São Paulo, Segunda-feira, 17 de Maio de 1999
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SEXO
Sobre a máxima preconceituosa transmitida de pai para filho

ROSELY SAYÃO
especial para a Folha

"Tenho 22 anos, gosto da minha namorada e, quando transamos, é legal, mas não tenho sossego. Há algumas garotas que conheço com as quais eu traio a minha. O problema é que quando vou transar meu pênis não fica muito ereto, gozo rápido, fico tremendo e, na última vez, se minha colega não tivesse dado uma força, não teria conseguido outra ereção e perderia o dia no motel. Há muita garota querendo transar comigo, mas sempre arranjo desculpa por medo de encarar. Como posso transar com outra e ter um boa performance? Sempre uso camisinha, motivo para meu pênis amolecer; não uso com minha namorada, mas sei que devo usar com as outras!"

resposta Você, como muitos que estão sempre de prontidão para o sexo e que as mulheres adoram chamar de garanhão, deve achar que age assim porque a carne é fraca, porque prazer pouco é bobagem, porque ajoelhou tem de rezar, porque homem é assim mesmo e coisa e tal. Mas o buraco é mais embaixo.
Um garoto de 13 anos está suspenso das aulas em uma cidade do interior porque, segundo notícia publicada semana passada, apresenta desvio sexual; é acusado, entre outras coisas, de se masturbar na frente dos colegas. Sabe o que o pai dele disse, segundo a notícia? Que "estimulava seu filho a desrespeitar as meninas, pois do contrário seria chamado de bicha" e "O que falei para ele é o que todo pai fala, que ele tem de ser homem". Pois é assim, mesmo, de modo mais sutil ou mais grosseiro, que nossas crianças e jovens são educados.
Ser homem é ser capaz de papar toda garota, dê ela moleza ou não: essa é a mensagem que passa de pai para filho desde sabe-se quando.
Camisinha é recurso a ser usado com as outras, nunca com a amada, reza a cartilha dos que se acham precavidos e acreditam respeitar esposas e namoradas. E aí chega você e diz que não tem sossego, por isso fica na ânsia de traçar todas. E que não precisa usar camisinha com a namorada, só com as outras. O único problema é que sua cabeça teima e diz não, e por isso seu corpo falha.
Você não tem de se preocupar em ter uma boa performance sexual com todas as mulheres do mundo. Você deve procurar saber qual é a sua em vez de lamentar essa impotência com as "outras" e o dinheiro investido no motel. E mais ainda por imaginar que não precisa usar camisinha com a namorada. Você precisa tentar desaprender tanto preconceito para poder ter escolha na sua vida sexual.


Rosely Sayão, 48, é psicóloga. Se você tem dúvidas sobre sexo, escreva para o Folhateen ou mande mensagem para roselys@uol.com.br


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