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João Brasil inspirou reportagem
da Reportagem Local
Sabe aquela música dos Titãs
que diz "é que a televisão me deixou burro, muito burro demais"?
O estudante de desenho industrial João Marcelo Guimarães
Brasil, 22, carioca, pergunta se isso é possível. "Eu imagino que vi
televisão demais e li muito pouco,
por isso tenho tanta dificuldade
para ler livros."
João foi o estopim desta reportagem. Mandou um e-mail para o
Folhateen tão desesperado, em
busca de socorro para o seu problema, que o caderno resolveu
explorar o assunto. Ele diz que
não tem deficiência visual ou
cognitiva, lê jornal diariamente e
até escreve crônicas e contos na
Internet para ser lido por um punhado de amigos. "Meu problema é com os livros." Há mais de
um ano procura ajuda e busca as
causas dessa dificuldade.
Uma delas, tem certeza, foi a
leitura obrigatória da escola. "Os
livros não me interessaram, como eu acho que não iam interessar a ninguém naquelas mesmas
circunstâncias. Nem lembro o
nome deles, acho que abortei essa
experiência do meu cérebro."
Mas João não abortou a vontade de ter um contato maior com
os livros porque acha que eles podem ajudá-lo a não ter medo de
ser superficial, de falar besteira,
de não saber articular as idéias.
"Não quero navegar em palavras
para soar inteligente, não tenho
medo de dizer algo que pareça
burrice, desde que eu saiba me
defender." Por isso, ele se incomoda tanto com a facilidade que
sente em assistir televisão.
"Não me incomodo se passo
três horas vendo sitcom na TV e
ainda vejo mais, a televisão acalma as ansiedades. Mas, na hora
da leitura, leio três páginas e me
dá vontade de fazer outra coisa."
Um dos conselhos que João recebeu para o seu entrave com os
livros foi o de começar lendo
contos, que são mais curtos. Determinado, escolheu alguns de
Rubem Fonseca, um dos mestres
do gênero, que ainda por cima é
um profundo conhecedor da cultura carioca. "Eu me interessei
pra caramba, acho que a questão
da identidade com o que ele estava falando foi fundamental."
Mas reclama que não está acontecendo o mesmo com o livro que
está lendo para a faculdade, "A
Democracia na América", de Alexis de Tocqueville. "É muito interessante, mas tem 500 páginas, eu
leio umas 20, 30 e já me desinteresso. Nos contos do Rubem
Fonseca, depois das 30 páginas a
história já acabou."
(FG)
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