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MÚSICA
O clássico "London Calling" comemora 25 anos e é relançado com CD extra, "The Vanilla Tapes", e DVD
Bandas disputam legado do Clash
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
O álbum "London Calling" fará 25
anos no próximo dia 14 de dezembro. Mas o disco mais importante
do punk, obra da banda inglesa The Clash,
poderia muito bem ter nascido hoje. Principalmente se levarmos em conta a influência que as suas 19 faixas ainda têm no rock
produzido em todo o planeta.
Na Inglaterra, ele ganhou um relançamento luxuoso, que, segundo a gravadora
Sony, chega ao Brasil no mês que vêm:
além do disco remasterizado (que já havia
sido lançado em 1999, em seus 20 anos),
um CD extra, "The Vanilla Tapes", com as
versões demo do que se tornaria "London
Calling", e um DVD com documentários
sobre a gravação desse clássico.
Enquanto os Beatles e os Rolling Stones
disputavam a coroa do rock britânico, The
Clash e Sex Pistols faziam o mesmo com o
punk. De um lado, os Pistols, grupo fabricado pelo produtor Malcolm McLaren, atacavam impiedosamente a rainha; de outro,
o Clash dava voz à classe operária e às minorias, afinal, vinha de Notting Hill Gate,
comunidade multirracial londrina de onde
a banda tomou emprestado estilos inéditos
no rock, como o reggae e o ska negros.
São esses ritmos que dão tempero único a
"London Calling" e tornam o disco uma
obra saborosíssima e muito divertida de escutar ainda hoje. Aqui, o punk tem mais a
ver com a idéia do "faça você mesmo" e
com as letras politicamente engajadas do
que com a barulheira que muitos associam
ao estilo. O suingue funk de "Train in Vain"
divide o mesmo teto com o reggae de
"Guns of Brixton"; o rock revolucionário
de "London Calling", a música, engata no
rock à la anos 50 de "Brand New Cadillac".
Nas letras, atacavam a revolução industrial e até a beatlemania na faixa-título, o
consumismo, em "Lost in the Supermarket", e as grandes corporações, em "Koka
Kola". Ainda anteciparam o "spanglish"
(mistura de inglês com espanhol), em
"Spanish Bombs", e fizeram declarações de
amor, em "Lovers Rock".
Boatos sobre uma possível reunião do
Clash circularam durante toda a década de
90. Não passaram de especulação. Hoje, seria algo impossível. Em 22 de dezembro de
2002, o guitarrista Joe Strummer sofreu um
ataque cardíaco fulminante e morreu, aos
50 anos de idade. Ele chegou a afirmar, em
entrevista à Folha, que, por pouco, o Clash
não veio ao Brasil, em uma turnê mundial
que percorria o mundo entre 1985 e 1986. O
motivo: a banda acabaria antes conseguir
de rodar o planeta.
Hoje o legado desse quarteto londrino
pode ser ouvido em dezenas de bandas que
surgiriam, principalmente nos anos 90 e
nesta década. O grunge não teria colocado
o Nirvana no topo das paradas. A cena
hardcore não teria existido. Nem mesmo a
Legião Urbana e o rock de Brasília teriam
invadido o Brasil.
Uma chance de ver algo parecido com o
Clash será possível, quando, no início de
novembro, a banda Libertines fará shows
no Rio e em São Paulo. Saiba por que no
primeiro texto da página ao lado. É, no mínimo, um bom consolo.
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