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Mission of Burma, 146 anos de juventude e brutalidade
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Se a Terra ainda gira em torno de seu eixo,
se tudo correu como previsto, os Pixies
passaram pelo Brasil no fim de semana passado para um show único em Curitiba (escrevo a coluna na quinta-feira anterior à
apresentação, por isso não dá para garantir
se vieram mesmo). Os Pixies, você sabe, influenciaram fortemente o Nirvana, que, por
sua vez, influenciou todos os seres vivos pensantes deste sistema solar. Ficou para a história uma frase de Kurt Cobain, do Nirvana,
sobre a canção mais famosa que ele escreveu, "Smells Like Teen Spirit": "Aquilo éramos nós tentando imitar os Pixies".
Agora... que tal voltar um pouco mais no
tempo e descobrir quem influenciou os Pixies? Isso mesmo. Quem foi, para os Pixies, o
mesmo que os Pixies foram para o Nirvana?!
Não precisa quebrar muito a cabeça, porque a resposta está aqui: o grupo que moldou o som dos Pixies chama-se Mission of
Burma -de Boston, nordeste dos EUA. Eles
não gravavam juntos fazia 22 anos. Estão de
volta com o álbum "ONoffON", assim mesmo, cheio de maiúsculas e minúsculas. O disco saiu na quarta-feira passada nos EUA. E
pode acreditar em "Escuta Aqui": apesar de as
idades dos componentes do MoB somarem
146 anos, você dificilmente vai escutar, em
2004, algo mais energético e irado do que esse
"ONoffON". Duas faixas, sozinhas, já valem o
disco: "Fever Moon" (diz a letra: "Estou com
calor/ Estou com frio/ Quando essa febre tomou conta de mim?") e "Wounded World",
apocalíptica, em que Miller grita para alguém:
"Vou fazer você desejar/ Que eu tivesse morrido".
Os três remanescentes do Mission of Burma
são Clint Conley, 48 (baixo e vocais), Peter
Prescott, 46 (bateria e vocais), e Roger Miller,
52 (guitarrista e gênio da coisa toda). Em
comparação, bandas jovens com adrenalina a
mil por hora, como Libertines, Vines e Rapture, não servem nem para limpar o chão dos
palcos onde o MoB se apresenta.
Ouvindo "ONoffON", quem gosta de Pixies
vai entender, rapidamente, de onde vem a
fórmula. As letras cultas, disparadas sobre
texturas angulosas. O jogo entre brutalidade e
poesia. A superposição harmoniosa de melodia e ruído branco.
"ONoffON" é um lançamento da Matador
Records, importante selo independente dos
EUA. Curiosamente, o presidente da gravadora, Gerard Cosloy, quando adolescente, entrava de graça, pelos fundos, nos shows do
Mission of Burma. A banda liberava porque
gostava do fanzine que o garoto escrevia, chamado "Conflict". "Agora, é ele quem deixa a
gente entrar pela porta dos fundos -da indústria da música", brincam os coroas do
MoB.
Não perca tempo: o site é http://www.matadorrecords.com/mission-of-burma/. Dá
para ouvir três canções na íntegra, ver vídeos,
ler sobre a história da banda, conferir as fotos.
O som supernovo dos moleques do TV On
the Radio, de Nova York, e o som mais novo
ainda dos tiozinhos
do Mission of Burma,
de Boston. Que belo
ano este 2004.
Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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