|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOM
Elas fazem do rock coisa de mulher
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
O rock and roll nasceu machista. Afinal, "rock" e "roll" eram
gírias que significavam fazer sexo; "sacudir e rolar" era aquilo
que os rapazes queriam fazer com as meninas. Nos anos 50, não
era de bom-tom uma garota cantar algo do gênero. Mas várias
meninas da pesada foram quebrando tabus e marcando seu nome no rock. Nesta página, alguns discos fundamentais lançados por garotas corajosas
1971
"Tapestry" Carole King
Carole King começou sua carreira nos anos 60, quando as garotas
pareciam estar destinadas apenas
a fazer corinho para os roqueiros.
Se Janis abriu seu caminho no grito, Carole fez coisa até mais difícil:
vencer como compositora, dando
sucessos de bandeja aos amigos,
como James Taylor -é dela o hit
do cantor, "You've Got a Friend".
Quando foi convencida a gravar
suas músicas, soltou um álbum arrasador, "Tapestry", que vendeu
até hoje 11 milhões de cópias. O
maior sucesso do disco: "It's Too
Late", clássico absoluto que toca
sempre nas FMs. Carole King, que
lança seu 18º disco em abril, foi a
primeira mulher reconhecida como poeta no rock.
(TM)
1975
"Horses" Patti Smith Group
Patti Smith começou poeta, ficou
amiga de Andy Warhol, foi musa
do dramaturgo Sam Shepard e do
fotógrafo Robert Mapplethorpe e
acabou como diva do punk americano. Escrevia letras de rock inspirada em poetas franceses malditos,
como Rimbaud e Baudelaire. Versão feminina da mistura de Bob
Dylan e Lou Reed, Patti lançou
quatro álbuns com sua banda nos
anos 70, mas nenhum superou o
impacto da estréia, "Horses", repleto de canções sobre religião, sexo e morte. No auge do sucesso, resolveu abandonar a carreira. Cuidou dos filhos por oito anos, mas
voltou ao rock em 1988. Há dois
anos lançou o sétimo álbum, "Peace and Noise".
(TM)
1978
"Parallel Lines" Blondie
Debbie Harry assumiu o papel de
Marilyn Monroe de uma geração
que dizia não precisar de mitos.
Debbie assumiu tudo: era uma ex-coelhinha da "Playboy", loira falsa,
sem experiência de cantar ou dançar. Mas ocupou o vocal do Blondie, a mais bem-sucedida banda da
new wave americana, fazendo pose
de loira fatal. O modelo do grupo
-garota canta e rapazes tocam-
foi seguido por centenas de bandas. Hoje, com tanta menina tocando guitarra, parece pouca coisa, mas, há duas décadas, com o estouro mundial do álbum "Parallel
Lines", o Blondie deu um golpe
mortal no machismo do rock. A
banda voltou a se reunir e acaba de
lançar o CD "No Exit".
(TM)
1980
"The Pretenders" The Pretenders
A americana Chrissie Hynde foi
tentar a sorte na Inglaterra, em
1976. Foi garçonete e jornalista, vivenciando a explosão do punk. Escrevia canções toscas, que ganharam requinte melódico nas mãos
do guitarrista James Honeyman-Scott, parceiro dela no Pretenders.
Ele morreu de overdose em 1982,
mas o grupo segue até hoje. O primeiro disco da banda (de 80) é um
clássico new wave. As letras, todas
de Chrissie, falam da dificuldade
de garotas conquistar espaço no
mundo machista do rock. (TM)
1968
"Cheap Thrills", Janis Joplin
Em 11 de junho de 1965, Janis Joplin, então com 22 anos, cantou
pela primeira vez com o grupo Big
Brother & the Holding Company,
no Avalon Ballroom (San Francisco). A partir desse show, o jeito de
cantar mudou radicalmente no
rock and roll. Janis conseguia misturar a essência do blues, um canto
sofrido e passional, com a urgência
do rock and roll. Seu estilo encontrou eco no movimento hippie que
surgia na América. Janis simbolizava uma mulher livre numa época
em que as bandeiras da liberdade
de comportamento eram desfraldadas pelos jovens. Em 1967, ela levou o público ao delírio no festival
Monterey Pop, marco do "flower
power". O segundo álbum da cantora, "Cheap Thrills", alcançou o
topo da parada americana em outubro de 1968, no auge da psicodelia. O consumo intenso de drogas e
bebidas jogou a cantora numa espiral de autodestruição. Ela tinha
dificuldade para lidar com a adoração dos fãs e não encontrou
apoio de amigos ou namorados.
