São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAPA

Fanfiction invade a net

Jarbas Oliveira/Folha Imagem
Eduardo Viveiros, 19, que faz "fanfictions" de personagens de HQ e está lançando uma página na Internet


Nova moda é pegar seu personagem favorito, inventar novas histórias com ele e colocá-las na Internet

FERNANDA MENA DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe aquele vazio que dá na gente no final de uma história em quadrinhos, filme ou livro que deixou a desejar? Normalmente, essa sensação vem acompanhada de um pensamento do tipo "podia ter sido diferente" ou "eu faria muito melhor" ou, pior ainda, "que droga de história!". E aí você refaz todo o enredo na sua cabeça de forma que ele se torne absolutamente satisfatório, não é?
E, se você acha que a sua versão deixou o original no chinelo, prepare-se para conhecer a nova mania da Internet brasileira: a "fanfiction". Literalmente, ficção de fã.
As "fanfictions" já ganharam o mundo faz algum tempo (veja texto na pág. 8) e funcionam mais ou menos assim: você "rouba" um personagem para si e faz com ele o que quer. Muda tudo, reinventa aventuras, dramas e conflitos. Como? Com palavras e criatividade.
À primeira vista, pode parecer bobo e o resultado nem sempre é dos melhores (dá para colecionar erros em algumas histórias). Mas as tramas criadas por fãs de heróis, bandas, desenhos, seriados de TV, livros e filmes são do além. Engraçadas, malucas, inusitadas, eletrizantes. Escritores anônimos -muitos deles usam aqueles apelidos absurdos de salas de bate-papo- que publicam suas histórias em sites já dedicados exclusivamente a "fanfictions".
"Sei que não sou escritor. Aliás, uma professora de português me arrancaria o pescoço ao ler um de meus textos. Mas o importante é explorar os personagens e o universo em que eles vivem", explica Alessandro Santos Borges, 24, que escreve "fanfictions" sobre o desenho Animaniacs, da Warner.
Eduardo Viveiros, 19, escreve sobre heróis das histórias em quadrinhos, vai lançar o site Hyperfan até o início de abril e garante que muitas de suas idéias surgem depois que ele fica descontente ao ler uma revista. "Você acaba ignorando o que os "donos" dos personagens estão fazendo e cria suas próprias situações. Tudo com liberdade total. Viajar nas histórias é a melhor parte", garante.
Pablo Lins Casado, 17, autor do site Universo Paralelo, que traz "fanfics" de heróis, aposta num grande aumento de sites do gênero. "O mercado de quadrinhos não anda muito bem. Estão diminuindo a produção e a distribuição das revistas. Portanto acho que as "fanfictions" vão se tornar a forma mais barata de os fãs acompanharem seus personagens preferidos."
Mas as "fanfictions" têm protagonistas para todos os gostos. De personagens de séries de TV e desenhos animados a membros de bandas ou grupos inteiros. Até o Harry Potter já entrou na dança e está à frente de aventuras que não podem ser lidas em nenhum dos livros de J.R. Rowling.
"Só escrevo sobre Harry Potter. Já fiz uma trilogia de "fanfiction" e criei minha própria página na rede no início deste ano", conta Felipe Edoardo Ribeiro, 15. "As "fanfictions" desenvolvem a criatividade, geram novas suposições sobre as histórias e, no caso do Harry Potter, amenizam a expectativa de quem aguarda o próximo livro", completa.
As histórias mais comuns são, disparado, aquelas sobre seriados de ficção científica. "Jornada nas Estrelas", "Guerra nas Estrelas" e "Arquivo X" são campeões no quesito popularidade.
"Como o seriado não esclarece muito coisa e sempre rola um mistério, as pessoas sentem a necessidade de explicar alguns pontos e acabam produzindo mais "fanfictions" sobre o assunto", garante Clarissa Kezen, 23, autora de um site especializado em histórias dos agentes Mulder e Scully, do "Arquivo X".
Toda vez que vai dar início a uma nova "fanfic", Tissa (como assina suas histórias na Internet) senta na frente da TV e do videocassete e assiste aos melhores episódios da série. Aí vai a sua dica: "É preciso ser coerente com o personagem do seriado. Algumas histórias nem parecem que são sobre "Arquivo X". O leitor deve conseguir reconhecer o personagem de imediato".
E quando o personagem é uma pessoa de verdade? Pois muitas fãs de boy bands, como o Backstreet Boys, estão divulgando as fantasias imaginadas com os bonitinhos em forma de "fanfiction". E muitas delas são pra lá de "calientes", como era de esperar. Uma autora avisa logo na entrada de seu site: "Se você tem menos de 18 anos (de idade mental), pare agora mesmo!! Essa "fanfiction" tem sexo e violência. Se você acha que poderá sentir-se ofendida pelo palavreado, não leia."
É aí que o pessoal lê mesmo.


Texto Anterior: Resultado do U2 sai na semana que vem
Próximo Texto: Homem-aranha: Brasileiro cria roteiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.