São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Música

culpa do guitar hero

Simuladores de música, como "Guitar Hero" e "Rock Band", viram novo meio de os jovens conhecerem os clássicos do rock

Sergio Zacchi/Folha Imagem
Cristiano e Ana Carolina começaram a namorar graças ao ‘Guitar Hero’


MARCOS SERGIO SILVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando você acordou para o rock?
Nos anos 1960, os compactos e os encontros casuais em estações de trem, coleções de discos embaixo do braço, facilitavam a absorção de acordes pelo coração.
Depois vieram as revistas especializadas, as danceterias dos intermináveis anos 1980, a MTV dos anos 1990 e a explosão tecnológica dos anos 2000.
Dentro desta última você pode inserir mais uma, talvez a transição mais óbvia entre a infância e a adolescência de fato: os videogames. E jogos que simulam instrumentos, como o Guitar Hero e mais recentemente o Rock Band, e até mesmo outros que pouco têm a ver com o ritmo propriamente dito (exemplo disso é o Grand Theft Auto, cujo objetivo é atacar carros) têm despertado o interesse da garotada por bandas de rock de gerações anteriores.
"O game "Slow Ride" foi o meu primeiro contato com o rock", afirma William Yukio Abduch, 15. Como ele, muita gente dessa geração também começou assim: é que a música do Foghat, gravada em 1975, é uma das quatro primeiras opções da primeira fase do "Guitar Hero 2". "Ninguém tinha discos de rock em casa, então só fui ouvir mesmo pelo videogame."
Ana Carolina Mões Corrêa, 16, suavizou o seu gosto com o simulador -antes de se entregar ao joystick, preferia o metal pesado; hoje até simpatiza com bandas que detestava.
É o caso do Guns N'Roses. Em 2008 muito mais gente conheceu o grupo pelos jogos do que por "Chinese Democracy", cuja gestação (17 anos) supera a idade de muita gente que passou a gostar da banda.
Slash, fora do grupo desde 1994, transformou-se em um cartoon equivalente a Izzy Sparks, o guitarrista de mentirinha do "Guitar Hero". É obsessão dos garotos repetir os feitos do cabeludo em "Sweet Child O'Mine" nos simuladores.
"É minha música preferida", diz Oliver, 11, guitarrista desde os 9. Para ele, o jogo funcionou como uma transição do gosto dos pais (leia-se Beatles) para outro mais pessoal. A coleção de favoritas de Oliver também inclui outros hits do "GH2", principalmente do Kiss.
"A música "Rock'n'Roll All Nite" é muito boa", confessa o garoto, contente pelo jogo atrair mais amigos para o universo da música. "Eles agora querem aprender a tocar instrumentos."
Ana Carolina vê outro trunfo do "GH': descobriu que era de Joan Jett a voz em "I Love Rock'n'Roll". "Foi meu primeiro contato com o jogo. Cheguei na casa do meu ex-namorado e vi que eles estavam tocando essa música, que eu adorava mas não sabia quem cantava."
Mas, claro, existe a ala radical. Se antes ela era composta por aqueles que discordavam quando alguém conhecia uma música por meio da superexposição nas rádios, agora ela se orienta pela aversão ao "Guitar Hero". Para esse pessoal, o bom é conhecer por conta própria.
"São pessoas que só conhecem músicas porque estão num jogo. Gostam porque está na moda. O cara conhece uma música do Guns N'Roses porque está no jogo, não porque conhece. Não sabe a história da banda nem a letra. Só tocar na guitarrinha. De mentira, ainda", diz o analista de sistemas Rogério Barreto lo Bello, 21.
Se os brinquedos vão substituir os instrumentos? Relaxe. Um dia todo mundo vai largar o carrinho de fricção para pilotar um carrão. "O que leva as pessoas a começarem a tocar ou a ir a um show é participar de alguma forma do que gosta", avalia o gerente de produto da Electronic Arts, Ian Freitas, que comercializa o "Rock Band" no país.
"Estes jogos de música souberam entregar essa sensação em diversos níveis dependendo do instrumento e da dificuldade até a imersão total que é a parte de cantar emprestando sua própria voz para a música."
William já tem planos para 2009: vai começar a estudar guitarra nos próximos meses. Culpa do Guitar Hero.
"Presto bastante atenção nos instrumentos. Vejo a música na guitarra e penso: preciso fazer isso", explica. Sua mãe, Maria Helena, prometeu matriculá-lo em breve. Afinal, a vida não é (só) videogame.


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