"Eu faço amor com 20 mil pessoas
no palco e depois vou dormir sozinha", dizia. Janis foi achada morta
em um hotel de Hollywood, no dia
4 de outubro de 1970, com picadas
recentes em seu braço. Causa da
morte: overdose de heroína.
(TM)
1975
"Fruto Proibido", Rita Lee
Quando Rita Lee deixou os
Mutantes, grupo que integrou
nos anos 60 ao lado dos irmãos
Arnaldo e Sérgio Baptista, ninguém apostava em sua carreira
solo. Mas ela seguiu em frente
e, em 1975, com sua banda de
apoio, o Tutti Frutti, lançou um
marco definitivo no rock brazuca, "Fruto Proibido". A canção "Ovelha Negra" sintetizava
sua condição de mulher num
mundo machista e de roqueira
numa terra de samba e violão.
Depois de alguns álbuns roqueiros, estourou nacionalmente com o pop romântico
"Mania de Você", em 1979, e seguiu a carreira nesse filão.
(TM)
1984
"Like a Virgin" Madonna
Madonna é um caso raro de ligação duradoura com o sucesso. Mudando de visual, de atitude e até de
estilo musical, numa sucessão de
discos e clipes produzidos por craques da área, ela garante espaço no
noticiário, apoiada por lances polêmicos em sua vida pessoal -namorados e namoradas famosos, o
desafio de estrelar "Evita", no cinema, o "pai de aluguel" que arranjou para ter a filha, Lourdes Maria.
"Like a Virgin", seu segundo álbum, tem letras que pregam um
novo feminismo, incentivando garotas a assumir o lado "Material
Girl" (um dos hits do álbum) para
seduzir homens só pelo dinheiro.
Madonna mantém controle total
da carreira, e isso incomoda.
(TM)
1984
"Private Dancer" Tina Turner
Tina Turner foi reconhecida como uma das grandes vozes do soul
e rhythm'n'blues desde sua parceria com o marido, Ike, nos anos 60.
Os dois venderam discos, excursionaram com os Stones e criaram
alguns clássicos. Depois de muito
apanhar do violento Ike, conseguiu o divórcio, e sua carreira declinou. Tina só deu a volta por cima com o primeiro álbum solo,
"Private Dancer", produzido por
Mark Knopfler, do Dire Straits,
com apoio dos camaradas Mick
Jagger, David Bowie e Rod Stewart.
Então com 46 anos, conseguiu o
sucesso mundial, com 7 milhões
de cópias vendidas. As canções falam de mulheres em busca de relacionamentos maduros.
(TM)
1995
"Jagged Little Pill" Alanis Morissette
Depois de passar a adolescência
como uma Angélica da televisão
canadense, Alanis Morissette largou tudo e foi encontrar seu caminho. Achou seu rumo no rock, fazendo shows pelo circuito universitário e compondo canções intimistas. Quando reuniu esse material no álbum "Jagged Little Pill", a
empatia com adolescentes foi imediata. Alanis fala do mundo das garotas sem censura, cantando sentimentos que costumam ficar escondidos em diários secretos. Seu novo álbum, "Suposed Former Infatuation Junkie", segue o mesmo
caminho. Com 27 milhões de CDs
vendidos e shows que viram catarse, Alanis não escapa de ser porta-voz de uma geração.
(TM)
1998
"Celebrity Skin" Hole
Líder do Hole, a viúva de Kurt
Cobain superou a fama de "Yoko
Ono do grunge" e ganhou respeito
como roqueira e atriz. Depois do
suicídio do líder do Nirvana, ela teve outros namorados -coisa que
enraiveceu os fãs- e buscou o cinema, emplacando em "O Povo
Contra Larry Flint" (96). Quando o
rock parecia passado, retomou o
Hole e lançou "Celebrity Skin",
presente em todas as listas de melhores discos de 1998. Seu tema favorito: mulheres que desafiam
uma sociedade hipócrita.
(TM)
Texto Anterior: Como é a garota galinha, segundo os homens Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Quando as mulheres sofrem por nós Índice
|