São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

João Brasil inspirou reportagem

da Reportagem Local

Sabe aquela música dos Titãs que diz "é que a televisão me deixou burro, muito burro demais"? O estudante de desenho industrial João Marcelo Guimarães Brasil, 22, carioca, pergunta se isso é possível. "Eu imagino que vi televisão demais e li muito pouco, por isso tenho tanta dificuldade para ler livros."
João foi o estopim desta reportagem. Mandou um e-mail para o Folhateen tão desesperado, em busca de socorro para o seu problema, que o caderno resolveu explorar o assunto. Ele diz que não tem deficiência visual ou cognitiva, lê jornal diariamente e até escreve crônicas e contos na Internet para ser lido por um punhado de amigos. "Meu problema é com os livros." Há mais de um ano procura ajuda e busca as causas dessa dificuldade.
Uma delas, tem certeza, foi a leitura obrigatória da escola. "Os livros não me interessaram, como eu acho que não iam interessar a ninguém naquelas mesmas circunstâncias. Nem lembro o nome deles, acho que abortei essa experiência do meu cérebro."
Mas João não abortou a vontade de ter um contato maior com os livros porque acha que eles podem ajudá-lo a não ter medo de ser superficial, de falar besteira, de não saber articular as idéias. "Não quero navegar em palavras para soar inteligente, não tenho medo de dizer algo que pareça burrice, desde que eu saiba me defender." Por isso, ele se incomoda tanto com a facilidade que sente em assistir televisão.
"Não me incomodo se passo três horas vendo sitcom na TV e ainda vejo mais, a televisão acalma as ansiedades. Mas, na hora da leitura, leio três páginas e me dá vontade de fazer outra coisa."
Um dos conselhos que João recebeu para o seu entrave com os livros foi o de começar lendo contos, que são mais curtos. Determinado, escolheu alguns de Rubem Fonseca, um dos mestres do gênero, que ainda por cima é um profundo conhecedor da cultura carioca. "Eu me interessei pra caramba, acho que a questão da identidade com o que ele estava falando foi fundamental."
Mas reclama que não está acontecendo o mesmo com o livro que está lendo para a faculdade, "A Democracia na América", de Alexis de Tocqueville. "É muito interessante, mas tem 500 páginas, eu leio umas 20, 30 e já me desinteresso. Nos contos do Rubem Fonseca, depois das 30 páginas a história já acabou." (FG)


Texto Anterior: Primeiros passos para gostar de ler
Próximo Texto: Cartas: Calouros da medicina da USP detonam a imprensa, e internauta grita pelos seus direitos. Os leitores chiam de todo lado!
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.