São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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CIÊNCIA

Nem tudo tem resposta

RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A ciência ainda está longe de responder a muitas perguntas.
Algumas se referem a coisas que consideramos distantes de nós. Por exemplo: de que é feito o Universo ou de que maneiras as células morrem?
Outras dúvidas, entretanto, são sobre coisas de nosso cotidiano que, apesar da proximidade aparente, permanecem grandes mistérios.
O Folhateen selecionou quatro perguntas sem resposta ligadas ao nosso dia a dia para entender porque elas permancem sem solução.

POR QUE GRÁVIDAS NÃO REJEITAM O FETO?
Uma bactéria entra no seu corpo. Ele percebe que ela não faz parte dele, e a ataca. Se tiver sucesso, ela não o incomodará mais. Por que ele não faz o mesmo com um feto, do qual metade dos genes são estranhos à mãe? Por incrível que pareça, ainda não sabemos como o corpo dela sabe que, nesse caso, não deve atacar. Mesmo em "barrigas de aluguel" (quando o embrião é totalmente estranho à grávida), tudo funciona direito. Quem aproveita isso são os veterinários. "Talvez a resposta venha deles, que têm interesse nisso. Pegam o espermatozóide de um boi campeão, o óvulo de uma vaca campeã e colocam numa vaca hospedeira", diz Elisabeth Matheus, médica da Escola Paulista de Medicina (EPM).

POR QUE NÓS SONHAMOS?
Todo mundo sonha. Existem duas possíveis explicações para isso. Uma ideia é que, se não sonhássemos, morreríamos. Quando você dorme, seu corpo entra em "stand-by", seus batimentos cardíacos vão a menos de 40 por minuto. O sonho religa o corpo, acelera o metabolismo.
Outra é que ele serve para o aprendizado. Em geral, sonhamos com coisas que aconteceram no dia ou com aquilo que consideramos importante (esqueça sonhos heroicos e pesadelos terríveis, eles são minoria, você se lembra mais deles porque fazem você acordar). Essa repetição pode ajudar a fixar essas memórias em nosso cérebro.
Mas ainda não encontraram uma resposta definitiva. Nem sabemos muito bem como funciona a transição de consciência entre acordado e sonhando. "Se você joga água em alguém que dorme, a pessoa sonha com chuva, com rio", diz Sérgio Tufik, médico da EPM. "Você consegue dar uma acordadinha e mudar os rumos de seu sonho, até fazer coisas que gostaria. Mas, na vida, não consegue."

ATÉ ONDE PODE IR A EXPECTATIVA DE VIDA?
Não é difícil ver idosos na rua, mas nem sempre foi assim.
Antigamente se morria mais cedo. Na Idade Média, quem vivia mais de 30 anos deveria comemorar. Séculos depois, em 1960, a expectativa de vida no Brasil era de 54,6 anos. Em 2003, ela pulou para 71,3. Alguns países,como o Japão, já passam da marca dos 80. Até onde isso vai? A expectativa de vida não pode continuar aumentando para sempre. Mas qual é o limite?
"Tudo o que temos são projeções, em geral imaginando que a evolução científica continue no ritmo atual, com crescimento da engenharia genética. Ainda não temos a cura do câncer, por exemplo. É um processo lento, mas ele dará uma ampliação ainda maior do tempo de vida médio", diz Renato Veras, médico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
"Por outro lado, a evolução científica esbarrará na constituição genética e fisiológica. Além disso, existem mortes devido aos acidentes de trânsito, à violência na família, doenças de que morre gente jovem. Talvez apareçam novas doenças também. Há 30 anos ninguém conhecia a Aids, por exemplo."

ATÉ ONDE AS MÁQUINAS PODEM IR?
Computadores são tão importantes para nós que é difícil pensar que um dia sobrevivemos sem o Google. Eles podem acumular uma quantidade enorme de informação e fazer cálculos muito rápido. Mas poderão um dia imitar o cérebro humano e, digamos, escrever um romance original ou filosofar sobre o Universo?
Em 1997, pela primeira vez um computador venceu uma partida contra o campeão mundial de xadrez. "O xadrez é um jogo com um universo limitado de regras. Você cria, então, uma receita para o computador, e ensina jogadas boas ou ruins. Mas o cérebro humano é muito mais complexo do que um jogo de xadrez", diz Emilio Hernandez, engenheiro da USP.
Será que um dia poderemos reproduzi-lo? Teoricamente, sim. "Mas, para colocar algo no computador você precisar conhecer bem o sistema que está querendo imitar. E existe muita coisa em aberto na neurociência. Nem sabemos como funciona o cérebro, que estratégias ele usa. Então, estamos longe disso."

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