São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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Os donos do melhor lugar do mundo

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Se você se chama Noel Gallagher, guitarrista e principal compositor do Oasis, você conta até dois assim: "Fucking one, fucking two...". Porque Noel Gallagher e seu irmão, Liam, fazem obstinadamente o tipo de quem não está aí para nada, botam o pé na mesa e falam um monte de palavrões, entende?
Só que há um detalhe: apesar de os "Gallagher brothers" serem insuportáveis do ponto de vista pessoal, são artistas de primeira linha, lideram uma das bandas mais importantes dos últimos dez anos e, no palco, não dão mole para ninguém.
"Escuta Aqui" constatou novamente o poder ao vivo do Oasis em show na semana passada, em Orlando, Flórida, parte da turnê americana que promove "Heathen Chemistry", o quinto álbum do grupo.
Como o próprio Noel define, o Oasis faz "hinos com guitarras", uma fórmula grandiosa que nunca falha na conquista das platéias.
Pelo menos oficialmente, o Oasis vive a fase mais tranquila da carreira. Noel afirma estar definitivamente longe das drogas e da bebida. E Liam, embora ainda detone de vez em quando, fixou suas farras químicas em níveis muito abaixo do que praticava nos anos 90.
No palco, Liam ainda canta do mesmo jeito: mãos para trás e microfone pelo menos 30 centímetros abaixo do que seria o normal. A diferença são os músculos recém-adquiridos, que ele mostra, orgulhoso, vestindo uma camiseta preta sem mangas na noite quente da Flórida.
O show abre com "Better Man", do disco novo, e rapidamente emenda "Hindu Times", a melhor faixa desse mesmo CD. No fundo do palco, imagens projetadas em preto-e-branco têm vaga conexão com as letras das canções. Quando não se vêem as imagens, aparece uma palavra, gigantesca: "EXIST".
A platéia agita bandeiras inglesas (inglesas mesmo, brancas e vermelhas, e não a do Reino Unido), o Oasis toca mais alto do que nunca. A cerveja, a US$ 4,50 (R$ 13,50!!) é vendida em quantidades oceânicas. Goste-se ou não do Oasis, o fato é que eles têm repertório, são capazes de tocar 20 músicas, todas conhecidas, e nenhuma é chata ou arrastada.
No fim do show, eles atacam com um cover do Who, a conhecidíssima "My Generation".
A platéia pede "Wonderwall", talvez a canção mais conhecida do Oasis. Mas Noel se recusa a tocá-la porque é sobre sua ex-mulher, que ele agora odeia. De repente, "Wonderwall" começa a sair dos alto-falantes. Mas é gravação! A banda não volta mais.
Quando os irmãos Gallagher estão no palco, apesar da empáfia, apesar de toda a imagem de arrogância que construíram, o teatro onde se apresentam se transforma, por pouco menos de duas horas, no melhor lugar do mundo, onde se pode, como diz uma das letras de Noel, viver para sempre.



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