São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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MÚSICA

Simplicidade e um pouquinho de massa cinzenta

Banda inclui crítica ao arsenal de skate, mulheres e baladas

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem ouve rádio conhece de cor, mesmo sem querer, a canção "Não É Serio", do Charlie Brown Jr., que é martelada em várias sintonias do dial há cerca de oito meses. A música, do álbum "Nadando com os Tubarões", de 2000, fala do "jovem", do tal "sistema", e apregoa uma crítica antes incomum ao repertório de baboseiras da banda santista.
O acréscimo de massa cinzenta ao trabalho da banda é resultado do flerte deles com o discurso engajado dos grupos de rap, que participaram daquele álbum, e da própria experiência do vocalista Chorão, 31.
Essa novidade serviu de base para grande parte das composições de "100% Charlie Brown Jr. - Abalando a Sua Fábrica", quarto disco da banda, o primeiro lançado pela gravadora EMI, que chega agora às lojas, cheio de hits instantâneos.
""Não É Sério" puxou o carro dessa fase engajada da banda. Isso tem a ver com o que eu estou passando. Perdi meu pai e percebi que fiquei ocioso por muito tempo da minha vida, quando poderia estar fazendo várias coisas legais", explica.
"Passei 27 anos na balada. Era disso que a gente falava nas letras", reconhece o vocalista. "Era mais um jovem desempregado que ficava por aí, vagando pela noite. Agora, é diferente. Sou um cara que percebeu que pode fazer algo legal, que tem vontade de ver as coisas diferentes e que passou a integrar o sistema, pagando contas e impostos", diz, garantindo que, ao menos para ele, a vida passou a ser mais do que uma "balada irada" ou um rolé de skate.
Daí surgem críticas políticas e sociais em letras que falam dos "caras do Senado" ("Eu Protesto") e de "matar o presidente" ("Hoje Eu Acordei Feliz"). Polêmicas para menores de 14 anos criadas por marmanjos trintões.
Mas o grupo é bem-intencionado e, no minguado mercadão de rock brasileiro, o hardcore melódico do Charlie Brown Jr. tem lugar de destaque. A banda foi revelação do Video Music Brasil em 98, faturou os prêmios de melhor clipe de rock e melhor clipe na escolha da audiência em 2001 e já vendeu 1 milhão de cópias de seus discos desde a estréia em "Transpiração Contínua Prolongada", que emplacou canções como "O Coro Vai Comê!" e "Proibida pra Mim".
De lá pra cá, é possível notar um estranho processo de evolução que teima em manter um pé na estaca zero. O Charlie Brown Jr. buscou uma aproximação com jovens menos descerebrados sem deixar de agradar aos fãs da temática skate, mulheres e baladas.
"O jovem hoje tem poucas opções e oportunidades. Ele está muito distante do que quer e por isso se envolve em coisa errada. Só que quem vai mudar essa realidade é o próprio jovem, com autoconfiança e fé. A priori, nossa intenção é mandar um som no papo de entreter, mas com uma mensagem", afirma.
Assim, a banda conjuga alertas ao universo vazio de muitos adolescentes, como em "Só Lazer" ("Se uma mansão e um carro gringo é o que te atrai / Se um videoclipe do Twister te distrai"), a músicas que carregam o que há de mais chavão na irreverência criada por grupos como o Raimundos, como em "Sino Dourado".
"100% Charlie Brown Jr. - Abalando a Sua Fábrica" também traz mudanças sonoras. Com a saída do guitarrista Thiago antes do início das gravações do novo disco, Chorão, Champignon (baixo), Marcão (guitarra) e Pelado (bateria) soam mais garagem e investem em melodias mais simples e cruas. "Viramos um "power trio". Perdemos o requinte, mas ganhamos raça", entusiasma-se Chorão. Agora, é só ligar o rádio e conferir.



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