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ESTANTE
"Cidade de Deus", o livro de Paulo Lins, é "O Cortiço" de nosso tempo
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nesta altura, é claro que você já foi
ao cinema ver "Cidade de Deus",
o belo e doloroso filme que anda arrasando. E com razão, porque é raro
acontecer de um filme ter ao mesmo tempo qualidade visual, grande
desempenho sonoro e enorme capacidade de fixar um retrato de nosso contraditório país. O filme de
Fernando Meirelles tem tudo isso.
Mas o caso é que ele não teria sequer começado a existir se não fosse
o trabalho obstinado de um professor de português, que, durante muito tempo, colecionou histórias de
seu bairro, no subúrbio carioca. Esse professor se chama Paulo Lins: foi
ele que escreveu o romance "Cidade
de Deus", título que apenas cita o
nome do imenso bairro em que o
autor viveu e no qual entrevistou
muita gente, quando participou de
uma pesquisa sobre violência.
O resultado, que alterna momentos de
maior e menor intensidade, é cheio de enorme interesse humano. Os personagens que você viu na tela também estão no romance, mas com a imensa vantagem
que a literatura tem sobre o cinema
-ao ler, você é o responsável direto
pela imaginação dos rostos, das cenas, das luzes, ao contrário do que
ocorre quando se vê um livro
adaptado para o cinema, em que o
diretor dá sua própria interpretação
para caras, cenas e luzes.
Sem forçar nenhuma barra, pode-se dizer que "Cidade de Deus" é um
marco de nosso tempo, uma espécie
de "O Cortiço" de nossos dias.
E-mail: fischerl@uol.com.br
"Cidade de Deus"
Autor: Paulo Lins
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 34
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