São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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Mission of Burma, 146 anos de juventude e brutalidade

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Se a Terra ainda gira em torno de seu eixo, se tudo correu como previsto, os Pixies passaram pelo Brasil no fim de semana passado para um show único em Curitiba (escrevo a coluna na quinta-feira anterior à apresentação, por isso não dá para garantir se vieram mesmo). Os Pixies, você sabe, influenciaram fortemente o Nirvana, que, por sua vez, influenciou todos os seres vivos pensantes deste sistema solar. Ficou para a história uma frase de Kurt Cobain, do Nirvana, sobre a canção mais famosa que ele escreveu, "Smells Like Teen Spirit": "Aquilo éramos nós tentando imitar os Pixies".
Agora... que tal voltar um pouco mais no tempo e descobrir quem influenciou os Pixies? Isso mesmo. Quem foi, para os Pixies, o mesmo que os Pixies foram para o Nirvana?!
Não precisa quebrar muito a cabeça, porque a resposta está aqui: o grupo que moldou o som dos Pixies chama-se Mission of Burma -de Boston, nordeste dos EUA. Eles não gravavam juntos fazia 22 anos. Estão de volta com o álbum "ONoffON", assim mesmo, cheio de maiúsculas e minúsculas. O disco saiu na quarta-feira passada nos EUA. E pode acreditar em "Escuta Aqui": apesar de as idades dos componentes do MoB somarem 146 anos, você dificilmente vai escutar, em 2004, algo mais energético e irado do que esse "ONoffON". Duas faixas, sozinhas, já valem o disco: "Fever Moon" (diz a letra: "Estou com calor/ Estou com frio/ Quando essa febre tomou conta de mim?") e "Wounded World", apocalíptica, em que Miller grita para alguém: "Vou fazer você desejar/ Que eu tivesse morrido".
Os três remanescentes do Mission of Burma são Clint Conley, 48 (baixo e vocais), Peter Prescott, 46 (bateria e vocais), e Roger Miller, 52 (guitarrista e gênio da coisa toda). Em comparação, bandas jovens com adrenalina a mil por hora, como Libertines, Vines e Rapture, não servem nem para limpar o chão dos palcos onde o MoB se apresenta.
Ouvindo "ONoffON", quem gosta de Pixies vai entender, rapidamente, de onde vem a fórmula. As letras cultas, disparadas sobre texturas angulosas. O jogo entre brutalidade e poesia. A superposição harmoniosa de melodia e ruído branco.
"ONoffON" é um lançamento da Matador Records, importante selo independente dos EUA. Curiosamente, o presidente da gravadora, Gerard Cosloy, quando adolescente, entrava de graça, pelos fundos, nos shows do Mission of Burma. A banda liberava porque gostava do fanzine que o garoto escrevia, chamado "Conflict". "Agora, é ele quem deixa a gente entrar pela porta dos fundos -da indústria da música", brincam os coroas do MoB.
Não perca tempo: o site é http://www.matadorrecords.com/mission-of-burma/. Dá para ouvir três canções na íntegra, ver vídeos, ler sobre a história da banda, conferir as fotos.
O som supernovo dos moleques do TV On the Radio, de Nova York, e o som mais novo ainda dos tiozinhos do Mission of Burma, de Boston. Que belo ano este 2004.


Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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