São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2000

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ESTANTE

"O Trono da Rainha Jinga" resgata o Brasil do séc. 17

LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma vez o grande cronista Ivan Lessa disse que família tradicional, no Brasil, era aquela que conhecia o avô. É uma piada e não é: se pensarmos nas massas da população brasileira, é mesmo por aí. Nós, que sempre tomamos leite e tivemos colégio e família, podemos até estranhar tão rasa história, mas só nós.
A sensação pessoal que temos a respeito da história fica limitada a três gerações, e o mais é algo vasto e indefinido que vem da Pedra Lascada até este século. Da mesma forma que indivíduos e cidades brasileiras são jovens e não param de se transformar. Luiz Tatit, grande figura da canção contemporânea, observou como é difícil fazer música sobre São Paulo, já que a cidade muda de cara a cada momento. O sujeito canta uma esquina e, vai ver, ela desapareceu.
Agora imagina considerar o Brasil de 1620. Isso é antes da febre do ouro nas Minas Gerais e da conquista do Sul. Fala a verdade: dá para imaginar isso? O que seria a vida no remoto século 17, que viu brotarem Gregório de Matos e o padre Antônio Vieira, na Bahia?
A novela "O Trono da Rainha Jinga", de Alberto Mussa, faz esse recuo histórico. Localiza no ano de 1626 um enredo que envolve escravos recém-chegados ao Brasil, outros já calejados do sofrimento, uns brancos portugueses, que são comerciantes, funcionários do Estado ou meros coadjuvantes da cena, tudo num Rio de Janeiro sujo e corrupto. Rio que era uma aldeia secundária, porque o centro nervoso do país estava em Salvador e nas cidades pernambucanas. Mas já era um porto estratégico, que cresceria barbaramente até chegar à condição de maior cidade brasileira e capital da colônia.
O centro da história é ocupado por um português, Mendo Antunes, que viveu na África antes de aqui chegar, e uma africana, a ex-rainha Jinga, que passa a se chamar Ana de Souza por conveniência católica. Variando de ponto de vista narrativo a cada capítulo, a novela traz vários atentados cometidos por uma irmandade de escravos e alforriados que se ocupa de combater a escravidão por uma via estranha e cruel, que o leitor acompanha com interesse.
E-mail: fischerl@uol.com.br

O Trono da Rainha Jinga
Autor: Alberto Mussa
Editora: Nova Fronteira, 0000 0000000222 págs.
Quanto: R$ 17, em média



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