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MÚSICA
Simplicidade e um pouquinho de massa cinzenta
Banda inclui crítica ao arsenal de skate, mulheres e baladas
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem ouve rádio conhece de cor,
mesmo sem querer, a canção
"Não É Serio", do Charlie Brown Jr.,
que é martelada em várias sintonias
do dial há cerca de oito meses. A
música, do álbum "Nadando com
os Tubarões", de 2000, fala do "jovem", do tal "sistema", e apregoa
uma crítica antes incomum ao repertório de baboseiras da banda
santista.
O acréscimo de massa cinzenta ao
trabalho da banda é resultado do
flerte deles com o discurso engajado
dos grupos de rap, que participaram daquele álbum, e da própria experiência do vocalista Chorão, 31.
Essa novidade serviu de base para
grande parte das composições de
"100% Charlie Brown Jr. - Abalando
a Sua Fábrica", quarto disco da banda, o primeiro lançado pela gravadora EMI, que chega agora às lojas,
cheio de hits instantâneos.
""Não É Sério" puxou o carro dessa
fase engajada da banda. Isso tem a
ver com o que eu estou passando.
Perdi meu pai e percebi que fiquei
ocioso por muito tempo da minha
vida, quando poderia estar fazendo
várias coisas legais", explica.
"Passei 27 anos na balada. Era disso que a gente falava nas letras", reconhece o vocalista. "Era mais um
jovem desempregado que ficava
por aí, vagando pela noite. Agora, é
diferente. Sou um cara que percebeu que pode fazer algo legal, que
tem vontade de ver as coisas diferentes e que passou a integrar o sistema, pagando contas e impostos",
diz, garantindo que, ao menos para
ele, a vida passou a ser mais do que
uma "balada irada" ou um rolé de
skate.
Daí surgem críticas políticas e sociais em letras que falam dos "caras
do Senado" ("Eu Protesto") e de
"matar o presidente" ("Hoje Eu
Acordei Feliz"). Polêmicas para menores de 14 anos criadas por marmanjos trintões.
Mas o grupo é bem-intencionado
e, no minguado mercadão de rock
brasileiro, o hardcore melódico do
Charlie Brown Jr. tem lugar de destaque. A banda foi revelação do Video Music Brasil em 98, faturou os
prêmios de melhor clipe de rock e
melhor clipe na escolha da audiência em 2001 e já vendeu 1 milhão de
cópias de seus discos desde a estréia
em "Transpiração Contínua Prolongada", que emplacou canções
como "O Coro Vai Comê!" e "Proibida pra Mim".
De lá pra cá, é possível notar um
estranho processo de evolução que
teima em manter um pé na estaca
zero. O Charlie Brown Jr. buscou
uma aproximação com jovens menos descerebrados sem deixar de
agradar aos fãs da temática skate,
mulheres e baladas.
"O jovem hoje tem poucas opções
e oportunidades. Ele está muito distante do que quer e por isso se envolve em coisa errada. Só que quem
vai mudar essa realidade é o próprio
jovem, com autoconfiança e fé. A
priori, nossa intenção é mandar um
som no papo de entreter, mas com
uma mensagem", afirma.
Assim, a banda conjuga alertas ao
universo vazio de muitos adolescentes, como em "Só Lazer" ("Se
uma mansão e um carro gringo é o
que te atrai / Se um videoclipe do
Twister te distrai"), a músicas que
carregam o que há de mais chavão
na irreverência criada por grupos
como o Raimundos, como em "Sino Dourado".
"100% Charlie Brown Jr. - Abalando a Sua Fábrica" também traz mudanças sonoras. Com a saída do
guitarrista Thiago antes do início
das gravações do novo disco, Chorão, Champignon (baixo), Marcão
(guitarra) e Pelado (bateria) soam
mais garagem e investem em melodias mais simples e cruas. "Viramos
um "power trio". Perdemos o requinte, mas ganhamos raça", entusiasma-se Chorão. Agora, é só ligar
o rádio e conferir.
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