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VOTAR PARA QUÊ?
Jovens decidem se querem votar, e escolas estimulam a participação democrática
Eleitores ou desertores?
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem tem hoje 16 anos e pretende votar
pela primeira vez nas eleições de 6 de
outubro ainda não tinha nem nascido
quando o regime militar terminou, em
1985. Portanto, só sabe que durante muito
tempo os brasileiros não podiam nem escolher seu presidente por relatos de pais
ou pelos livros de história.
Essa distância de uma vida torna mais
difícil a tarefa de decidir se vale ou não a
pena participar das eleições (até 18 anos, o
voto é facultativo).
O Folhateen ouviu 35 jovens de 16 e 17
anos para saber o que eles pensam sobre
votar. As opiniões estão divididas (veja
declarações ao lado).
Entre os que decidiram tirar o título, há
um sentimento comum: o Brasil precisa
mudar, e votar é a melhor maneira de fazer com que as mudanças aconteçam.
Já do lado dos que não quiseram saber
de votar, foi possível identificar três razões
principais: o desânimo de enfrentar as filas para tirar o título de eleitor, o julgamento de ser imaturo para votar e o total
desinteresse por qualquer forma de política e pelas eleições.
Em tempos em que quase só se fala de
política, quem pensa assim deve estar sofrendo, pois as discussões sobre eleições
chegaram ao currículo escolar. Neste semestre, programas interdisciplinares para
conscientização política foram adotados
por escolas como o Bandeirantes, o São
Luís, o Santo Américo, o Discere Laboratum e o Domus Sapientiae.
No programa Cidadania, do Bandeirantes, alunos do segundo ano do ensino médio participam de dois fóruns. Eles discutem os problemas que serão enfrentados
pelo próximo presidente da República e
pelo governador do Estado.
Os fóruns abordam questões que vão
desde a organização política até a análise
de propostas de combate à violência. "A
escola também trará três candidatos a deputado federal, do PT, do PSDB e do PPS,
para debates", diz Clarice Kelbert, coordenadora do programa.
No Santo Américo, candidatos e partidos não entram. "Passamos aos alunos os
princípios da política, mas não fazemos
política partidária. Abrir espaço para um
candidato pode dar vantagem a ele", explica o vice-reitor do colégio, dom Geraldo
Gonzáles y Lima. Nestas eleições, o colégio
fará uma simulação da eleição em que todos os alunos votarão em uma urna eletrônica criada no laboratório de informática. "Todos votarão para presidente, governador, senadores e deputados, e o resultado será publicado em nosso jornal."
O São Luís também simulará as eleições,
usando urnas eletrônicas desenvolvidas
por alunos do curso técnico de processamento de dados. "A votação integra o projeto eleições, que engloba as disciplinas de
história, geografia e estudo religioso", diz
Adilson Antônio Quarenta, professor de
ensino religioso. O projeto estuda desde a
formação dos partidos políticos e dos tipos de processo eleitoral até a análise das
propostas dos diferentes candidatos.
No Discere Laboratum, alunos de sétima
série são candidatos. Em um projeto, eles
elaboraram suas propostas e estão em plena campanha, com direito até a programa
eleitoral em vídeo. Já o Domus Sapientiae
não trata diretamente das eleições, mas está estimulando seus alunos a criarem projetos para o Parlamento Jovem, da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Se a sua escola não tem trabalhado as
eleições, você pode estudar o assunto por
conta própria. Acaba de ser lançado o livro
"Onde Está a Democracia?" (ed. UFMG,
121 pgs., R$ 19), dos cientistas políticos José Eisenberg e Thamy Pogrebinschi. "É
um livro didático, um grande manual para
esses jovens que estão se formando eleitores", diz Thamy.
Cada voto conta
Segundo dados do censo eleitoral realizado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o Brasil terá nas próximas eleições
2.218.010 eleitores de 16 e 17 anos. Para dar
uma noção do que isso representa, no Censo 2000, a população de jovens de 15 a 17
anos no país era de 10.581.468.
Se você acha que parece pouco, lembre-se de que cada voto conta. E que, como disse o jogador Kaká, as pessoas eleitas por
você farão as políticas que estarão valendo
quando você estiver na faculdade ou começando a sua vida profissional.
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