São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HARRY POTTER

Lia Wyler, tradutora de todos os livros do aprendiz de bruxo, esclarece mistérios em torno da versão nacional do best-seller

A mágica na nossa língua

DA REPORTAGEM LOCAL

Se você é fã de verdade, conhece o nome Lia Wyler tão bem quanto o de J.K. Rowling. Mas se você não é, fique sabendo que são dela as traduções dos cinco livros de Harry Potter lançados no Brasil e também será dela a versão em português de "Harry Potter and the Half-Blood Prince", ainda sem nome brasileiro.
Isso mesmo, o nome em português que está sendo divulgado na internet, "Príncipe Mestiço", não está confirmado nem pela editora Rocco, que lançará o livro por aqui em dezembro, nem pela própria Lia.
"Quem está divulgando "mestiço" sabe tanto quanto eu, ou seja, nadica de nada", afirmou a tradutora, em troca de e-mails com a reportagem do Folhateen.
Diferentemente de Harry, Lia Wyler não é nenhuma aprendiz. Tem 35 anos de profissão e já transformou em português obras de grandes escritores de língua inglesa, como John Updike, Henry Miller, Joyce Carol Oates, Tom Wolfe e Gore Vidal.
O sobrenome Wyler chega a enganar, mas ela é "brasileiríssima", fala inglês desde os 13 anos, já morou no exterior e está sempre viajando.
Na entrevista que você vai ler a seguir, Lia esclarece alguns mal-entendidos: é amiga ou não é de J.K. Rowling? Já leu algum capítulo de "Harry Potter and the Half-Blood Prince"? E, principalmente, explica por que traduziu os nomes próprios dos livros, fato que gera dúvida e também muita revolta para os fãs que também leram as versões em inglês dos livros.
(LEANDRO FORTINO) Folha - Você já teve acesso a algum capítulo do novo livro?
Lia Wyler - Não. Por questões de marketing, a editora inglesa faz questão de manter os tradutores do mundo inteiro na ignorância até ter vendido todos os exemplares em inglês que puder vender. Depois vêm os leitores que não falam inglês. Se eu fosse uma criança que lê inglês, boicotava as vendas do original em protesto a essa atitude discriminatória.
Folha - A tradução de alguns nomes para o português, como Sphinx em Esfinge, Blast Ended Screwt em Explosivim e Lavender em Lilá, são idéias suas? A própria J.K. Rowling pede para que esses nomes sejam adaptados para o português?
Wyler - Esfinge e Lilá são os correspondentes consagrados de Sphinx e Lavender (nome feminino). Explosivim é criação minha, após perguntar à editora que característica eu deveria destacar desse bicho. A terminação "ïm" é a que usamos em português em fradim ou beijim.
Desde 2000 tenho deixado claro que, tratando-se de um livro para crianças de 9 a 12 anos, obedeci às normas mundialmente respeitadas de traduzir de alguma forma o humor contido nos nomes próprios -lembre-se que a tradução é feita para crianças que não falam inglês.
A rigor, eu deveria ter traduzido todos os nomes próprios, o que os prazos curtos com que tenho trabalhado me impediram de fazer.
Estou achando as suas dúvidas muito estranhas: você está familiarizado com a literatura infantil mundial?
Folha - As perguntas vieram de alguns fãs adolescentes (entre 14 e 17 anos -não são crianças e não estão preocupados com os padrões usados por tradutores da literatura infantil mundial) que leram as duas versões dos livros (inglês e português) e não entendem por que os nomes foram traduzidos da maneira que estão.
Wyler - Eu deveria ter imaginado.
Folha - É verdade que J.K. Rowling faz questão de que você traduza os livros?
Wyler - A minha tradução faz parte do contrato da editora Bloomsbury com a editora Rocco. Recebi o primeiro Harry Potter para traduzir quando a série ainda não se tornara um best-seller mundial.
Então, havia clima para entrar em contato com a editora inglesa e fazer perguntas sobre a origem dos nomes próprios e sugerir traduzi-los. Na época, nem eu mesma sabia que J.K. Rowling fora casada com um português, que passara quatro anos em Portugal e que tinha uma filha portuguesa.
Ela mandou pedir o meu currículo e perguntou que tradução eu daria aos nomes de uma pequena lista que elaborou. Em resposta, autorizou as minhas traduções.
Folha - Vocês são amigas?
Wyler - Não somos amigas, nunca nos conhecemos nem temos quaisquer relações. As minhas relações, estritamente profissionais, são com a editora Rocco.
Folha - Quanto tempo leva para traduzir um livro do Harry?
Wyler - Depende do número de páginas. O tradutor traduz, depois coteja a tradução, isto é, confere o original e a tradução, depois revisa o texto resultante. Em seguida, a tradução passa pelo copidesque, no caso do Harry Potter o texto volta ao tradutor, segue para o digitador, o primeiro revisor, o digitador, o palpitador... todos esses profissionais participam do processo editorial.

Texto Anterior: Enfeitiçados
Próximo Texto: Tudo de bom: Dá-lhe gasolina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.