São Paulo, Segunda-feira, 15 de Março de 1999
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Cartas
Há recado para Deus e o mundo. Para os machões dos anos 90, para a Lakshmi Lobato, a MTV. Confira a correspondência!

Problema com livros
"Na edição de 1º/3, foi publicado o artigo "Ler e escrever, pensar e existir", do escritor Gustavo Ioschpe. O artigo é excelente, e o Folhateen poderia explorar mais o tema.
Sou estudante universitário, tenho 22 anos, a mesma idade de Gustavo Ioschpe, e não tenho vergonha de dizer: tenho dificuldade em ler livros. Há mais de um ano venho procurando ajuda e orientação e encontrei alguns conselhos úteis, mas sinto falta de algo mais consistente.
Não tenho deficiência visual ou cognitiva, leio jornal diariamente e até escrevo crônicas e contos, os quais publico na Internet para um punhado de amigos. Meu problema é com livros.
No colégio tive contato com a leitura exatamente da maneira como Gustavo descreveu: livros obrigatórios, fichas de leitura, decoreba. Também há no artigo o trecho "... que o seu cérebro enferrujado por horas e horas de televisão ...". Esse é o problema. Li muito pouco e assisti muita TV, e ainda assisto. No entanto tenho muita vontade de ter um contato maior com livros, mas, quando chega a hora da leitura, leio três páginas e já me dá vontade de fazer outra coisa qualquer. Se passam três horas seguidas de "sitcom" na TV, nem me incomodo e ainda vejo mais. A TV acalma as ansiedades.
Mas o que quero com este mail não é falar sobre minhas ansiedades, e sim propor uma pauta. Algo como: "Pós-adolescentes que têm pouca capacidade de se concentrar para ler livros porque destruíram seu cérebro vendo TV, o que fazer para adquirir o hábito de leitura?".
Tenho certeza de que há milhares iguais a mim. Por favor, pensem em nós, os jovens velhos que gostariam de tentar consertar alguns problemas de formação."
João Marcelo Guimarães Brasil, 22 (via e-mail)

MTV com burros n'água
"Dou minha solidariedade ao Theo Leopardi (ed. de 8/3), que mostrou sua decepção com a programação da MTV, a qual tornou-se "eclética" para agradar a todos e aumentar a audiência.
Mas os diretores da MTV não entenderam uma diferença abissal entre quem curte rock, hard, punk, reggae e pop e quem ouve pagode, axé music, música sertaneja e porcarias assemelhadas.
O primeiro quer ver seu ídolo na televisão, acompanhar todos os seus passos e assistir seus clipes. O outro não liga a mínima para a música e, se toca na rádio ou se passa na TV, para ele não faz diferença alguma.
Por isso é que esse novo diretor da MTV -não me lembro bem o nome dele, mas que, de cara, não entende nada de música- vai dar com os burros n'água.
A audiência não deverá aumentar porque o som que a "nova" MTV pretende mostrar não fascina o público a ser atingido.
Não se admire se, em pouco tempo, a emissora voltar atrás ao perceber que seus fiéis espectadores de outrora estão desaparecendo."
William Robson Cordeiro (Mossoró, RN)

Leitor agradece à leitora
"Obrigado, Lakshmi Lobato (ed. de 1º/3), você me deu mais incentivo para continuar. Perdi minha audição em 96, mesmo assim, em 97, consegui entrar no curso de engenharia elétrica; fiz um ano e tranquei a matrícula por motivos financeiros, não por incapacidade intelectual, pois eu era um dos melhores da sala e passei para o segundo ano, mesmo sem saber fazer leitura labial. Agora espero o resultado da prova de transferência para uma escola federal. Por isso obrigado por você me mostrar que eu posso ser normal mesmo sendo deficiente auditivo."
Leandro Tadeu dos Santos, 22 (Cambuí, MG)

Loucuras por mulheres
"Gostei da edição de 8/3 porque atingiu um tema polêmico, o machismo. Sou totalmente contra. As mulheres não vieram para nos servir, ao contrário. O que mais se vê são homens apaixonados fazendo loucuras pelas mulheres."
Mateus de Castro Lima (via e-mail)

Espaço para ópera
"Tenho 16 anos e gosto muito de concertos e óperas. Mesmo sabendo que a maioria dos jovens leitores deste caderno gostam de rock, acho que o Folhateen poderia dedicar um espaço, ainda que poucas linhas, à ópera, a qual também possui muitos admiradores jovens."
José Luiz Águedo Silva, 16 (via e-mail)

Machões dos anos 90
"Quase tive um colapso lendo o último caderno (8/3). O que me impressionou foram os rapazes que estão ditando regras, as quais quebradas nos dão o direito a um título para lá de deturpado: galinha!
O que eu sinto é que quem estagnou foi o homem, e a mulher está caminhando sempre, inovando, quebrando tabus e regras numa velocidade que 500 anos de machismo não conseguem acompanhar! Claro que existe um certo abuso, mas considero falta de orientação. A liberdade é nova para nós. Estamos lidando com algo que precisa de limites, mas não conseguidos por meio de regras e tabus. Quem não tem uma base legal para dizer "vá com calma" tem de se ligar no bom senso.
Voltando aos machões dos anos 90: criticar as ações alheias pode ser o caminho mais fácil em vez de aceitar as mudanças que estão ocorrendo. E atenção, mr. Kojima: se o seu filme é de tanta qualidade, você deve estar deixando de exibi-lo a muita garota legal só porque você a rotulou. Deixe disso, cara! Abra os olhos!"
Karen Ribeiro da Silva, 22 (São José dos Campos, SP)

Davis e Lorenas da vida
"Dizem que vivemos numa época de muitas liberdades e pouca liberdade. Acho que é isso! Fui a uma festa, quando surgiu o burburinho de que o Davi queria ficar com a Lorena. Só que ele não tinha coragem de se declarar, enquanto a moçoila, que já sabia do interesse do moço, decidiu que não queria nada com ele. Até aí, tudo bem. Só que entrou em campo a turma, os pseudo-amigos. Dividiram-se ao meio, um pouco para o lado do Davi, e um pouco no pé da Lorena, e tentaram de tudo unir os pombinhos. Mas não foi em prol da liberdade, apesar de dizerem sempre: "A gente é livre pra fazer o que quiser". Exigiam atitude de homem a um garoto de 14 anos, colocavam em dúvida a sua masculinidade por ele ser tímido e por saber que, se fosse falar com a Lorena, levaria um não bem sonoro. E convenciam uma menina a deixar de ser infantil. Sabe o que ouvi? "Ah, Lorena, você só dá uns beijinhos nele, uns amassos e pronto." Ela nunca havia ficado antes e não gostava do Davi, ele gostava de verdade da Lorena, mas queria que ela também gostasse dele. "Que é isso, nem parece homem!", disseram. Como resistir? São aqueles de quem a gente gosta que estão forçando a barra.
E naquela noite dois jovens dormiram com ampla sensação de poder. Provaram que eram adultos ao mesmo tempo em que perderam parte de sua liberdade. Por que se tem de fazer qualquer coisa só pra provar que é livre? Como é que se prova que é adulto quando não se tem vontade própria? Soa meio paradoxal. Liberdade não é libertinagem. É poder escolher o que quer e pode fazer, arcando com as consequências, o que exige luta consigo mesmo. Enquanto a turma reinar, os Davis precisarem ser homem e as Lorenas deixarem de ser infantis, liberdade? Bah!"
Sulamita Saad (via e-mail)



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