São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2000


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Romantismo das ondas curtas dá lugar às possantes rádios da Internet Anote; sua passagem de volta ao mundo tem o seguinte código de reserva: http://wmbr.mit.edu/stations. Isso mesmo, um endereço de Internet. Um valioso guia de estações de rádio, preparado pelos alunos do respeitado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. As estações estão separadas por continentes e, dentro de cada um, por países. Basta clicar no país e surge uma lista de rádios. A partir daí, é só viajar.
Uma ferramenta como essa tem significado ainda maior para alguém de minha geração, que você, jovem leitor, nem faz idéia que existiu: a geração das ondas curtas, um tipo de frequência usada para transmissão em longas distâncias.
Na adolescência, brigando contra uma chuva de interferências, ouvia as notícias no serviço brasileiro da BBC de Londres, tentava aprender inglês com a "Voz da América" e brincava de subversivo escutando as transmissões em espanhol da Rádio Moscou, órgão oficial comunista que se infiltrava no espaço aéreo brasileiro em pleno regime militar.
O fascínio dessas transmissões reside numa espécie de nostalgia de coisas que a gente nunca viveu. Na idéia de que, em algum ponto do universo, num determinado horário, sob certas condições de temperatura e pressão, existe uma vida que vale a pena, cheia de novidades, músicas bacanas e vozes sedutoras.
A desvantagem é que, para usar uma maravilha como esse guia de rádios do MIT, ainda é preciso ficar preso ao computador. Mas imagino como será o dia em que os computadores pessoais de hoje estiverem esquecidos em museus, e as conexões com a rede prescindirem de cabos e fios. Portando pequenos aparelhos do tamanho de um walkman, teremos à disposição um número infinito de rádios, notícias, música "baixável", gratuita ou não. Em suma: do que nos der na telha.
Quem acompanha "Escuta Aqui" sabe que esta coluna identifica no isolamento cultural brasileiro e na cooptação de novos nomes pelos medalhões estabelecidos uma das causas do estado indigente em que música e cinema brasileiros se encontram há anos.
Para os pessimistas e/ou nacionalistas do Brasil, quando se fala em livre acesso à informação, fala-se também em homogeneização do planeta -e, o que é pior, segundo o modelo americano. "Escuta Aqui" prefere ver o fenômeno como bom antídoto contra a repetição e a mediocridade, e o Brasil está precisando disso.



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