São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Traumas

JOVENS CONTAM COMO LIDARAM COM O ASSASSINATO DE SEUS AMIGOS E FAMILIARES

Danilo Verpa/Folhapress
Isabela da Silva, 12, no enterro de sua colega Bianca, 13, morta em Realengo

DE SÃO PAULO

"Foi uma covardia. Ele chegava perto dos meus amigos que estavam no chão, demorava um pouco e dava tiro na cabeça, no tórax."
Mateus, 13, viu sete amigos serem mortos na quinta-feira. Ele estava na aula de português quando um ex-aluno abriu fogo contra estudantes da escola municipal Tasso da Silveira, no Rio.
Em entrevista após o massacre, o garoto foi claro: "Não vou ter mais coragem de estudar nessa escola".
Testemunhada ou não, a morte de amigos deixa sequelas (leia mais ao lado).
Rita*, 14, viu a amiga Bianca ao vivo uma única vez. As duas, que se conheceram por Twitter, eram donas de fã-clubes da banda Restart.
Rita sabia que a amiga estudava em Realengo. "Fiquei desesperada quando vi o caso na TV. Perguntei no Twitter se alguém sabia dela, e me deram a notícia." Bianca estava morta, assassinada com outros 11 colegas.
Rita "pensa o tempo todo" no que ela passou, mas tenta evitar. "Ficar lembrando é muito ruim."
Amanda*, 11, mudou de escola no final do ano passado. A razão: seu irmão mais velho foi assassinado na entrada do ex-colégio, por causa de inimizades no bairro.
"Ir à escola fazia eu sempre me lembrar dele", diz.
Letícia, 20, estava vendo "algum seriado meio família" na TV, num domingo, quando o telefone tocou.
Era um tio para avisar da morte do irmão, 18, com quem ela aprendeu a tocar violão e a gostar de Nirvana. Há sete anos, ele voltava de uma festa e levou um tiro.
Meses depois, irritou-se com "consolos genéricos". "Enjoei de as pessoas falarem: "Você precisa ser forte!". Ser a pessoa mais forte do mundo não é o suficiente."

GOIÁS
Na semana passada, Kelly, 18, soube que sua irmã foi encontrada morta na fazenda da família da namorada, em Goiás. Adrieli, 16, desapareceu em março, após receber uma ligação do irmão da namorada. Não voltou mais.
Ele confessou o crime. Morta a facadas, Adrieli foi enterrada num buraco.
"Tiveram que me segurar. Eu tremia", afirma a garota.
Tatiana*, 17, também reagiu com choque ao saber que o namorado tinha sido morto, alvejado por oito tiros.
"No começo, não acreditei. Comecei a rir. Depois, comecei a chorar e a rezar."
Hoje, ela diz dar mais valor aos amigos. "Nunca se sabe o dia de amanhã, posso perder outra pessoa querida", diz. "Ele era meu amor de infância, sempre gostei dele."
(ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, DIOGO BERCITO, IURI DE CASTRO TÔRRES E NATÁLIA CANCIAN)

*Nomes fictícios


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