São Paulo, segunda-feira, 14 de maio de 2007

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comportamento

Nunca fui beijado

Quando o assunto é beijo, a galera teen se divide entre beijoqueiros de plantão e curiosos inexperientes; só que ninguém quer estar no segundo grupo

Karime Xavier/Folha Imagem
A atriz Mayara Comunale, 13, é BV na vida real e interpreta uma menina que beija pela primeira vez no curta "Saliva"


THIAGO BRONZATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Ela é BV?!"
"Ééé!!! Nunca beijou!"
"Putz! E agora?!"
Apesar de esse diálogo ser recorrente em rodinhas de fofocas das meninas ou entre os marmanjos que pagam de garanhões-pegadores, o trecho acima compõe o roteiro do curta-metragem "Saliva", do cineasta Esmir Filho, 24, que será exibido nesta quinta no festival de cinema de Cannes.
Do mesmo autor do vídeo "Tapa na Pantera", o hit brasileiro no YouTube, o filme conta como Marina (Mayara Comunale), uma garota de 12 anos, é pressionada a dar o seu primeiro beijo no experiente Gustavo (Gabriel Cavicchioli).
O que deveria ser um sossego se transforma num dilema: enfrentar a repulsa à saliva ou continuar BV, isto é, boca virgem? "O primeiro beijo é uma coisa muito falada. Sem dúvida, é uma experiência muito marcante, inesquecível. O primeiro beijo é uma maturação, uma descoberta. Ao mesmo tempo, pra alguns, ele pode ser um monstro assustador", fala o cineasta (leia entrevista ao lado).
Seja devagar ou rápido, molhado ou seco, apaixonado ou roubado, a sobreposição dos lábios contraídos agita as batidas do coração e acelera a reação química entre sais, gorduras, água e cerca de 250 vírus e bactérias diferentes que se fundem num único beijo. Eca!
Nojento ou não, o primeiro beijo nem sempre é tão romântico e novelesco quanto parece nos filmes. "O meu primeiro beijo aconteceu quando eu tinha uns 8 anos. Foi no recreio da escola, debaixo da escada. Cheguei numa menininha bonita e disse: "E aí?! Vamos beijar?". Foi mecânico, um pouco estranho", confessa Gabriel, 11, o ator-mirim de "Saliva".

Experiente...
Luis Otávio de Carlo Oliveira, 17, prefere mil vezes beijar alguém experiente a ensinar uma BV. "Cara, as BVs não sabem o que fazem direito. Elas ficam meio nervosas... Eu sei que a primeira vez é tensa. Meu primeiro beijo, por exemplo, foi muito estranho. Eu tinha 14. Mas, modéstia à parte, mandei muito bem. Não fiquei nervoso. Foi sussa...Agora já beijei umas nove meninas. Me considero, sim, experiente. Aliás, já experimentei vários tipos de beijos", gaba-se o estudante de Marília, interior de São Paulo.
O fato de nenhum garoto ter tocado nos lábios rosados de Mayara, 13, é motivo de orgulho para a protagonista do curta. Segundo ela, ser taxada de boca virgem não a incomoda nenhum pouco. "Eu sou BV mesmo. Nunca tive vontade de beijar. Acho que sou muito nova, muito ingênua", diz a fã do grupo NX Zero.
Aliada à atriz, a campineira Isabela B. Gonçalves, 17, alega que a maioria dos homens não presta: "Eu não quero ser um simples objeto de prazer pra eles. Sabe, eu sei me valorizar. Quero uma pessoa especial num momento especial".
Essa mesma bandeira é hasteada por Caroline Felinto, 12, de Santo André: "Tô nem aí para o que os outros dizem de mim. Eu só vou querer beijar um moleque quando realmente gostar dele. Ninguém vai me fazer mudar de opinião. De vez em quando, minhas amigas me enchem o saco. Dizem que é bom beijar e blablablá. Sem contar que elas ficam tentando arrumar um garoto pra mim. Não se conformam com isso".

Período de seca
Se, de um lado, o grupo feminino não se importa de esperar, de outro, há meninos loucos pra saírem do período de seca. É o caso do mineiro Gustavo Ricardo Pimenta, 15, que roga: "Não é possível, véio. Deus tá de sacanagem comigo. Só pode. Acho que sou um repelente para as meninas".
Como o desespero gritou, o estudante da oitava série resolveu tomar uma iniciativa. Apesar de a ousadia ser bem-vinda (leia texto à direita), dessa vez ele levou um tapa na cara ao tentar beijar uma amiga.
"Estava infeliz com a minha situação. Mas fiquei mal mesmo depois que descobriram que sou BV. Tentei esconder de todos. Como vazou, tenho que agüentar a zoação geral."
Mas o que a galera comenta? "Sei lá, me chamam de bicha...Fico pra baixo com isso", desestimula-se. A adolescência é mesmo uma barra...


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