São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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MÚSICA

Com "Sim e Não", cantor vive fase sem drogas, solidifica relação com banda e, ao violão, reforça laços com o rock

O dilema de Nando Reis

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Antes eu achava que dizer "sim" era liberdade. Hoje acho isso meio tolo e tenho conseguido dizer mais "nãos'", afirma Nando Reis, 43, que acaba de lançar "Sim e Não", seu quarto álbum.
De modo franco, o cantor e compositor, que saiu dos Titãs há quatro anos, afirma que um dos principais "nãos" que teve de dizer recentemente foi a decisão de parar de usar drogas e álcool antes de se apresentar ao vivo.
"Isso não é o assunto do disco, mas sem dúvida o CD é uma conseqüência da minha aptidão alterada pelo fato de não estar mais alterado", afirma.
O que antes era feito para driblar uma timidez na hora de encarar o público tinha virado um problema. "Nos Titãs, tínhamos cinco vocais, cinco comunicadores e, às vezes, dávamos cinco "boa-noites" no mesmo show. De repente, tive que encarar sozinho a comunicação com a platéia. Muitas vezes dava tudo errado."
O cantor e compositor vive hoje sua terceira união e está à espera do quinto filho, Ismael, que deverá ganhar uma canção assim como Zoe, a mais novinha, homenageada em "Espatódea".
Com a serenidade de quem atualmente faz ioga -"A minha intenção agora é levitar", afirma, entre risos-, Nando não tem a intenção de ser dogmático. Fala dessas escolhas como quem relata um processo de autoconhecimento que culminou num belo disco. Que não foge ao estilo declaradamente autobiográfico, calcado no violão seguido pelos fiéis escudeiros dos Infernais: Alex Veley (teclados), Carlos Pontual (guitarra), Diogo Gameiro (bateria) e Felipe Cambraia (baixo).
"Noutro dia eu reparei nisso, que todas as minhas letras são na primeira pessoa. São reflexões de um olhar para dentro de mim", conta Nando, que se defende de um possível egoísmo. "Acho que o bem-estar tem a ver com a sua compreensão do que você pensa. Voltar-se para dentro de si não é excluir, e sim se certificar do que é seu para poder dar ao outro."
O.k., mas, musicalmente, Nando Reis e os Infernais são uma banda? "Sim, porque eu escrevo as canções e a gente decide os arranjos em conjunto. Foi uma percepção gradativa [a mudança de nome de Nando Reis para Nando Reis e os Infernais], quando eu reparei que gostava de ser visto como um artista que tinha um diálogo com uma banda em vez de um artista apoiado por uma banda. Sem falar que eu gosto da idéia que o nome passa, de um som quente e profano. Toco violão, mas não faço MPB, meu som é muito mais ligado ao rock."
E surgem mais dilemas nas 12 canções. Depois da pop "Sou Dela", surge o verso "Você pertence a você" na mais "infernal" canção do álbum, "Monóico".
Uma torrente de imagens eróticas em que um homem e uma mulher se confundem, até que a diferença entre os sexos não faz mais nenhuma diferença, numa interpretação raivosa de Nando.
"Ela é uma espécie de manifesto nesse disco. A idéia veio, e eu acabei musicando com uma fluência que normalmente não tenho quando faço a letra primeiro", conta ele, sobre o texto que tem versos como "Eu sou um homem, você é uma mulher/Você me come porque eu quero ser sua mulher".
Um verso que muitos podem considerar um atentado ao bom gosto, mas Nando Reis não parece preocupado com isso.
"Muitas vezes, você só consegue expressar uma idéia com base no exagero, e eu realmente faço os meus discos pensando mais no que eu quero", diz o cantor, que ressuscitou "Fogo e Paixão", sucesso brega de Wando que deverá permanecer nos shows do lançamento do disco, cuja turnê está prevista para agosto.


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