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MÚSICA
Com "Sim e Não", cantor vive fase sem drogas, solidifica relação com banda e, ao violão, reforça laços com o rock
O dilema de Nando Reis
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Antes eu achava que dizer "sim"
era liberdade. Hoje acho isso
meio tolo e tenho conseguido
dizer mais "nãos'", afirma Nando Reis, 43,
que acaba de lançar "Sim e Não", seu quarto álbum.
De modo franco, o cantor e compositor,
que saiu dos Titãs há quatro anos, afirma
que um dos principais "nãos" que teve de
dizer recentemente foi a decisão de parar
de usar drogas e álcool antes de se apresentar ao vivo.
"Isso não é o assunto do disco, mas sem
dúvida o CD é uma conseqüência da minha
aptidão alterada pelo fato de não estar mais
alterado", afirma.
O que antes era feito para driblar uma timidez na hora de encarar o público tinha
virado um problema. "Nos Titãs, tínhamos
cinco vocais, cinco comunicadores e, às vezes, dávamos cinco "boa-noites" no mesmo
show. De repente, tive que encarar sozinho
a comunicação com a platéia. Muitas vezes
dava tudo errado."
O cantor e compositor vive hoje sua terceira união e está à espera do quinto filho,
Ismael, que deverá ganhar uma canção assim como Zoe, a mais novinha, homenageada em "Espatódea".
Com a serenidade de quem atualmente
faz ioga -"A minha intenção agora é levitar", afirma, entre risos-, Nando não tem
a intenção de ser dogmático. Fala dessas escolhas como quem relata um processo de
autoconhecimento que culminou num belo disco. Que não foge ao estilo declaradamente autobiográfico, calcado no violão seguido pelos fiéis escudeiros dos Infernais:
Alex Veley (teclados), Carlos Pontual (guitarra), Diogo Gameiro (bateria) e Felipe
Cambraia (baixo).
"Noutro dia eu reparei nisso, que todas as
minhas letras são na primeira pessoa. São
reflexões de um olhar para dentro de
mim", conta Nando, que se defende de um
possível egoísmo. "Acho que o bem-estar
tem a ver com a sua compreensão do que
você pensa. Voltar-se para dentro de si não
é excluir, e sim se certificar do que é seu para poder dar ao outro."
O.k., mas, musicalmente, Nando Reis e os
Infernais são uma banda? "Sim, porque eu
escrevo as canções e a gente decide os arranjos em conjunto. Foi uma percepção
gradativa [a mudança de nome de Nando
Reis para Nando Reis e os Infernais], quando eu reparei que gostava de ser visto como
um artista que tinha um diálogo com uma
banda em vez de um artista apoiado por
uma banda. Sem falar que eu gosto da idéia
que o nome passa, de um som quente e profano. Toco violão, mas não faço MPB, meu
som é muito mais ligado ao rock."
E surgem mais dilemas nas 12 canções.
Depois da pop "Sou Dela", surge o verso
"Você pertence a você" na mais "infernal"
canção do álbum, "Monóico".
Uma torrente de imagens eróticas em que
um homem e uma mulher se confundem,
até que a diferença entre os sexos não faz
mais nenhuma diferença, numa interpretação raivosa de Nando.
"Ela é uma espécie de manifesto nesse
disco. A idéia veio, e eu acabei musicando
com uma fluência que normalmente não
tenho quando faço a letra primeiro", conta
ele, sobre o texto que tem versos como "Eu
sou um homem, você é uma mulher/Você
me come porque eu quero ser sua mulher".
Um verso que muitos podem considerar
um atentado ao bom gosto, mas Nando
Reis não parece preocupado com isso.
"Muitas vezes, você só consegue expressar uma idéia com base no exagero, e eu
realmente faço os meus discos pensando
mais no que eu quero", diz o cantor, que
ressuscitou "Fogo e Paixão", sucesso brega
de Wando que deverá permanecer nos
shows do lançamento do disco, cuja turnê
está prevista para agosto.
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