São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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GAROTAS NO ATAQUE

Atiradoras de elite

Tuca Vieira/Folha Imagem
Luciana Lupinacci, 16, acha que grande parte dos meninos não aceita quando são elas que dão o primeiro passo


RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL

Atiradoras de elite ou soldadas rasas, algumas meninas decidiram que já perderam tempo demais esperando o príncipe encantado de toda santa noite. Resolveram partir para cima dos rapazes -seja de forma ostensiva ou mais discreta- o que vem deixando alguns deles amedrontados e outros bem contentes.
As mulheres saírem para a batalha amorosa como militares, e não mais como alvo, já não é uma novidade. O comportamento pretendido desde a revolução sexual, nos anos 60, teve sua utilização amplamente adotada pelas solteiras de mais de 30. A diferença é que agora suas sobrinhas e filhas tomaram nota direitinho e vêm treinando essa lição com fervor.
Isadora Pontes, 21 anos, diz que não tem mais paciência para esperar os caras chegarem desde os 14. Como prova de seu poder, ela conta que, "quando meu namoro de quatro anos começou, foi porque tomei a iniciativa; quando acabou, há nove meses, foi porque eu quis; e, quando voltou, há quase dois meses, foi porque fui atrás".
Sua irmã Natércia, 22, também já deu o primeiro passo num namoro com um rapaz que ela conheceu numa festa. E com uma especificidade: ele era um americano de passagem, mas que acabou ficando no Brasil por causa dela. No entanto nem sempre as meninas são bem-sucedidas. A própria Natércia recebeu um "por quê?" mal-educado somente por perguntar o nome de um cara num bar.
Quem pensou que as cantadas femininas viriam quase como poemas, depois de as garotas terem passado anos e anos recebendo todo tipo de abordagem fuleira, pode tirar o cavalinho da chuva. O clichê acima retrata bem o espírito da chegada das meninas. Papos furadíssimos como "vem sempre aqui?" ou "vamos lá fora conversar?" e a milenar tática de pedir às amigas que organizem o encontro são os hits delas.
Há as mais ousadas, como Lívia Bastos, 23, que uma vez chegou e disse na cara dura que queria muito dar um beijo em um paquera. Outra vez chamou um garoto que não conhecia para ajudá-la a trazer um carro para mais perto da festa onde estavam e decidiram não voltar mais.
Isadora, Natércia e Lívia dizem que os garotos não estranham a ação delas. Só se o pretendente for um amigo é que o caldo pode entornar. "Geralmente, eles preferem defender a amizade e dizem que não tem nada a ver", afirma Isadora.

Mais gostoso
Há exceções e muitas. "Quando o menino foge, eu fico com raiva", diz Luciana Lupinacci, 16. Ela, que nunca namorou firme, diz que grande parte dos meninos não aceita quando são elas que dão o primeiro passo. "Passei por um momento muito ruim agora, porque eu fui atrás e ele fugiu totalmente. Decidi que vou ficar na minha. Pelo menos por um tempo."
Para Mônica Muniz, 16, os meninos acham mais gostoso fazer joguinhos, para sentirem o prazer da conquista. Daí ela se vê diante de um dilema: "Se não vou atrás, sou mole; se vou, sou oferecida". E agora, quem poderá ajudar?

Se for para Paula Cruz, 20, decidir, ela tem de continuar investindo, porque "os caras hoje estão muito devagar". Paula afirma que, momentos antes de falar com o Folhateen, tinha abordado um vendedor de loja com um "oi, me apaixonei por você. Admito". Ainda não tinha rolado nada, mas ela parecia não se importar. A graça estava na investida. Ela conta que já levou um fora "porque o cara me achou feia", mas nem assim ela recuou.
Já, para as amigas Michelle Cardoso, 17, e Débora do Amaral, 24, uma abordagem vinda das meninas é "muita vagabundagem. Elas teriam que esperar o cara vir e dar idéia". Débora pensa que, "se a mulher foi fácil para um cara, ela vai ser para todos os outros". Michelle complementa: "Pessoa que vem fácil vai embora fácil".

Muito sossegada
Não é mera opção para todas as garotas ir ou não atrás do cara de quem ficou a fim. Há as que simplesmente não conseguem. Ana Carolina Carneiro, 20, se diz assim. "Admiro muito quem vai, mas eu não sei ser desse jeito."
Outras simplesmente desencanam. "Uma grande palhaçada." É assim que Caroline Arcanjo, 17, vê a idéia da batalha pelo parceiro. "Sou muito sossegada e acho que o jovem tem é que estudar."



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