São Paulo, segunda, 15 de fevereiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Namorado em dificuldades bota toda a culpa na sogra

ROSELY SAYÃO
especial para a Folha

"O tempo passa, os valores mudam, e ainda há pessoas que submetem os filhos a valores retrógrados. Uma mãe que não conversa sobre sexo, não informa nem conta suas experiências para a filha tem o direito de amedrontá-la e reprimi-la quanto ao sexo, fazendo com que ela fique sem jeito até de perguntar sobre menstruação? Os filhos muito apegados aos pais consideram as palavras deles como lei. Mais tarde podem se dar conta de que deveriam ter questionado tudo isso, mas 20 anos vivendo nessa mentalidade e submissão mental não é muito para uma garota que vive quase no século 21? Minha namorada é assim. Sempre a respeitei porque a amo, mas, infelizmente, a sogra vem junto! Há algum remédio para aprender a lidar com sogras?"
² resposta Resumindo: você está apaixonado pela namorada e morrendo de vontade de ter intimidade sexual com ela, mas não está conseguindo porque a educação que ela teve foi muito repressora quanto ao sexo. Aí vem você e coloca toda a culpa das dificuldades sexuais de sua namorada, e as suas, na mãe. Nem pensar! Os pais, que já foram crianças e adolescentes, também estiveram submetidos a um certo tipo de educação sexual, que receberam dos pais deles, os atuais avós, que por sua vez também... E eles, meu caro, fizeram o que puderam com e pelos filhos, considerando os limites deles. Além disso, eles não estiveram sozinhos nessa, pois vivem em uma sociedade. Por isso pode deixar a mãe de fora e enfrentar, junto com sua namorada, o problema que é de vocês.
A mãe de sua namorada não conversa com ela sobre sexo? Converse você, então! E as amigas dela não podem bater um papo legal sobre o assunto? E os livros que existem, os profissionais que trabalham com esse tema? Por falta de canal é que ela não vai ficar sem falar no assunto. Não tem coragem? Ah, bom, então o problema é outro. Aos 20 anos ela ainda está submetida, como você disse, ao que pensa a mãe. Esse é o problema, e não a mãe.
Chega uma hora em que os jovens precisam decidir o que vale e o que não vale para a vida deles. É a hora da ruptura com o jeito de viver e pensar dos pais, de seguir o próprio caminho, de pensar e agir de maneira independente. Fácil não é, mas é preciso. Se isso não ocorre, lá fica o cara ou a moça vivendo na lamentação, colocando a culpa nos pais, mas vivendo como eles. Melhor cair na real, concorda? Que tal ajudar a garota a crescer e caminhar junto com ela?


Rosely Sayão, 48, é psicóloga e autora dos livros "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras, 1997) e "Sexo: Prazer em Conhecê-lo" (ed. Artes e Ofícios, 1995). Se você tem dúvidas sobre sexo, escreva para o Folhateen ou mande sua mensagem pela Internet para o e-mail roselys@uol.com.br



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.