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JOGADA DE RISCO
Morte de estudante provoca perseguição a títulos de RPG
A regra do jogo
SHIN OLIVA SUZUKI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os jogos de RPG ("role-playing game") entraram na mira da Justiça sob a alegação
de que podem ser prejudiciais. O assassinato da estudante Aline Silveira Soares, de 18
anos, funcionou como estopim.
A morte ocorreu em Ouro Preto (MG),
em outubro do ano passado. Aline, estudante de farmácia, foi violentada e assassinada com golpes de faca em um cemitério
da cidade. O corpo foi encontrado em uma
posição que sugeria crucificação.
Segundo a polícia, foi apreendido material relativo a RPG entre os pertences de
dois suspeitos, e as características do crime
contêm indícios de inspiração no livro temático "Vampiro - A Máscara". Para o delegado seccional de Ouro Preto Adauto Corrêa, 45, "o golpe desferido na vítima e o sangramento não foram comuns. O sangue ficou espalhado em todo o corpo".
Os integrantes do grupo que jogou com
Aline antes de sua morte foram indiciados:
os estudantes Edson Poloni Lobo de Aguiar,
Maicon Fernando Lopes e Cassiano Inácio
Garcia, além da prima de Aline, Camila Silveira, 19, e de sua amiga Liliane Pereira de
Almeida, 18.
O procurador da República no Estado,
Fernando de Almeida Martins, 33, entrou
com uma ação pedindo a classificação etária para os jogos e a proibição dos livros
"Iluminati", "Demônio - A Divina Comédia", além de "Vampiro". A venda destas
obras ainda não foi impedida, mas o Ministério da Justiça já tem a autorização para
controlar a venda.
Segundo Almeida Martins não se trata de
censura: "Por estarmos em um estado democrático, não significa que possamos permitir toda e qualquer veiculação de idéias".
E diz que não é contra o RPG em si. "Quero
deixar bem claro: a dinâmica do jogo é boa,
muito inteligente."
Para o gerente de eventos e produtos da
Devir Livraria, Carlos Eduardo Lourenço,
27, a proibição, se aprovada, será sim uma
censura. Ele também não concorda com a
classificação por faixa etária. "Já é feito um
controle natural pelos pais, pela livraria e
pelo próprio jogador", diz. A empresa é responsável pela tradução e lançamento de títulos famosos, como o próprio "Vampiro".
Lourenço afirma que obras de literatura
estiveram relacionadas a crimes, mas nem
por isso sua circulação foi impedida.
Antecedentes
O neuropsicólogo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas Daniel Fuentes,
27, diz que o RPG pode ser utilizado como
meio, mas não representa, isoladamente, a
causa de um ato violento.
"A pessoa pode usá-lo como um instrumento na sua doença. O RPG não é aliciador, não induz nem desenvolve [tendências
nocivas], mas pode ser usado por uma pessoa perversa. Nós acabamos de ver alguém
que usa da medicina para exteriorizar toda
uma doença mental."
O médico emprega o jogo há dois anos como ferramenta para tratar crianças com déficit de atenção e hiperatividade. "O RPG
promove a organização, a agilidade mental e
o companheirismo, porque a proposta é não
haver vencedor."
O estudante de engenharia Alberto Ciccone, 22, teve o primeiro contato com RPG há
quatro anos e se reúne com um grupo a cada
15 dias para jogar "Star Wars", versão da série cinematográfica de George Lucas.
Ele diz que não duvida da possibilidade de
que o crime de Ouro Preto tenha sido inspirado no "Vampiro". "Eu não defendo idiotas. Alguém não soube diferenciar fantasia
da realidade", diz Ciccone.
Na opinião do instrutor de informática
Diego Bellangero, 19, "a regra de ouro é nunca levar o "on", que é o momento que estamos jogando, para o "off", quando acaba".
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