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HARRY POTTER
Lia Wyler, tradutora de todos os livros do aprendiz de bruxo,
esclarece mistérios em torno da versão nacional do best-seller
A mágica na nossa língua
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você é fã de verdade, conhece o nome Lia Wyler tão bem quanto o de
J.K. Rowling. Mas se você não é, fique
sabendo que são dela as traduções dos cinco livros de Harry Potter lançados no Brasil
e também será dela a versão em português
de "Harry Potter and the Half-Blood Prince", ainda sem nome brasileiro.
Isso mesmo, o nome em português que
está sendo divulgado na internet, "Príncipe
Mestiço", não está confirmado nem pela
editora Rocco, que lançará o livro por aqui
em dezembro, nem pela própria Lia.
"Quem está divulgando "mestiço" sabe
tanto quanto eu, ou seja, nadica de nada",
afirmou a tradutora, em troca de e-mails
com a reportagem do Folhateen.
Diferentemente de Harry, Lia Wyler não
é nenhuma aprendiz. Tem 35 anos de profissão e já transformou em português obras
de grandes escritores de língua inglesa, como John Updike, Henry Miller, Joyce Carol
Oates, Tom Wolfe e Gore Vidal.
O sobrenome Wyler chega a enganar,
mas ela é "brasileiríssima", fala inglês desde os 13 anos, já morou no exterior e está
sempre viajando.
Na entrevista que você vai ler a seguir, Lia
esclarece alguns mal-entendidos: é amiga
ou não é de J.K. Rowling? Já leu algum capítulo de "Harry Potter and the Half-Blood
Prince"? E, principalmente, explica por que
traduziu os nomes próprios dos livros, fato
que gera dúvida e também muita revolta
para os fãs que também leram as versões
em inglês dos livros.
(LEANDRO FORTINO)
Folha - Você já teve acesso a algum capítulo do novo livro?
Lia Wyler - Não. Por questões de marketing, a editora inglesa faz questão de manter os tradutores do mundo inteiro na ignorância até ter vendido todos os exemplares
em inglês que puder vender. Depois vêm os
leitores que não falam inglês. Se eu fosse
uma criança que lê inglês, boicotava as vendas do original em protesto a essa atitude
discriminatória.
Folha - A tradução de alguns nomes para o português, como Sphinx em Esfinge,
Blast Ended Screwt em Explosivim e Lavender em Lilá, são idéias suas? A própria
J.K. Rowling pede para que esses nomes
sejam adaptados para o português?
Wyler - Esfinge e Lilá são os correspondentes consagrados de Sphinx e Lavender
(nome feminino). Explosivim é criação minha, após perguntar à editora que característica eu deveria destacar desse bicho. A
terminação "ïm" é a que usamos em português em fradim ou beijim.
Desde 2000 tenho deixado claro que, tratando-se de um livro para crianças de 9 a 12
anos, obedeci às normas mundialmente
respeitadas de traduzir de alguma forma o
humor contido nos nomes próprios
-lembre-se que a tradução é feita para
crianças que não falam inglês.
A rigor, eu deveria ter traduzido todos os
nomes próprios, o que os prazos curtos
com que tenho trabalhado me impediram
de fazer.
Estou achando as suas dúvidas muito estranhas: você está familiarizado com a literatura infantil mundial?
Folha - As perguntas vieram de alguns
fãs adolescentes (entre 14 e 17 anos -não
são crianças e não estão preocupados
com os padrões usados por tradutores da
literatura infantil mundial) que leram as
duas versões dos livros (inglês e português) e não entendem por que os nomes
foram traduzidos da maneira que estão.
Wyler - Eu deveria ter imaginado.
Folha - É verdade que J.K. Rowling faz
questão de que você traduza os livros?
Wyler - A minha tradução faz parte do
contrato da editora Bloomsbury com a editora Rocco. Recebi o primeiro Harry Potter
para traduzir quando a série ainda não se
tornara um best-seller mundial.
Então, havia clima para entrar em contato com a editora inglesa e fazer perguntas
sobre a origem dos nomes próprios e sugerir traduzi-los. Na época, nem eu mesma
sabia que J.K. Rowling fora casada com um
português, que passara quatro anos em
Portugal e que tinha uma filha portuguesa.
Ela mandou pedir o meu currículo e perguntou que tradução eu daria aos nomes de
uma pequena lista que elaborou. Em resposta, autorizou as minhas traduções.
Folha - Vocês são amigas?
Wyler - Não somos amigas, nunca nos
conhecemos nem temos quaisquer relações. As minhas relações, estritamente profissionais, são com a editora Rocco.
Folha - Quanto tempo leva para traduzir um livro do Harry?
Wyler - Depende do número de páginas.
O tradutor traduz, depois coteja a tradução,
isto é, confere o original e a tradução, depois revisa o texto resultante. Em seguida, a
tradução passa pelo copidesque, no caso do
Harry Potter o texto volta ao tradutor, segue para o digitador, o primeiro revisor, o
digitador, o palpitador... todos esses profissionais participam do processo editorial.
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