São Paulo, Segunda-feira, 10 de Janeiro de 2000


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Bauru quer ir além do sanduíche

CLAUDIA ASSEF
da Reportagem Local



Entediado com a caretice do cerrado, um grupo de jovens de Brasília injetou ânimo no moribundo rock nacional do início dos anos 80.
Assim nasceram bandas como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Paralamas, que, juntas, conseguiram arremeter o velho rock de volta aos holofotes do mundo pop, lado a lado com sertanejos, lambadeiros, românticos e outros micos populares naquela década.
Agora a cidade de Bauru (345 km a noroeste de São Paulo), mais conhecida como um centro agropecuário e de serviços, quer reproduzir a missão dos candangos oitentistas: a de difundir o rock alternativo. Pelo menos, é esse o desejo dos roqueiros bauruenses.
Qualidade e força de vontade eles têm de sobra. Bandas como Drifter, Six Seven Hate, Angry, Crepúsculo, Sluts, Vítimas do Kaos, Bonequinho e Omen Filth esbanjam frescor e honestidade em fitas e CDs independentes.
"O que falta aqui é um lugar legal para a gente tocar", diz Luciana Nascimento, 19, guitarrista da Vítimas do Kaos.
A cidade, que tem pouco mais de 300 mil habitantes, ganhou até um programa semanal na rádio Unesp (Universidade Estadual Paulista) dedicado ao gênero.
"Temos as bandas e temos o público. Só falta alguém acreditar na cena roqueira daqui e investir nela", diz Jorge, 20, da banda de punk rock Six Seven Hate.
Bauru tem até uma festa anual de rock, que já virou tradição. É a October Fezes, realizada, é claro, em outubro, em algum bar ou salão de festas da cidade. A balada tem até um site bacana (www.octoberfezes.com.br) na Internet.
O projetista de móveis Ricardo Botta, 23, idealizador e organizador da festa, diz que criou o evento com a intenção de abrir um novo espaço para as bandas.
Além de organizar, Ricardo acaba também tirando grana do bolso para garantir que a festa aconteça. "Em 99, gastei R$ 150. Mas só de ver a galera pulando nos shows já valeu a pena."
Ricardo ainda acumula a função de "zineiro". Seu fanzine, "Carniça", sobre música, futebol e comportamento, é bem-conceituado na região.

Do it yourself
A garotada de Bauru remonta ao som e também ao idealismo dos punks dos anos 70, que instituíram a máxima do "do it yourself" ("faça você mesmo").
A idéia levou o estudante de jornalismo Leonardo José Passos, 21, a criar o selo Nicotine Records, seis meses atrás.
"Há bandas muito boas por aí que são totalmente deixadas de lado, até mesmo pelas gravadoras pequenas", diz. As mais desprezadas são, segundo ele, as bandas de psychobilly e gótico.
"Por enquanto, dividimos as despesas com as bandas, mas, no futuro, queremos bancar tudo", diz. Enquanto isso, Leonardo divide seu tempo entre a faculdade, o selo e os fanzines "Yell", "Assogue" e "Breja".
O vocalista da banda Bonequinho, Aran, 19, também resolveu montar um pequeno selo, o Platonic Music, para ajudar bandas bauruenses a gravar. Aran também edita um fanzine, "The Circle", prática que se tornou comum entre os roqueiros da cidade. A banda, que existe desde 95, já gravou três CDs independentes, todos pelo Platonic.
Marco Aurélio Negrão, 18, baixista da banda Angry, tenta explicar o repentino aparecimento de tantas bandas de rock: "Bauru é uma cidade chata, como qualquer outra do interior. Mas acho que calhou de as pessoas daqui gostarem mais de rock".


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