São Paulo, Segunda-feira, 16 de Agosto de 1999 |
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BRUNA MONTEIRO DE BARROS da Redação "Antes (de ouvir Raul) eu era submisso aos meus pais. Hoje, falo o que penso, e, se eles acham que estou errado, têm de provar." Esse foi um dos legados do Maluco Beleza ao fã Michel Bedran, 17, de Araraquara, SP. O cantor e compositor baiano Raul Seixas morreu há dez anos, que se completam no próximo sábado (21/8), e gente que mal sabia o que era música na época é hoje fã de carteirinha de um dos maiores ídolos do rock brasileiro. Michel está querendo montar um fã-clube do artista -o 45º no Brasil: "Nós, jovens, somos mal compreendidos, e Raul passa uma mensagem de segurança. Acho que existe muito jovem que precisa conhecê-lo". Para Frederico Arnoldi, 17, Raul Seixas era um adolescente. "Não no sentido de imaturidade, mas na força de vontade de mudar o mundo. O melhor amigo de um adolescente, com certeza, é outro adolescente." "Raul está em todas as situações. Em cada momento há uma música, uma frase, que se encaixa", diz Mirela Barrella, 18. "O que ele deixou foi a batalha pelo espaço, para não deixar essa sociedade imbecil manipular todos", afirma o namorado, Tiago Sotero, 19. Hoje à noite o casal deverá lançar o livro "Dez Anos Sem Raul Seixas", uma produção independente, com textos da dupla, entrevistas com pessoas que conheceram o ídolo e fotos inéditas. Raul não produziu rap, mas é ídolo do movimento, pois representa o alternativo brasileiro. Por isso Fábio da Silva, 23, do movimento Hip Hop Z/N, organiza festas para lembrar o Maluco Beleza. Mas, se há uma fã verdadeiramente perseverante, é Renata Passos, de 18 anos. Começou a gostar do cantor aos 9. Cresceu e se casou com o presidente do fã-clube oficial do músico. Há cerca de um mês, deu à luz o primeiro filho, Sylvinho, que já participou de lançamento de disco e de livros em homenagem a Raul e, pelo jeito, inaugura a próxima geração de raulseixistas. Procurado pela Folha, Paulo Coelho, parceiro de Raul e autor de "O Alquimista", explica a permanência do sucesso do fenômeno Raul Seixas: "O que a gente procurava era exprimir a nossa busca pessoal e espiritual, e essa busca sempre será atual, desde que seja feita de uma maneira honesta, e foi o que aconteceu. Havia um sentimento de utopia e continua havendo. A grande utopia era você poder exercer o seu direito de ser diferente. Coisa que, durante os governos militares, não se podia e hoje muito menos, porque hoje o inimigo nem sequer é identificado. Hoje a sociedade vai te padronizando, sem que isso seja detectado. E exercer o seu direito de ser diferente é você pensar, desde que você não agrida o teu próximo, não viole a ética do teu próximo, você fazer aquilo que te dá entusiasmo na vida." Próximo Texto: André Barcinski: O general do exército de malucos Índice |
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