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CIÊNCIA
Nem tudo tem resposta
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A ciência ainda está longe de responder
a muitas perguntas.
Algumas se referem a coisas que
consideramos distantes de nós. Por
exemplo: de que é feito o Universo ou de que
maneiras as células morrem?
Outras dúvidas, entretanto, são sobre coisas
de nosso cotidiano que, apesar da proximidade
aparente, permanecem grandes mistérios.
O Folhateen selecionou quatro perguntas
sem resposta ligadas ao nosso dia a dia para entender porque elas permancem sem solução.
POR QUE GRÁVIDAS NÃO REJEITAM O FETO?
Uma bactéria entra no
seu corpo. Ele percebe
que ela não faz parte
dele, e a ataca. Se tiver sucesso,
ela não o incomodará mais.
Por que ele não faz o mesmo
com um feto, do qual metade
dos genes são estranhos à mãe?
Por incrível que pareça, ainda
não sabemos como o corpo dela
sabe que, nesse caso, não deve
atacar. Mesmo em "barrigas de
aluguel" (quando o embrião é
totalmente estranho à grávida),
tudo funciona direito. Quem
aproveita isso são os veterinários.
"Talvez a resposta venha
deles, que têm interesse nisso.
Pegam o espermatozóide de um
boi campeão, o óvulo de uma
vaca campeã e colocam numa
vaca hospedeira", diz Elisabeth
Matheus, médica da Escola
Paulista de Medicina (EPM).
POR QUE NÓS SONHAMOS?
Todo mundo sonha. Existem duas possíveis
explicações para isso.
Uma ideia é que, se não sonhássemos,
morreríamos. Quando
você dorme, seu corpo entra
em "stand-by", seus batimentos
cardíacos vão a menos de
40 por minuto. O sonho religa o
corpo, acelera o metabolismo.
Outra é que ele serve para o
aprendizado. Em geral, sonhamos
com coisas que aconteceram
no dia ou com aquilo que
consideramos importante (esqueça
sonhos heroicos e pesadelos
terríveis, eles são minoria,
você se lembra mais deles
porque fazem você acordar).
Essa repetição pode ajudar a
fixar essas memórias em nosso
cérebro.
Mas ainda não encontraram
uma resposta definitiva.
Nem sabemos muito bem
como funciona a transição
de consciência entre acordado
e sonhando. "Se você joga
água em alguém que dorme, a
pessoa sonha com chuva, com
rio", diz Sérgio Tufik, médico
da EPM. "Você consegue dar
uma acordadinha e mudar os
rumos de seu sonho, até fazer
coisas que gostaria. Mas, na vida,
não consegue."
ATÉ ONDE PODE IR A EXPECTATIVA DE VIDA?
Não é difícil ver idosos
na rua, mas nem sempre
foi assim.
Antigamente se morria
mais cedo. Na Idade Média,
quem vivia mais de 30 anos
deveria comemorar. Séculos
depois, em 1960, a expectativa
de vida no Brasil era de
54,6 anos. Em 2003, ela pulou
para 71,3. Alguns países,como
o Japão, já passam da marca
dos 80. Até onde isso vai? A
expectativa de vida não pode
continuar aumentando para
sempre. Mas qual é o limite?
"Tudo o que temos são projeções,
em geral imaginando
que a evolução científica
continue no ritmo atual, com
crescimento da engenharia
genética. Ainda não temos a
cura do câncer, por exemplo.
É um processo lento, mas ele
dará uma ampliação ainda
maior do tempo de vida médio",
diz Renato Veras, médico
da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro.
"Por outro lado, a evolução
científica esbarrará na constituição
genética e fisiológica.
Além disso, existem mortes
devido aos acidentes de trânsito,
à violência na família,
doenças de que morre gente
jovem. Talvez apareçam
novas doenças também. Há
30 anos ninguém conhecia a
Aids, por exemplo."
ATÉ ONDE AS MÁQUINAS PODEM IR?
Computadores são tão
importantes para nós
que é difícil pensar que
um dia sobrevivemos sem o
Google. Eles podem acumular
uma quantidade enorme
de informação e fazer cálculos
muito rápido. Mas poderão
um dia imitar o cérebro
humano e, digamos, escrever
um romance original ou filosofar
sobre o Universo?
Em 1997, pela primeira
vez um computador
venceu uma partida contra
o campeão mundial de
xadrez. "O xadrez é um jogo
com um universo limitado de
regras. Você cria, então, uma
receita para o computador, e
ensina jogadas boas ou ruins.
Mas o cérebro humano é muito
mais complexo do que um jogo
de xadrez", diz Emilio Hernandez,
engenheiro da USP.
Será que um dia poderemos
reproduzi-lo? Teoricamente,
sim. "Mas, para colocar
algo no computador
você precisar conhecer bem
o sistema que está querendo
imitar. E existe muita coisa
em aberto na neurociência.
Nem sabemos como funciona o
cérebro, que estratégias ele usa.
Então, estamos longe disso."
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