JAIRO BOUER
COLUNISTA DA FOLHA

Sua pergunta traz vários pontos interessantes para nós refletirmos um pouco sobre as atitudes que tomamos na vida e o peso que elas podem ter. Em primeiro lugar, será que essa história de transar com uma amiga que está casada é uma boa idéia?
OK, vocês são amigos, vocês se conhecem há um tempão, e ela se casou. Rola atração entre vocês, e o limite do casamento não foi barreira para que os dois se encontrassem.
Mas o que, por exemplo, você espera dessa história? Que ela rompa com o marido? Você quer mesmo ser mais do que um amigo? Será que esses encontros casuais ou até rotineiros dão conta das suas necessidades emocionais?
Trocando em miúdos, com a flexibilização de hábitos e de comportamentos, muitas vezes a gente acaba ficando com alguém sem pensar muito nas consequências. Será que, se a camisinha não tivesse estourado, os dois estariam ótimos, sem qualquer tipo de ressaca emocional ou peso na consciência, prontos para a próxima?
Mas a camisinha estourou, e a história mudou de figura. Aí você resolveu não contar a ela o que aconteceu, com medo de que ela ficasse preocupada. Não teria sido muito melhor dividir com ela essa situação já que os dois estavam lá, juntos, por vontade própria?
E se ela engravidar? Aposto que esse é o seu grande medo! Será que o marido iria desconfiar? Será que a relação dela seria abalada? Será que você teria que assumir responsabilidades? Sim, meu amigo, relacionamento implica comprometimento e responsabilidade, e é disso que muita gente corre. Será que esse seu agudo surto de preocupação não tem a ver justamente com o medo de que alguma coisa possa sobrar para você?
E é justamente sobre isso que a gente falava um pouco mais acima. Não dá para ir lá e transar com a amiga casada, achando que isso nunca vai ter nenhuma consequência. Você pode se apaixonar, ela pode se apaixonar, o marido pode descobrir, alguém pode ver, os envolvidos podem sofrer, a camisinha pode estourar etc. Que tal pensar um pouquinho sobre tudo isso antes?
Do ponto de vista prático, você tem que contar para ela o que aconteceu. Assim ela tem a possibilidade de procurar um ginecologista para avaliar o risco que corre e checar o que pode ser feito. A pílula do dia seguinte, método de contracepção de emergência, só tem efeito se for tomada até 72 horas (três dias) depois da relação suspeita. Depois desse prazo, a função dela (evitar uma gravidez indesejada) cai muito.
Vale a pena pensar em tudo o que aconteceu com vocês e aprender um pouco com esse sufoco que os dois estão enfrentando agora, certo?



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