São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

Texto Anterior | Índice

Escuta aqui

>> Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

A melhor reportagem de guerra

SE VOCÊ AINDA não leu, faça isso correndo. Se você não sabe inglês, é hora de aprender. Se você tem algum interesse por jornalismo, não perca. Falo da reportagem "Battle company is out there" (a companhia de combate está no fim do mundo, em tradução livre), de Elizabeth Rubin, capa da revista do jornal "The New York Times", de 24/2.
Passei as últimas duas semanas viajando a trabalho em lugares distantes, fiquei meio fora do circuito. Li na viagem. Na volta, achei que alguém no Brasil tivesse comentado ou traduzido. Nada.
Não sei se foi a própria Rubin ou um editor, mas alguém escolheu a dedo o lugar da reportagem: um ponto perdido e ultraviolento chamado vale do Korengal, no extremo nordeste do Afeganistão.
Se o conflito no Afeganistão aparece menos que o do Iraque, essa região, então, é mais invisível ainda. Ali acontece uma guerra tribal superespecífica, que não tem a menor importância para o governo central afegão -o qual, aliás, é 100% ausente nesse fim de mundo.
Para os soldados americanos, não há nenhuma fortificação especial, eles ficam dentro de um cercado ("the wires", como chamam). A poucos metros desse limite, o couro come, as balas voam, a vida não vale nada.
Rubin acompanha os militares em missões quase suicidas. Em uma situação extrema, tantos tiros são disparados, e o perigo é tamanho, que um oficial se joga sobre a repórter, empurrando-a para um casebre. Na queda, Rubin corta o braço num prego. Repórter fria a politicamente correta, ela desabafa: ao ver o sangue escorrendo da ferida, entendeu por um instante o sentimento de alguns militares que têm vontade de trucidar o primeiro afegão que virem pela frente.
Por mais que eu tente descrever, não vou transmitir a sensação bruta de ler algo tão jornalisticamente relevante. Espero que você sinta o mesmo: www.nytimes.com/2008/02/24/magazine/24afghanistan-t.html?ref=magazine.

CD PLAYER

PLAY - "Senhores do Crime", filme de David Cronenberg
David Lynch deveria aprender com Cronenberg como ser ousado sem ser chato e incompreensível. A facada no olho, dentro de uma sauna, é dez.

PLAY - "Made in the Dark", da banda Hot Chip
O soberbo mix de rock e eletrônica do Hot Chip melhora a cada disco. Legal: é moderno mas não é infantil.

EJECT - Arcade Fire toca para Obama
AF apóia Obama, assim como trocentos indies, fashionistas e bonzinhos em geral. Obama, teu nome é McGovern (pergunte a seu professor de história).


Texto Anterior: + CDs
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.