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COMPORTAMENTO
Lente da vaidade
Essa geração se clica como nunca; foto digital e redes sociais deram a todos suas quinze poses de fama
Patrícia Araujo/Folha Imagem
![](../images/41611200901.jpg) |
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"Ligo para beleza mas não é por isso que me fotografo" Igor, 16
CHICO FELITTI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nunca fui
muito de tirar foto", diz
Igor Belchior, 16 anos, quatro perfis lotados no Orkut e uma comunidade que congrega 54 páginas
"fake" da sua pessoa.
Igor ficou famoso na internet
por seus autorretratos. Seja de
boné de aba reta, óculos de aro
grosso ou de lente azul no olho,
só tira fotos de si mesmo -foram mais de 300. Começou ao
desfiar o cabelo e não parou
mais, por causa de elogios.
"Cara, invejo suas fotos", diz
Nathália Lima, por "testimonial". "Ele é perfeito! As fotos
dele são muuuito demais", depõe por MSN Lívia Carbol, 14,
que não o conhece ao vivo.
Hoje, ele só tem 24 fotos na
rede, mas atrai um novo "amigo" por dia. Por que Igor produz esses chamarizes e por que
as pessoas os procuram?
Ele diz não saber, mas a antropóloga Carmen Rial diz que
"essa geração tem câmera digital e a usa como espelho.
Olham-se nas fotos e também
olham para o outro, para descobrir quem são."
Coordenadora do Núcleo de
Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Rial diz que nunca a imagem foi tão importante para fazer parte de grupos.
"A foto de si serve para dizer
"estive lá", ou "estive com eles"."
Kiany Caprera, 15, diz que
seu rosto ocupa a maior parte
dos álbuns de viagem.
"É que a gente emoldura a
paisagem, e assim qualquer coisa fica mais bonita", explica.
Por "a gente", fala de um grupo de pessoas que "sabem tirar
autorretrato". "Não são todos."
Ela faz parte de uma comunidade de Orkut na qual só são
admitidos usuários "especiais".
"Gente bonita, sabe?" Foi
convidada a entrar por causa da
cara que se deu, com ajuda de
"um pouquinho de Photo-
shop", nas 120 fotos do perfil.
Mas Kiany admite que imagem pode não ser tudo e que
"fotos não importam tanto".
"É comum dizer que as fotos
não importam", diz o aluno de
ciências sociais da USP Eduardo Garcia, que estuda o uso de
foto em redes sociais.
Garcia diz que, mesmo gastando horas nas fotos e fazendo
legítimos "books" com os braços esticados, teens fingem que
as fotos são espontâneas.
Carlos Moreno, 18, não finge.
"É óbvio que estufo o peito e
sorrio de boca fechada, para
não aparecer o aparelho!"
Para Moreno, uma boa "autofoto" é "chance de conhecer
gente que não te olharia na
rua", e uma boa câmera vale o
investimento que for em dinheiro.
Ou em presente. Nathália Pacheco, 15, espera pela chegada
do Papai Noel para aprimorar a
técnica. Pediu de Natal uma câmera semi-profissional, para
"se fotografar em todo lugar".
Arte da "autofoto"
A mania de "fincar a bandeira", fotografando-se em qualquer lugar, pode incomodar.
"É um saco! Atrapalha quem
quer ver o que está exposto, em
vez de se ver com o que está exposto", diz um monitor do Museu da Língua Portuguesa, no
centro de São Paulo.
No museu Louvre, em Paris,
câmeras também são muitas,
mas não um problema.
"A gente deixa. É um jeito de
o jovem interagir com a arte e
se apropriar dela, por mais que
a gente não entenda", diz Didier Arnaud, monitor da sala
onde fica a "Monalisa", que pode ser um autorretrato (leia na
página ao lado).
Colaborou ONUR UYGUN, de Paris
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