos ver na televisão. Esses vulcões fazem um
estrago enorme ao seu redor,
mas a vida no resto do planeta
continua normalmente.
Para comparar, imagine que
todo o material que um deles
expele tivesse o volume de
uma ervilha. Vulcões como o
de Yellowstone expeliriam,
proporcionalmente, um carro
cheio de material vulcânico.
Ou seja, o efeito seria sentido
mesmo por quem estivesse
muito longe.
Mas dificilmente todos os
seres vivos sumiriam. "A vida
na Terra já sobreviveu a muitas erupções. Yellowstone já
entrou em erupção pelo menos três vezes. Os seres vivos
continuariam por aí", diz
Maurizio Battaglia, vulcanólogo da Universidade de Roma.
"Os estudos científicos dizem que, após uma erupção de
um vulcão como o Yellowstone, teríamos algo como dez
anos de frio. Seria um problema sério e global. Mas, depois
disso, o clima voltaria ao normal", diz Stephen Self, vulcanólogo da Open University
(Inglaterra).
Falha humana
Há milhares de armas nucleares no planeta. Daria para
destruí-lo várias vezes, se sobrasse alguém para continuar
apertando o botão de disparo.
Por muito tempo o medo foi
de que EUA e União Soviética
esquentassem a Guerra Fria e
travassem uma guerra nuclear. Felizmente, não rolou.
Ainda assim, países como
Índia e Paquistão têm armas
nucleares e, para piorar, não
gostam muito um do outro.
Em alguns anos, talvez Coreia
do Norte e Irã -inimigos dos
EUA, que têm o principal arsenal nuclear do mundo- também passem a ter essas armas.
Ou seja, mais do que ter medo da natureza incontrolável,
devemos nos preocupar com
os homens incontroláveis.
Mas também podemos ter
um pouco de fé na humanidade. Se ainda não há tecnologias
(ou sabedoria) para lidar com
essas catástrofes, certamente
há tempo para desenvolvê-las.
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