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FOLHATEEN EXPLICA
Defensores vêem chance de o artista controlar seus direitos
A polêmica da lei de numeração de discos e livros
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há muitos e muitos anos, não se via na música popular brasileira uma mobilização -e
uma confusão- do tamanho da que está
sendo causada pela aprovação do projeto de
lei que prevê a numeração, cópia por cópia,
de obras autorais como discos e livros.
O projeto foi apresentado pela deputada
Tânia Soares (PC do B-SE) e já foi aprovado
na Câmara dos Deputados e no Senado -falta agora somente a sanção do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Desde o início da tramitação, o músico carioca Lobão, 44, tomou o posto de líder do
lobby em favor da aprovação, argumentando
que é uma luta antiga da classe. Para ele e para
a sambista Beth Carvalho, 56, com quem divide a liderança do movimento, a numeração é
uma medida que garantiria maior controle
dos artistas sobre as vendagens de suas obras
e os pagamentos de direitos autorais.
Para muitos artistas, os procedimentos das
gravadoras brasileiras nessa área (e em várias
outras) são duvidosos e nada transparentes.
Defendem, então, que a numeração seria um
primeiro passo no esforço de moralização da
relação entre gravadoras, artistas e público,
desgastada por fatores como a pirataria e o
domínio massacrante e hoje decadente da
música de mercado (axé, pagode) nos 90.
Só depois que o projeto foi aprovado por
unanimidade na Câmara as gravadoras se deram conta, e aí começou a gritaria. Afirmam
que a numeração é inviável industrialmente,
que encareceria os CDs e que facilitaria a já
descontrolada ação dos piratas.
Apegam-se, em sua argumentação, a detalhes falhos da redação do projeto -como a
determinação de que o autor assine sua obra
cópia por cópia, ou a afirmação equivocada
de que nos EUA os CDs são numerados- para desqualificar a lei e Lobão, artista que, por
sua rebeldia e por sua língua solta, há muito é
odiado por dirigentes de várias grandes gravadoras. A deputada e Lobão admitem que há
imperfeições no texto, mas garantem que elas
seriam corrigidas na regulamentação da lei.
A classe musical reagiu à mobilização proposta por Lobão e Beth. Na última quinta,
uma lista de quase 30 autores e artistas, encabeçada por músicos como Roberto Carlos,
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sandy e Junior e
pelos escritores João Ubaldo Ribeiro, Carlos
Heitor Cony e Fernando Sabino, foi encaminhada a FHC defendendo o veto à lei.
Quem aderiu em peso à idéia de numeração
foram, por exemplo, artistas ligados ao samba
e ao hip hop -ou seja, às camadas mais marginalizadas da MPB. Luta de classes na música
popular? Parece.
Enquanto isso, FHC se teria comprometido
a sancionar rapidamente o projeto, mas sua
decisão ainda é desconhecida.
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