São Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

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MÚSICA

Jair Oliveira lança "Outro", que mistura R&B, jazz e samba

Deixem que digam, que pensem, que falem

DA REPORTAGEM LOCAL

"Sou o único responsável pelo disco, tanto pelas coisas bem comentadas quanto pelas criticadas." O modo como Jair Oliveira fala de "Outro", seu segundo disco solo, pode parecer pretensioso, mas, quando se trata de trabalho, o filho de Jair Rodrigues é mesmo centralizador.
Com carta-branca da gravadora Trama, ele compôs todas as faixas -há apenas uma parceria com Ed Motta e um poema musicado de José Domingos-, produziu o disco, fez as programações e os arranjos, tocou teclado e violão e cantou.
O resultado é uma produção refinada, que mescla samba de raiz, samba-jazz e black music, principalmente rhythm & blues, fórmula semelhante à de seu disco de estréia, "Disritmia".
A principal diferença entre o primeiro trabalho e "Outro" é que o samba ganhou espaço. As faixas "Dor de Ressaca", "Falso Amor" e "Local Proibido" reabilitam velhos temas do gênero. A primeira é uma leitura, na linha Chico Buarque, da malandragem, e a segunda lembra os sambas de gente da velha-guarda como Nelson Sargento. Já "Local Proibido" é um sambão rasgado e malicioso, sem ser chulo.
Amor e relacionamentos são os grandes motes de "Outro". Mas as letras não carregam a tristeza e a desilusão do primeiro disco. ""Disritimia" era mais denso, eu tinha acabado de terminar um relacionamento de sete anos. Esse é mais alegre, o brasileiro gosta de alegria", diz Oliveira. "Nesse disco também falo de outros temas, como a violência de São Paulo e os atentados que aconteceram no ano passado."
Entretanto, o disco é cheio de romantismo e tem alguns momentos bem melados, como a música de trabalho "Bom Dia, Anjo". Aliás, o ponto fraco de "Outro" são as letras, com algumas exceções, entre elas "Uma Outra Beleza", releitura de "Sampa", de Caetano Veloso, e "Vai e Volta", que inclui um texto de Ignácio de Loyola Brandão, lido pelo escritor.
Ouvindo com atenção, os mais de 70 minutos de "Outro" revelam um compositor compulsivo, que tem cerca de 180 músicas na gaveta, e um produtor meticuloso -ele estudou produção musical na conceituada Berkeley College of Music, nos EUA.
E ajudam a esquecer o Jairzinho da Turma do Balão Mágico, conjunto infantil que precedeu o programa diário da Xuxa nas manhãs animadas da Globo.
Jairzinho é o primeiro dos integrantes do grupo a construir uma carreira consistente.
A cantora Simony ficou mais conhecida pelo "affair" com o rapper Afro X e por um disco repleto de babas.
Morando em Londres, Mike Biggs, outro integrante do grupo, está pré-produzindo o seu primeiro trabalho solo. Segundo ele, será um disco de pop inglês com sotaque brasileiro. Resta esperar. (GUILHERME WERNECK)


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