São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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VOTAR PARA QUÊ?

Jovens decidem se querem votar, e escolas estimulam a participação democrática

Eleitores ou desertores?

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem tem hoje 16 anos e pretende votar pela primeira vez nas eleições de 6 de outubro ainda não tinha nem nascido quando o regime militar terminou, em 1985. Portanto, só sabe que durante muito tempo os brasileiros não podiam nem escolher seu presidente por relatos de pais ou pelos livros de história.
Essa distância de uma vida torna mais difícil a tarefa de decidir se vale ou não a pena participar das eleições (até 18 anos, o voto é facultativo).
O Folhateen ouviu 35 jovens de 16 e 17 anos para saber o que eles pensam sobre votar. As opiniões estão divididas (veja declarações ao lado).
Entre os que decidiram tirar o título, há um sentimento comum: o Brasil precisa mudar, e votar é a melhor maneira de fazer com que as mudanças aconteçam.
Já do lado dos que não quiseram saber de votar, foi possível identificar três razões principais: o desânimo de enfrentar as filas para tirar o título de eleitor, o julgamento de ser imaturo para votar e o total desinteresse por qualquer forma de política e pelas eleições.
Em tempos em que quase só se fala de política, quem pensa assim deve estar sofrendo, pois as discussões sobre eleições chegaram ao currículo escolar. Neste semestre, programas interdisciplinares para conscientização política foram adotados por escolas como o Bandeirantes, o São Luís, o Santo Américo, o Discere Laboratum e o Domus Sapientiae.
No programa Cidadania, do Bandeirantes, alunos do segundo ano do ensino médio participam de dois fóruns. Eles discutem os problemas que serão enfrentados pelo próximo presidente da República e pelo governador do Estado.
Os fóruns abordam questões que vão desde a organização política até a análise de propostas de combate à violência. "A escola também trará três candidatos a deputado federal, do PT, do PSDB e do PPS, para debates", diz Clarice Kelbert, coordenadora do programa.
No Santo Américo, candidatos e partidos não entram. "Passamos aos alunos os princípios da política, mas não fazemos política partidária. Abrir espaço para um candidato pode dar vantagem a ele", explica o vice-reitor do colégio, dom Geraldo Gonzáles y Lima. Nestas eleições, o colégio fará uma simulação da eleição em que todos os alunos votarão em uma urna eletrônica criada no laboratório de informática. "Todos votarão para presidente, governador, senadores e deputados, e o resultado será publicado em nosso jornal."
O São Luís também simulará as eleições, usando urnas eletrônicas desenvolvidas por alunos do curso técnico de processamento de dados. "A votação integra o projeto eleições, que engloba as disciplinas de história, geografia e estudo religioso", diz Adilson Antônio Quarenta, professor de ensino religioso. O projeto estuda desde a formação dos partidos políticos e dos tipos de processo eleitoral até a análise das propostas dos diferentes candidatos.
No Discere Laboratum, alunos de sétima série são candidatos. Em um projeto, eles elaboraram suas propostas e estão em plena campanha, com direito até a programa eleitoral em vídeo. Já o Domus Sapientiae não trata diretamente das eleições, mas está estimulando seus alunos a criarem projetos para o Parlamento Jovem, da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Se a sua escola não tem trabalhado as eleições, você pode estudar o assunto por conta própria. Acaba de ser lançado o livro "Onde Está a Democracia?" (ed. UFMG, 121 pgs., R$ 19), dos cientistas políticos José Eisenberg e Thamy Pogrebinschi. "É um livro didático, um grande manual para esses jovens que estão se formando eleitores", diz Thamy.

Cada voto conta
Segundo dados do censo eleitoral realizado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o Brasil terá nas próximas eleições 2.218.010 eleitores de 16 e 17 anos. Para dar uma noção do que isso representa, no Censo 2000, a população de jovens de 15 a 17 anos no país era de 10.581.468.
Se você acha que parece pouco, lembre-se de que cada voto conta. E que, como disse o jogador Kaká, as pessoas eleitas por você farão as políticas que estarão valendo quando você estiver na faculdade ou começando a sua vida profissional.



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