São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000 |
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estante Biografia de Monteiro Lobato vai além do Sítio do Pica-Pau
Luís Augusto Fischer
A gente pára e olha pela janela da casa, na TV e no jornal, procurando uma grande figura do país. Um sujeito cuja atuação seja de fato magistral, fora do comum.
Encontra quantos? Pela janela de um livro recente, encontra um, José Renato Monteiro Lobato (1882-1948).
Era para ser apenas mais um herdeiro interiorano,
mas enganou o destino. Fez direito, perdeu a paciência
com a carreira burocrática e meteu a cara na vida cultural. Escreveu contos e artigos, pondo sua inteligência e
argúcia a serviço de entender o país que lhe coube conhecer -aquele Brasil que arrancava para o progresso
industrial mas carregava toneladas de carga do atraso
social e econômico.
Lobato comprou a briga do jeito que pôde, escrevendo e envolvendo-se em polêmicas da hora -como a conhecida bronca que meteu nos quadros de Anita Malfatti, em 1917, quando os modernistas ainda ensaiavam
cortar o cordão umbilical com o passado parnasiano
das letras e das artes. Não era tudo, nem era suficiente.
Resolveu pensar sobre os problemas do livro e da educação. Descobriu um pulo-de-gato ainda hoje esquisito
no país: que livro circula mesmo é na escola, já que nos
falta (ainda) essa figura inefável chamada leitor, simplesmente leitor, sujeito que descobriu que ler é bom
pra cabeça, não estraga nem solta as tiras. Por isso começou uma aventura editorial fascinante, em que atuou
em várias pontas, como escritor, editor, agenciador de
venda de livros. E o mundo que tirou da cartola, o Sítio
do Pica-Pau Amarelo, funcionou como ambiente para
contar histórias, reais e fantasiosas, e para promover o
interesse de todos nós pela literatura.
Tudo isso está contado em "Monteiro Lobato -um
Brasileiro Sob Medida", de Marisa Lajolo, competente
estudiosa da literatura infantil.
O livro apresenta detalhes sobre a ida de Lobato aos
Estados Unidos, seu sonho de lá fundar a Tupy Publishing Company, sua falência no crash da bolsa de Nova
York em 1929, seu fascínio pela Argentina, sua guinada
à esquerda no fim da vida. Lobato sai do livro inteiro, na
nossa retina e no coração.
E-mail - fischerl@uol.com.br Texto Anterior: Rápidas Próximo Texto: Nas bancas Índice |
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