São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Pirata de Hollywood

Johnny Depp estrela o filme mais esperado das férias de julho: "Piratas do Caribe 2 - O Baú da Morte", que chega aos cinemas nesta sexta

Divulgação
Esse duelo não é para decidir quem fica com a mocinha; Norrington, Will Turner e Jack Sparrow estão disputando o coração de Davy Jones, o vilão asqueroso


TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Johnny Depp chega atrasado à entrevista de "Piratas do Caribe 2 - O Baú da Morte". A fita explodiu nos EUA com US$ 132 milhões num fim-de-semana e tirou de "Homem-Aranha" o recorde de maior estréia de todos os tempos.
Essa fama de sossegado dele é velha. Pergunto ao diretor Gore Verbinski se é um inferno trabalhar com alguém assim. "Ele nunca chegou atrasado nas filmagens. Mas às vezes pedia que a cena fosse gravada de novo, de novo e de novo, até ficar do jeito que ele queria. Aí atrasava as outras", conta.
"Mas quando ele chega, dá toda a atenção a você, é como se nada pudesse interromper sua linha de pensamento", diz Jerry Bruckheimer, o superprodutor de Hollywood que bancou as maluquices do ator quando os executivos da Disney começaram a ver as primeiras cenas do primeiro filme e a achar que o Capitão Jack Sparrow estava muito gay para um filme voltado para a família média norte-americana.
De repente, uma muvuca de agentes e assessores começa a se formar em uma das salas do hotel Beverly Willshire, em Beverly Hills, e esse é o sinal que faltava: Johnny Depp decidiu, finalmente, se apresentar. "Estou atrasado, mais uma vez. Me desculpe, chegarei cedo no próximo encontro", brinca o ator, vestindo jeans surrado, camiseta preta também surrada, chapéu de feltro cinza, igualmente surrado e cobrindo o cabelo obviamente desgrenhado, colar de prata, vários panos e pedaços de couro amarrados nos punhos. Quando começa a falar, exibe os dentes de ouro do personagem Jack Sparrow, o protagonista de "Piratas 2".
"Você está vestido assim por causa do filme?", pergunto. "Não, só os dentes são de Jack Sparrow, o resto são minhas roupas, as únicas que estavam limpas. E os acessórios são meus filhos que me colocam, então tenho de usar", explica o ator. "Não ligo para roupas, visto a primeira coisa que aparece e, se o cabelo está muito bagunçado, boto um chapéu. Gosto de chapéus", completa ele.
O longa que ele acaba de filmar é a primeira continuação do sucesso inesperado de "Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra" ("Piratas 1" daqui pra frente, combinado?), que em 2003 estreou como um filme menor da Disney, para crianças, baseado em uma atração da Disneylândia, mas que, para surpresa geral, agradou o mundo inteiro e arrecadou US$ 600 milhões nos EUA.
Aí, resolveu-se que o filme teria não apenas uma, mas duas seqüências, que seriam filmadas ao mesmo tempo, cada uma com mais de US$ 220 milhões de orçamento. O terceiro "Piratas" ainda não foi concluído.
Grande parte do sucesso do filme aconteceu por causa do jeito irreverente, sexy e debochado com que Johnny Depp encarnou o Capitão Jack Sparrow, um pirata decadente, beberrão e sem um pingo de vergonha na cara inspirado em vários desenhos animados e em Keith Richards. Grande amigo de Johnny Depp, aliás, o guitarrista dos Rolling Stones vai participar do terceiro filme como o pai de Jack Sparrow. "Se a gente conseguir mantê-lo longe dos coqueiros até lá", brinca o diretor Verbinski, sobre a queda do guitarrista de uma dessas árvores em abril.
Jack é um pirata diferentão, mas que sabe exatamente o que quer e o que não quer da vida. Muito como Depp, que sempre viveu como um outsider na indústria de cinema, evitando os papéis de galã ou os filmes de ação que fizeram a fama e a fortuna dos Tom Cruise e Brad Pitts da vida. "Quero sossego, calma, felicidade, liberdade, diversão, tempo livre", afirma Depp. Difícil ver uma frase tão hippie saindo da boca de um galã de Hollywood.
Pense nos filmes que ele já fez. Não tem um certinho, uma comédia romântica baba.
Suas escolhas na vida foram sempre tão excêntricas que só agora, aos 43 anos, Depp virou personagem principal de uma franquia que promete ser uma das mais bem-sucedidas da história dos estúdios Disney. "Estou achando tudo muito engraçado, até me ver como boneco, ou em caixas de cereais. Adoro esse personagem, senti falta dele. Me vejo fazendo Piratas 9, 10, 11, sem problemas. É como se eu tivesse conquistado um território inimigo".
E sobre aquele papo de Jack Sparrow ser meio gay? "Ele não é gay, mas sabe como é, um bando de marmanjos no mar por muito tempo, bebendo o tempo todo, uma hora rola alguma coisa", explica, rindo.


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