São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOM

Elas fazem do rock coisa de mulher

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

O rock and roll nasceu machista. Afinal, "rock" e "roll" eram gírias que significavam fazer sexo; "sacudir e rolar" era aquilo que os rapazes queriam fazer com as meninas. Nos anos 50, não era de bom-tom uma garota cantar algo do gênero. Mas várias meninas da pesada foram quebrando tabus e marcando seu nome no rock. Nesta página, alguns discos fundamentais lançados por garotas corajosas

1971
"Tapestry" Carole King
Carole King começou sua carreira nos anos 60, quando as garotas pareciam estar destinadas apenas a fazer corinho para os roqueiros. Se Janis abriu seu caminho no grito, Carole fez coisa até mais difícil: vencer como compositora, dando sucessos de bandeja aos amigos, como James Taylor -é dela o hit do cantor, "You've Got a Friend". Quando foi convencida a gravar suas músicas, soltou um álbum arrasador, "Tapestry", que vendeu até hoje 11 milhões de cópias. O maior sucesso do disco: "It's Too Late", clássico absoluto que toca sempre nas FMs. Carole King, que lança seu 18º disco em abril, foi a primeira mulher reconhecida como poeta no rock. (TM)



1975
"Horses" Patti Smith Group
Patti Smith começou poeta, ficou amiga de Andy Warhol, foi musa do dramaturgo Sam Shepard e do fotógrafo Robert Mapplethorpe e acabou como diva do punk americano. Escrevia letras de rock inspirada em poetas franceses malditos, como Rimbaud e Baudelaire. Versão feminina da mistura de Bob Dylan e Lou Reed, Patti lançou quatro álbuns com sua banda nos anos 70, mas nenhum superou o impacto da estréia, "Horses", repleto de canções sobre religião, sexo e morte. No auge do sucesso, resolveu abandonar a carreira. Cuidou dos filhos por oito anos, mas voltou ao rock em 1988. Há dois anos lançou o sétimo álbum, "Peace and Noise". (TM)



1978
"Parallel Lines" Blondie
Debbie Harry assumiu o papel de Marilyn Monroe de uma geração que dizia não precisar de mitos. Debbie assumiu tudo: era uma ex-coelhinha da "Playboy", loira falsa, sem experiência de cantar ou dançar. Mas ocupou o vocal do Blondie, a mais bem-sucedida banda da new wave americana, fazendo pose de loira fatal. O modelo do grupo -garota canta e rapazes tocam- foi seguido por centenas de bandas. Hoje, com tanta menina tocando guitarra, parece pouca coisa, mas, há duas décadas, com o estouro mundial do álbum "Parallel Lines", o Blondie deu um golpe mortal no machismo do rock. A banda voltou a se reunir e acaba de lançar o CD "No Exit". (TM)



1980
"The Pretenders" The Pretenders
A americana Chrissie Hynde foi tentar a sorte na Inglaterra, em 1976. Foi garçonete e jornalista, vivenciando a explosão do punk. Escrevia canções toscas, que ganharam requinte melódico nas mãos do guitarrista James Honeyman-Scott, parceiro dela no Pretenders. Ele morreu de overdose em 1982, mas o grupo segue até hoje. O primeiro disco da banda (de 80) é um clássico new wave. As letras, todas de Chrissie, falam da dificuldade de garotas conquistar espaço no mundo machista do rock. (TM)



1968
"Cheap Thrills", Janis Joplin
Em 11 de junho de 1965, Janis Joplin, então com 22 anos, cantou pela primeira vez com o grupo Big Brother & the Holding Company, no Avalon Ballroom (San Francisco). A partir desse show, o jeito de cantar mudou radicalmente no rock and roll. Janis conseguia misturar a essência do blues, um canto sofrido e passional, com a urgência do rock and roll. Seu estilo encontrou eco no movimento hippie que surgia na América. Janis simbolizava uma mulher livre numa época em que as bandeiras da liberdade de comportamento eram desfraldadas pelos jovens. Em 1967, ela levou o público ao delírio no festival Monterey Pop, marco do "flower power". O segundo álbum da cantora, "Cheap Thrills", alcançou o topo da parada americana em outubro de 1968, no auge da psicodelia. O consumo intenso de drogas e bebidas jogou a cantora numa espiral de autodestruição. Ela tinha dificuldade para lidar com a adoração dos fãs e não encontrou apoio de amigos ou namorados. "Eu faço amor com 20 mil pessoas no palco e depois vou dormir sozinha", dizia. Janis foi achada morta em um hotel de Hollywood, no dia 4 de outubro de 1970, com picadas recentes em seu braço. Causa da morte: overdose de heroína. (TM)



