São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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comportamento

fora da ordem

Eles se recusam a ficar igual a todo o resto e com uma tesoura na mão transformam seus uniformes escolares

Danilo Verpa/Folha Imagem
Fernanda, 13, corta tudo para ficar diferente dos outros colegas

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eles são obrigados a usar o uniforme da escola todos os dias. Mas sempre acabam dando um jeitinho de colocar seu toque pessoal na roupa escolar.
É o caso de Thainara Sousa Santos, 16. Em seu colégio, o uniforme completo é obrigatório somente no ensino fundamental. A partir daí, a única exigência é o uso da camiseta da instituição. Mesmo assim, Thainara, que está no segundo colegial, faz questão de mostrar que tem estilo. Para isso, ela só precisa de uma boa tesoura. "Eu corto a manga, a barra e a gola e procuro deixar a blusa mais caída. Fica mais confortável e mais bonito."
A garota é a favor do uso do uniforme, mas defende uma espécie de "casual friday escolar". "O uniforme é bom porque assim não sujo as roupas de sair, mas eles poderiam liberar pelo menos um dia por semana, para cada um se vestir como quiser."
Victoria Lage Rodrigues, 15, também corta as camisetas da escola. Mas ela garante que não se importa de ficar igual a todo mundo e que o conforto conta mais do que a estética. "Fico mais à vontade com a camiseta cortada." Victoria mudou de escola no ano passado e, na anterior, não havia a obrigatoriedade do uniforme. "Acabava sendo um desfile de moda. Algumas meninas iam de minissaia ou decotadas demais."

Sem decotes
Augusta Procópio Fernandes, 15, que estuda na mesma escola de Vitória, também é contra os decotes. "O colégio não é um lugar apropriado para isso. Estamos lá para estudar, não para mostrar o corpo". Para ela, que passa a tesoura em todas suas blusas do colégio, a personalização do uniforme tem limite. "Cortar um pouco tudo bem, o problema é abusar." Augusta já foi repreendida pela diretora por ter modificado a roupa da escola. "Teoricamente, não podemos fazer isso, mas eu continuo usando minhas blusas cortadas normalmente", afirma. "É chato ficar igual a todo mundo".
Fernanda Perini De Mare, 13, também é partidária do uniforme. "Acho que eu ia acabar indo com a mesma roupa todo dia de qualquer jeito, se tivesse escolha", afirma. Mas ela acha que seu colégio é rigoroso demais. "Só podemos usar casacos que não tenham nada escrito", exemplifica. Para fugir da mesmice, ela usa blusas de manga comprida ou pólo por baixo da camiseta do colégio e corta a barra das calças para deixá-las mais abertas. "Eu inovei um pouco, mas também não quero sair demais do padrão."
Luisa Fraga Chicani, 15, resolveu dar um ar mais profissional à sua customização. Em vez de simplesmente cortar a barra da calça, mandou costurar um zíper nas laterais, embaixo. "Assim, a calça não fica tão bico fino."
O modelo já lhe causou problemas na hora de entrar na escola. "Fechei o zíper na hora e abri logo em seguida, quando não tinha ninguém prestando atenção. Todo mundo faz isso".

Exagero
Para a psicóloga clínica Elizabeth Brandão, professora da PUC-SP, a adoção do uniforme tem suas vantagens e desvantagens. "Em determinadas faixas de idade, o processo de escolher a roupa pode se tornar mais importante do que a ida à escola. Isso complica a vida escolar desnecessariamente", acredita. "Mas eu acho um exagero certas escolas não permitirem que o uniforme seja minimamente personalizado. Essa personalização é uma forma de o jovem se colocar e criar sua identidade."


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