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O rock é cheio de mistérios e grandes figuras
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
O mundo do pop-rock adora lendas e mistérios, do tipo... Keith Richards só está vivo
por causa de seguidas transfusões integrais de
sangue. Paul McCartney morreu nos anos 60.
O vocalista de um grupo progressivo arrancou os testículos para cantar mais fininho. O
Led Zeppelin participou de uma orgia que envolvia os caras da banda, várias fãs e um tubarão morto (essa parece que é verdade, só que
o peixe não era tubarão). Raul Seixas foi visto
comprando camisetas na Galeria do Rock,
em São Paulo. Elvis
não morreu.
Pois, agora, mais
um desses mistérios
insondáveis ganha
corpo entre os fãs de
rock, um enigma
chamado Jandek
(pronuncia-se
"Djéndék").
Você nunca ouviu falar no cara, imagino. E
muito menos eu tinha ouvido, até dias atrás,
quando li uma reportagem no "Los Angeles
Times" sobre o documentário "Jandek on
Corwood", que trata dessa figura.
Desde 1978, Jandek lançou 35 álbuns (!). Só
deu uma entrevista, em 1985. E, ainda assim,
não se sabe se foi ele mesmo o entrevistado.
As capas dos discos também não dizem nada. Trazem fotos mal focadas de peças de mobília. Alguns discos exibem a foto de um jovem (parecido com o Beck) segurando uma
guitarra. Mas ninguém sabe se o rapaz é Jandek e, mesmo se for, é impossível dizer se a fotografia é atual.
Segundo a descrição do "Los Angeles Times", a música de Jandek consiste unicamente na voz dele, trêmula, sobre uma guitarra ou
violão de afinação tosca. Para quem já ouviu,
não há meio-termo: ou é a coisa mais emocionante ou a mais insuportável do universo.
Escutei uma única canção desse maluco:
"They Told me I Was a Fool". Se você tiver um
violão ou uma guitarra em casa, saia tocando
e cantando qualquer coisa por cima. Dá no
mesmo.
O documentário se chama "Jandek on Corwood" porque Corwood Industries é o nome
da gravadora pela qual Jandek lança suas
obras. Trata-se de um selo
próprio, não precisava
nem dizer.
Os diretores do filme,
Chad Freidrichs e Paul
Fehler, não fizeram a mínima questão de tentar
imagens "roubadas" de
Jandek. Pelo contrário.
Quando foram à cidade
de Houston filmar a caixa
postal que serve de endereço para a Corwood Industries, eles até mandaram um alerta a Jandek:
"Olha, nós estaremos em
frente a sua caixa postal
no dia tal, na hora tal. Se
você quiser nos conhecer,
apareça e não se preocupe, a gente não vai filmá-lo. Mas, se você não quiser
encontrar a gente, então
nem chegue perto". Claro
que Jandek não apareceu.
O documentário mostra
fãs e críticos de música
obcecados por Jandek. Os
mitos em torno dele são
inúmeros. Que é um rico industrial só tirando
uma onda. Que é um solitário que nunca sai
de casa. Que gravou centenas de horas de música num período de loucura nos anos 70 e
lança tudo aos poucos. Que a foto que aparece
em certos discos não é de Jandek , mas de um
irmão que morreu.
Não disse que o pop-rock adora mistérios?
Confira: www.jandekoncorwood.com.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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