1975
"Fruto Proibido", Rita Lee
Quando Rita Lee deixou os Mutantes, grupo que integrou nos anos 60 ao lado dos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, ninguém apostava em sua carreira solo. Mas ela seguiu em frente e, em 1975, com sua banda de apoio, o Tutti Frutti, lançou um marco definitivo no rock brazuca, "Fruto Proibido". A canção "Ovelha Negra" sintetizava sua condição de mulher num mundo machista e de roqueira numa terra de samba e violão. Depois de alguns álbuns roqueiros, estourou nacionalmente com o pop romântico "Mania de Você", em 1979, e seguiu a carreira nesse filão. (TM)



1984
"Like a Virgin" Madonna
Madonna é um caso raro de ligação duradoura com o sucesso. Mudando de visual, de atitude e até de estilo musical, numa sucessão de discos e clipes produzidos por craques da área, ela garante espaço no noticiário, apoiada por lances polêmicos em sua vida pessoal -namorados e namoradas famosos, o desafio de estrelar "Evita", no cinema, o "pai de aluguel" que arranjou para ter a filha, Lourdes Maria. "Like a Virgin", seu segundo álbum, tem letras que pregam um novo feminismo, incentivando garotas a assumir o lado "Material Girl" (um dos hits do álbum) para seduzir homens só pelo dinheiro. Madonna mantém controle total da carreira, e isso incomoda. (TM)



1984
"Private Dancer" Tina Turner
Tina Turner foi reconhecida como uma das grandes vozes do soul e rhythm'n'blues desde sua parceria com o marido, Ike, nos anos 60. Os dois venderam discos, excursionaram com os Stones e criaram alguns clássicos. Depois de muito apanhar do violento Ike, conseguiu o divórcio, e sua carreira declinou. Tina só deu a volta por cima com o primeiro álbum solo, "Private Dancer", produzido por Mark Knopfler, do Dire Straits, com apoio dos camaradas Mick Jagger, David Bowie e Rod Stewart. Então com 46 anos, conseguiu o sucesso mundial, com 7 milhões de cópias vendidas. As canções falam de mulheres em busca de relacionamentos maduros. (TM)



1995
"Jagged Little Pill" Alanis Morissette
Depois de passar a adolescência como uma Angélica da televisão canadense, Alanis Morissette largou tudo e foi encontrar seu caminho. Achou seu rumo no rock, fazendo shows pelo circuito universitário e compondo canções intimistas. Quando reuniu esse material no álbum "Jagged Little Pill", a empatia com adolescentes foi imediata. Alanis fala do mundo das garotas sem censura, cantando sentimentos que costumam ficar escondidos em diários secretos. Seu novo álbum, "Suposed Former Infatuation Junkie", segue o mesmo caminho. Com 27 milhões de CDs vendidos e shows que viram catarse, Alanis não escapa de ser porta-voz de uma geração. (TM)



1998
"Celebrity Skin" Hole
Líder do Hole, a viúva de Kurt Cobain superou a fama de "Yoko Ono do grunge" e ganhou respeito como roqueira e atriz. Depois do suicídio do líder do Nirvana, ela teve outros namorados -coisa que enraiveceu os fãs- e buscou o cinema, emplacando em "O Povo Contra Larry Flint" (96). Quando o rock parecia passado, retomou o Hole e lançou "Celebrity Skin", presente em todas as listas de melhores discos de 1998. Seu tema favorito: mulheres que desafiam uma sociedade hipócrita. (TM)





Texto Anterior: Como é a garota galinha, segundo os homens
Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Quando as mulheres sofrem por nós
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.