|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESTANTE
"O Trono da Rainha Jinga" resgata o Brasil do séc. 17
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma vez o grande cronista Ivan Lessa disse que família
tradicional, no Brasil, era aquela que conhecia o avô.
É uma piada e não é: se pensarmos nas massas da população brasileira, é mesmo por aí. Nós, que sempre tomamos leite e tivemos colégio e família, podemos até estranhar tão rasa história, mas só nós.
A sensação pessoal que temos a respeito da história fica limitada a três gerações, e o mais é algo vasto e indefinido que vem da Pedra Lascada até este século. Da mesma forma que indivíduos e cidades brasileiras são jovens e não param de se transformar. Luiz Tatit, grande
figura da canção contemporânea, observou como é difícil fazer música sobre São Paulo, já que a cidade muda
de cara a cada momento. O sujeito canta uma esquina e,
vai ver, ela desapareceu.
Agora imagina considerar o Brasil de 1620. Isso é antes da febre do ouro nas Minas Gerais e da conquista do
Sul. Fala a verdade: dá para imaginar isso? O que seria a
vida no remoto século 17, que viu brotarem Gregório de
Matos e o padre Antônio Vieira, na Bahia?
A novela "O Trono da Rainha Jinga", de Alberto Mussa, faz esse recuo histórico. Localiza no ano de 1626 um
enredo que envolve escravos recém-chegados ao Brasil,
outros já calejados do sofrimento, uns brancos portugueses, que são comerciantes, funcionários do Estado
ou meros coadjuvantes da cena, tudo num Rio de Janeiro sujo e corrupto. Rio que era uma aldeia secundária,
porque o centro nervoso do país estava em Salvador e
nas cidades pernambucanas. Mas já era um porto estratégico, que cresceria barbaramente até chegar à condição de maior cidade brasileira e capital da colônia.
O centro da história é ocupado por um português,
Mendo Antunes, que viveu na África antes de aqui chegar, e uma africana, a ex-rainha Jinga, que passa a se
chamar Ana de Souza por conveniência católica. Variando de ponto de vista narrativo a cada capítulo, a novela traz vários atentados cometidos por uma irmandade de escravos e alforriados que se ocupa de combater a
escravidão por uma via estranha e cruel, que o leitor
acompanha com interesse.
E-mail: fischerl@uol.com.br
O Trono da Rainha Jinga
Autor: Alberto Mussa
Editora: Nova Fronteira, 0000
0000000222 págs.
Quanto: R$ 17, em média
Texto Anterior: UFO Próximo Texto: Eu leio: Pergunte ao Pó, John Fante Índice
|