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SOM
Bauru quer ir além do sanduíche
CLAUDIA ASSEF
da Reportagem Local
Entediado com a caretice do
cerrado, um grupo de jovens de
Brasília injetou ânimo no moribundo rock nacional do início dos
anos 80.
Assim nasceram bandas como
Legião Urbana, Capital Inicial,
Plebe Rude e Paralamas, que, juntas, conseguiram arremeter o velho rock de volta aos holofotes do
mundo pop, lado a lado com sertanejos, lambadeiros, românticos
e outros micos populares naquela
década.
Agora a cidade de Bauru (345
km a noroeste de São Paulo), mais
conhecida como um centro agropecuário e de serviços, quer reproduzir a missão dos candangos
oitentistas: a de difundir o rock alternativo. Pelo menos, é esse o desejo dos roqueiros bauruenses.
Qualidade e força de vontade
eles têm de sobra. Bandas como
Drifter, Six Seven Hate, Angry,
Crepúsculo, Sluts, Vítimas do
Kaos, Bonequinho e Omen Filth
esbanjam frescor e honestidade
em fitas e CDs independentes.
"O que falta aqui é um lugar legal para a gente tocar", diz Luciana Nascimento, 19, guitarrista da
Vítimas do Kaos.
A cidade, que tem pouco mais
de 300 mil habitantes, ganhou até
um programa semanal na rádio
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) dedicado ao gênero.
"Temos as bandas e temos o público. Só falta alguém acreditar na
cena roqueira daqui e investir nela", diz Jorge, 20, da banda de
punk rock Six Seven Hate.
Bauru tem até uma festa anual
de rock, que já virou tradição. É a
October Fezes, realizada, é claro,
em outubro, em algum bar ou salão de festas da cidade. A balada
tem até um site bacana (www.octoberfezes.com.br) na Internet.
O projetista de móveis Ricardo
Botta, 23, idealizador e organizador da festa, diz que criou o evento com a intenção de abrir um novo espaço para as bandas.
Além de organizar, Ricardo acaba também tirando grana do bolso para garantir que a festa aconteça. "Em 99, gastei R$ 150. Mas só
de ver a galera pulando nos shows
já valeu a pena."
Ricardo ainda acumula a função de "zineiro". Seu fanzine,
"Carniça", sobre música, futebol e
comportamento, é bem-conceituado na região.
Do it yourself
A garotada de Bauru remonta
ao som e também ao idealismo
dos punks dos anos 70, que instituíram a máxima do "do it yourself" ("faça você mesmo").
A idéia levou o estudante de jornalismo Leonardo José Passos, 21,
a criar o selo Nicotine Records,
seis meses atrás.
"Há bandas muito boas por aí
que são totalmente deixadas de
lado, até mesmo pelas gravadoras
pequenas", diz. As mais desprezadas são, segundo ele, as bandas de
psychobilly e gótico.
"Por enquanto, dividimos as
despesas com as bandas, mas, no
futuro, queremos bancar tudo",
diz. Enquanto isso, Leonardo divide seu tempo entre a faculdade,
o selo e os fanzines "Yell", "Assogue" e "Breja".
O vocalista da banda Bonequinho, Aran, 19, também resolveu
montar um pequeno selo, o Platonic Music, para ajudar bandas
bauruenses a gravar. Aran também edita um fanzine, "The Circle", prática que se tornou comum entre os roqueiros da cidade. A banda, que existe desde 95,
já gravou três CDs independentes,
todos pelo Platonic.
Marco Aurélio Negrão, 18, baixista da banda Angry, tenta explicar o repentino aparecimento de
tantas bandas de rock: "Bauru é
uma cidade chata, como qualquer
outra do interior. Mas acho que
calhou de as pessoas daqui gostarem mais de rock".
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