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Os donos do melhor lugar do mundo
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Se você se chama Noel Gallagher, guitarrista e principal compositor do Oasis, você conta até dois assim: "Fucking one, fucking two...". Porque Noel Gallagher e seu irmão, Liam, fazem obstinadamente o tipo de quem não está aí para nada, botam o pé na mesa e falam um monte de palavrões, entende?
Só que há um detalhe: apesar de os "Gallagher brothers" serem insuportáveis do ponto de vista pessoal, são artistas de primeira linha, lideram uma das bandas mais importantes dos últimos dez anos e, no palco, não dão mole para ninguém.
"Escuta Aqui"
constatou novamente o poder ao vivo do Oasis em show
na semana passada,
em Orlando, Flórida, parte da turnê
americana que promove "Heathen Chemistry", o quinto álbum do grupo.
Como o próprio Noel define, o Oasis faz "hinos com guitarras", uma fórmula grandiosa
que nunca falha na conquista das platéias.
Pelo menos oficialmente, o Oasis vive a fase
mais tranquila da carreira. Noel afirma estar
definitivamente longe das drogas e da bebida.
E Liam, embora ainda detone de vez em
quando, fixou suas farras químicas em níveis
muito abaixo do que praticava nos anos 90.
No palco, Liam ainda canta do mesmo jeito:
mãos para trás e microfone pelo menos 30
centímetros abaixo do que seria o normal. A
diferença são os músculos recém-adquiridos,
que ele mostra, orgulhoso, vestindo uma camiseta preta sem mangas na noite quente da
Flórida.
O show abre com "Better Man", do disco
novo, e rapidamente emenda "Hindu Times",
a melhor faixa desse mesmo CD. No fundo do
palco, imagens projetadas em preto-e-branco
têm vaga conexão com as letras das canções.
Quando não se vêem as imagens, aparece
uma palavra, gigantesca: "EXIST".
A platéia agita bandeiras inglesas (inglesas
mesmo, brancas e vermelhas, e não a do Reino Unido), o Oasis toca mais alto do que nunca. A cerveja, a US$ 4,50 (R$ 13,50!!) é vendida
em quantidades oceânicas. Goste-se ou não
do Oasis, o fato é que eles têm repertório, são
capazes de tocar 20 músicas, todas conhecidas, e nenhuma é chata ou arrastada.
No fim do show, eles atacam com um cover
do Who, a conhecidíssima "My Generation".
A platéia pede "Wonderwall", talvez a canção mais conhecida do Oasis. Mas Noel se recusa a tocá-la porque é sobre sua ex-mulher,
que ele agora odeia. De repente, "Wonderwall" começa a sair dos alto-falantes. Mas é
gravação! A banda não volta mais.
Quando os irmãos Gallagher estão no
palco, apesar da empáfia, apesar de toda a
imagem de arrogância que construíram, o
teatro onde se apresentam se transforma,
por pouco menos de duas horas, no melhor lugar do mundo, onde se pode, como diz uma das letras de Noel, viver para sempre.
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