São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

música

Vamo batê coco

Pernambucanos redescobrem as raízes e a tradição musical e espiritual de um antigo estilo

ALEX ANTUNES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM ARCOVERDE (PE)

Há 50 anos um clichê pop diz que a adolescência é a época de negar os valores tradicionais e cair de cabeça no rock, na rebeldia... Mas, nesses 50 anos, as coisas mudaram um pouco. Apesar de alguns surtos periódicos de inconformismo, como o punk, o próprio rock virou tradição. E, depois de palavras como "irreverência" e "atitude" virarem lugar-comum publicitário, também não se pode dizer que a palavra "rebelde" viva os seus melhores dias.
Dois grupos de coco de Pernambuco (leia mais sobre esse ritmo no texto ao lado), o Bongar e o Samba de Coco Raízes de Arcoverde, mostram uma outra forma de radicalismo adolescente: o da redescoberta das raízes e da tradição musical e espiritual. É o caso de Damares Calixto, 17, Ítalo Silvério, 15, e Dayane Calixto, 20.
Nos ensaios públicos do Raízes de Arcoverde, uma das primeira coisas que se nota é a presença, ao lado dos membros veteranos, de crianças e jovens. Olhando para a pequena Joaninha, de um ano e seis meses, que arrisca os primeiros passos, Dayane lembra: "Eu entrei no grupo com seis anos". Hoje ela é a principal dançarina.
Ao lado de Damares, que toca ganzá, Dayane já se apresentou na Bélgica, na Noruega, na França, na Alemanha e na Itália. O dançarino Ítalo ainda não saiu em turnê, mas não vê a hora: "Já sonhei que estava na França", conta.
No Brasil, o Raízes de Arcoverde muitas vezes se apresenta com bandas de rock ou de pop -como o Cordel do Fogo Encantado, que é o grupo mais conhecido da cidade.
Shows como os do RecBeat, festival de Recife, já provaram que a pegada da banda não fica a dever nada ao rock. Quando chegou para passar o som em sua primeira participação no festival, o grupo foi gozado pelos técnicos, que disseram que eles "não tinham instrumentos". Mas, depois de mostrarem a sonzeira que tiram apenas com percussão e voz, além dos tamancos característicos do grupo, o pessoal da técnica pediu desculpas e ainda comprou CDs do Raízes.
A reação do público foi tão entusiástica que o grupo tocou três vezes seguidas no festival.
Já o grupo Bongar foi fundado há seis anos por Guitinho da Xambá, 24. Ele saiu de Olinda ainda garoto para correr mundo e se envolver com teatro, dança e poesia. Quando voltou, começou a convencer os primos a formar um grupo.
Inicialmente os amigos não gostaram das idéias de Guitinho. "Eles já tinham me convidado pra tocar em grupos de pagode e de axé, e eu não tinha me interessado", conta. "Quando voltei com a proposta de montar um grupo para tocar o "coco trovejante" da nossa tradição, eles estranharam. Mas o Bongar ajudou a mudar essa relação dos jovens com a cultura tradicional", explica Guitinho.

NA INTERNET - Grupos de coco


www.cocoraizes.com.br
www.bongar.com.br



Texto Anterior: Evanescence no Brasil
Próximo Texto: Roda de palmas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.