São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Música

O homem que derreteu

Em 1967, Syd Barrett saiu numa viagem interestelar que só acabou há dez dias, com sua morte aos 60 anos

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

De todos os grandes mitos do rock, nenhum causou tanta curiosidade como Syd Barrett, o incrível homem que derreteu. Morto há dez dias, provavelmente em decorrência de diabetes, ele foi o responsável pelos mais altos níveis de psicodelia já alcançados na música, guiando o seu Pink Floyd entre 1965 e 1967.
Foi o suficiente para que o álbum "The Piper at the Gates of Down" (1967) e um par de singles (leia quadro ao lado) colocassem o rock numa jornada interestelar e progressiva que duraria uma década, até a chegada do punk em 1976/77.
Mas ele mesmo não agüentou a bad trip. Foi tanto LSD no cérebro que se viu demitido da banda em 1968 e nunca mais conseguiu juntar dois acordes de forma, digamos, profissional. À época, Barret se comportava de forma estranha nas entrevistas e subia ao palco e para não tocar uma nota sequer.
Ele chegou a lançar dois discos em 1970, um em janeiro, "The Madcap Laughs", e outro em novembro, "Barrett". Em 1988, o culto pelo artista fez sua gravadora lançar sobras de estúdio no álbum "Opel".
Mas o o que se ouve nos três álbuns são semicanções: Barret tocando violão e cantando suas músicas, que seriam depois completadas por outros músicos, com o auxílio dos velhos companheiros do Floyd.
David Gilmour, o guitarrista que o substituiu na banda, produziu algumas dessas faixas. "Algumas tinham um potencial fantástico. Mas era difícil encontrar uma técnica de trabalho que funcionasse. Você tinha que pré-gravar as canções sem ele, a partir de uma demo, e depois sentá-lo na frente do microfone e tentar fazê-lo cantar e tocar em cima. Outra possibilidade era deixá-lo tocar sozinho e depois tentar incluir todos os outros instrumentos em cima", disse Gilmour.
Segundo o guitarrista, "o conceito dele tocando junto com um grupo de músicos era claramente impossível porque ele mudava a canção a cada tomada. Eu acho que deliberadamente ele nunca tocava a mesma coisa duas vezes".
No início dos anos 70, Barret reassumiu seu primeiro nome, Roger, e voltou para casa de sua mãe em Cambridge, onde viveu recluso até dez dias atrás.


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